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Sedentarismo, saúde e longevidade

Colunista: Mauro Guiselini

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Viver mais tempo pode ser muito bom ou não, pois depende, principalmente do estilo de vida; é o que a ciência vem mostrando há muito tempo. Isto significa que a longevidade – o tempo de vida longo – propicia o desenvolvimento de inúmeros problemas de saúde que tornam a vida difícil, diminuem a autonomia, independência, comprometem a funcionalidade e, em muitos casos, provocam a morte prematura.

O estilo de vida que levamos é o principal responsável para atingirmos idades mais avançadas, 70 a 80 anos ou mais, do modo mais saudável possível. Ele representa 50 % dos fatores envolvidos nesse objetivo. Os outros 50% estão divididos entre meio ambiente (lugar em que vivemos e nossa adaptação a ele), hereditariedade (a carga presente nos nossos genes, relativa à longevidade e outros antecedentes familiares) e condições de assistência médica (qualidade e frequência de cuidados médicos) (GUISELINI, 2006).

Gráfico 1. Influência de diferentes fatores no tempo de vida (GUISELINI, 2006)

Estudos demonstram que o ser humano está preparado para viver mais de 100 anos, mas dificilmente consegue chegar aos 80, muito embora seja marcante o aumento da longevidade no mundo. Pode ter 50 anos de idade cronológica e a idade biológica de um indivíduo de 35 ou 60 anos. Tudo depende do estilo de vida adotado.

O que é o “estilo de vida”

Algumas definições de “estilo de vida”:

  • Estilo de vida são padrões de comportamento ou modo que o indivíduo tipicamente vive (CORBIN, 1994).
  • Conjunto de ações habituais que refletem as atitudes, os valores e as oportunidades das pessoas (NAHAS, 2001).

Segundo o Dr. Walter Bortz da Stanford University, o corpo humano tem capacidade de viver 120 anos. Ele argumenta que, ao abusarmos dessa máquina maravilhosa, criamos condições para que a morte chegue antes dos 70. O excesso de fumo, álcool, alimentos gordurosos, estresse emocional e a falta de exercício físico regular – sedentarismo, são hábitos praticados pela grande maioria das pessoas e fazem parte do estilo de vida do homem moderno.

Por essas razões, as doenças do coração e o câncer de pulmão são chamadas, por alguns especialistas, de doenças de escolha, pois inúmeras pesquisas têm demonstrado uma estreita relação entre estilo de vida inadequado e a incidência das referidas doenças.

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Doenças Hipocinéticas

É um termo usado para designar as doenças relacionadas à falta de exercício regular: hipo = pouco; cinética = movimento. De acordo com Meyer e Merlovicks (1985), as doenças hipocinéticas são encontradas com maior frequência entre os sedentários e obesos. Enfermidades como doenças coronarianas, pressão alta, alto nível de gordura corporal, diabetes tipo 2, problemas nas articulações de região lombar, osteoporose e sarcopenia são algumas das chamadas doenças hipocinéticas.

Os efeitos do exercício na saúde

 Há provas de que a atividade física diminui o risco de desenvolvimento prematuro de muitos problemas de saúde, incluindo aterosclerose, dores lombares, alguns tipos de câncer, doença pulmonar crônica, doença coronariana, diabetes, hipertensão, problemas mentais, obesidade, osteoporose e acidente vascular cerebral (HOWLEY & FRANKS, 2008).

Um estilo de vida saudável também está relacionado à estimativa de qualidade de vida prolongada, independência para idosos e pessoas portadoras de necessidades especiais bem como o seu efeito terapêutico na redução dos efeitos deletérios do sedentarismo.

Em 1996, o Surgeon General Report on Physical Activity and Health reviu os indícios que relacionam a atividade física a riscos de problemas de saúde, tendo chegado à conclusão de que a atividade física reduz os riscos de câncer de colo, doença coronariana, diabetes não dependente de insulina, hipertensão, obesidade, osteoporose e mortalidade em geral, assim como melhora a saúde mental.

