Uma situação real
Minha carreira como professor de Ginástica Coletiva começou em 1972 no Círculo Militar de São Paulo, já tinha experiência em ministrar aulas para crianças – educação física escolar, iniciação esportiva (basquetebol) e atuar como professor universitário na Escola de Educação Física da USP. Adquiri muita experiência prática associada à minha formação acadêmica, estudei fora do país e fiz o mestrado; no início dos anos 80 já acumulava 17 anos de vivência como professor no ensino escolar, universitário e no esporte-performance, além de ministrar aulas em cursos de pós-graduação, extensão universitária em congressos no Brasil.
Em 1984 fui convidado, por um ex-aluno de basquetebol, para ajudá-lo na organização e treinamento dos professores de uma academia que havia montado. Me lembro das palavras dele:
Professor Mauro, estou começando um novo negócio – uma academia de ginástica, e não quero fazer de forma errada. Conheço o seu trabalho, quero convidá-lo para me ajudar e, se possível, ser meu sócio”.
Esta é a minha estória, um breve resumo das mudanças que ocorreram na minha vida profissional; sempre acostumado a ensinar, de repente estava numa situação de, além de ministrar aulas na academia – que era a minha expertise, tinha que organizar uma equipe de professores, treiná-los, fazer seleção… enfim, assumir funções como um Diretor Técnico, ser um líder. Realmente foi um grande aprendizado, conciliar funções técnicas com administrativas e fazer uma interação com as demais áreas da academia – administrativa, financeira e de marketing.
Esta experiência de sucesso permitiu que, passados alguns anos, assumisse o cargo de Diretor Técnico de uma outra academia, onde permaneci por 5 anos; estabeleci um excelente relacionamento com as demais áreas e a minha experiência foi decisiva para sairmos de 980 alunos, quando cheguei, para 3580 alunos quando saí, encerrando o meu ciclo no mundo corporativo. Um detalhe: sempre foquei o meu trabalho nos aspectos técnicos – desenvolvimento de programas de treinamento, modelos de aulas, inovação e, principalmente, na formação pessoal e técnica dos professores.
Essas experiências práticas permitiram que, ao sair do mundo corporativo, abrisse meu próprio negócio – o Instituto Mauro Guiselini, um Studio de atendimento personalizado e pequenos grupos, um novo aprendizado pois todo o funcionamento técnico, pedagógico e administrativo dependia somente de mim. Consegui sobreviver, bem pequeno, sem muitas pretensões.
Os perigos das mudanças nas funções e cargos
É muito comum no mundo corporativo, em especial nas academias, universo que transito desde os anos 80, um fato muito interessante, que vou relatar a seguir: as mudanças nas funções e cargos dos profissionais que atuam nas academias, talvez isso aconteça em outras empresas.
Vamos ver o “provável ciclo de uma carreira” do Profissional de Educação Física que atua nas academias e locais com atividades similares:
A figura 1 mostra os vários estágios, as mudanças que podem ocorrer ao longo do tempo, na carreira de um profissional que escolheu ser um profissional de Educação Física que atua nas academias ou em instituições com as mesmas características e propósitos.
Um excelente estagiário, que demonstra competências, conhecimentos técnicos e atitudes, muito rapidamente é promovido a professor. Pelas suas competências (lembra da sigla CHAMA?), se torna um profissional diferenciado: as suas aulas coletivas estão sempre “cheias”, quando se ausenta cria um problema para o substituto, atende de forma diferente os alunos na sala de musculação, domina muito bem a arte de atender com acolhimento, mantém a conectividade de forma ideal, inclusive aprende o nome dos alunos.
Esta raridade, aos olhos dos proprietários, ou mesmo do diretor técnico, demonstra “aparentemente” todas as competências para que seja promovido ao cargo de “coordenador técnico ou mesmo gerente da área”, dependendo da organização da empresa e os gestores logo imaginam:
Opa! Finalmente conseguimos um novo talento, vai resolver o nosso problema de gestão técnica/administrativa.
Puro engano…
Mas o que aconteceu com o excelente professor?
Aquele excelente professor de aula coletiva ou da sala de musculação, elogiado por todos, pelas suas competências técnicas e pessoais (enquanto professor!) foi um desastre! Realmente não conseguiu o sucesso esperado, o que realmente aconteceu?
É muito importante entender que existem competências específicas para quem assume um cargo/função que, acima de tudo, tem que ser um líder, administrar egos, orientar, aconselhar, conhecer aspectos administrativos, interagir com outras áreas, enfim, são inúmeras competências além daquelas necessárias para ministrar aulas – que depende somente de você.
Excelentes professores fracassam como líder!
Infelizmente esta é uma realidade, pois a mudança é muito grande; ser um gestor – coordenador, gerente e, até mesmo diretor – requer um novo aprendizado, não só sob o ponto de vista técnico, como também pessoal. É necessário um árduo treinamento e, em muitos casos, uma mudança nas características pessoais, o que para muitos é muito difícil, diria…impossível! Não vai dar certo, não é um líder, não consegue encantar a sua equipe.
E agora… Virei dono!
Muito similar à linha de pensamento que apresentei acima: as mudanças de professor para Coordenador/Gerente/Diretor e a necessidade de um novo e grande aprendizado, ir para um novo patamar profissional – ser dono do próprio negócio é realmente muito, muito, muito mais difícil.
Em princípio, a formação do profissional de Educação Física tem uma carga muito grande nos fundamentos fisiológicos, biomecânicos e pedagógicos – a formação básica é para dar aulas no segmento escolar ou atuar, mais recentemente, como profissional na área do Fitness e Wellness – Personal Trainner, professor de musculação, fisiologista, avaliador físico, entre outras atividades profissionais.
Discute-se muito hoje a necessidade de maiores conhecimentos nas áreas de MKT, Empreendedorismo, Marketing Digital, Administração Esportiva, Inteligência Emocional, Técnicas de Liderança, Finanças, Métodos e Técnicas de Venda, Inovação…enfim, uma grande quantidade de informações que são necessárias para o “jovem empreendedor” adquirir o tão desejado conhecimento do negócio que, por sua vez depende da vivência prática para que tenha SUCESSO.
O fato de ser um bom professor ou mesmo gerente ou diretor técnico não garante o sucesso como “dono do seu negócio”; o mundo corporativo mudou; na área do Fitness e Wellness não foi diferente. Tudo indica que não tem mais lugar para amadores. Mesmo ser dono de um “pequeno negócio” requer o desenvolvimento de muitas competências, uma visão mercadológica muito atual.
Se você não está preparado para mudanças, novos aprendizados, não se meta a ser empresário…as chances de fracasso são muito grandes, pois requer muita determinação, foco e, principalmente humildade para novos aprendizados.
É muito importante entender que o perfil de um professor é muito diferente de um empreendedor – um não é melhor ou pior do que o outro, são competências diferentes que devem ser analisadas e, aquelas que estão em falta, devem ser desenvolvidas.