Dois dos maiores estudos populacionais coletaram dados suficientes a fim de analisar diferentes níveis de atividade física e de condicionamento cardiorrespiratório para determinar os riscos relativos de doença cardíaca e de mortalidade em geral. Parece que tanto o comportamento (atividade física) quanto o resultado (condicionamento cardiorrespiratório) ajudam a reduzir os riscos de doenças cardíacas (BLAIR et al, 1989; PAFFENBERG et al, 1986).

Segundo os estudos citados, existe uma relação entre o nível de atividade física ou de condicionamento físico e o risco de doença coronariana (DC). Há redução substancial do risco quando o indivíduo passa do nível mais baixo para outro um pouco mais alto. Esses estudos também mostram benefício adicional em função de níveis de atividade e de condicionamento mais elevado.

Posicionamento do ACSM

Com base nesse e em outros estudos, o American College of Sports Medicine (ACMS), o President’s Council on Physical Fitness and Sports (PCPFS)  e os Centers for Disease Control and Prevention (CDCP) lançaram uma declaração de posicionamento suplementar à publicada antes pelo ACSM e proclamaram que indivíduos sedentários podiam reduzir muito o risco de desenvolvimento de doenças cardíacas, diabetes tipo 2 e outros problemas de saúde apenas pela prática de 30 minutos de atividade física de intensidade moderada quase todos – preferencialmente todos – os dias da semana. Benefícios adicionais de condicionamento físico podem surgir quando a pessoa vai além dos 3 a 5 dias semanais de vigorosa atividade aeróbia especificados na declaração original do ACSM. (PATTE et al, 1995).

O estilo fisicamente ativo aumenta a qualidade de vida. A participação regular em atividades físicas de intensidade moderada diminui o risco de doenças cardíacas, assim como de outras moléstias. O exercício regular vigoroso reduz o risco de doenças e aumenta o condicionamento cardiorrespiratório.

Exercício e prazer

Exercitar-se de forma prazerosa, com sucesso, é um fator fundamental para manter as pessoas motivadas, pois experiências negativas podem fazer com que elas abandonem a prática.

Muitos adultos, que não tiveram sucesso nas aulas de Educação Física durante a sua infância por estarem “gordinhos” ou lentos, ou com dificuldades motoras, ou por não gostarem de futebol de salão ou de determinada modalidade esportiva, ou mesmo porque o exercício físico foi usado como castigo – isso acontecia nas forças armadas e em algumas instituições de reeducação infantil – ficaram com uma imagem muito negativa do exercício e muito difícil de ser apagada por serem experiências muito dolorosas.

Para muitas pessoas, o fato de estarem “gordinhas”, mal condicionadas, com pouca massa muscular, faz com que não se sintam capazes de iniciar um programa de condicionamento físico, pois não fazem parte da turma que tem um corpo forte, bonito, sem gorduras e musculoso; acreditam que nunca serão capazes de conseguir tal proeza e acabam se excluindo, dando a velha desculpa “não tenho tempo…”. (GUISELINI, 2006)

Parece que, para se exercitar, é necessário ser bonito, forte e, acima de tudo, desocupado, ter muito tempo livre para se ocupar com o exercício. Esse é um sentimento errado, pois, provavelmente, para muitas pessoas o maior problema é realmente o não gostar de se exercitar.

Motivação para o exercício

A motivação para o exercício, bem como a permanência na prática, é uma difícil tarefa para os organizadores dos programas de condicionamento físico. Para envolver as pessoas, faz-se necessário organizar um programa simples, que favoreça facil­mente a participação e a permanência das mesmas (aderência), sendo que, para isso acontecer, devem ser observados os seguintes passos:

  • Elaborar um programa de exercícios que se adapte aos objetivos e às necessidades das pessoas.
  • Envolver as pessoas no programa de tal forma que recebam uma boa orientação sobre avaliação física, prescrição de exercícios, acompanha­mento e reavaliação.
  • Criar nas pessoas uma atitude saudável em relação à prática do exercí­cio; isto inclui a frequência, intensidade e duração.
  • Contar com professores que tenham uma atitude adequada (acolhedor, motivador, carismático, por exemplo), pois um dos principais fatores de permanência é o relacionamento professor-aluno, principalmente em re­lação à confiança que o aluno deve ter no professor.
  • Informar frequentemente as pessoas sobre os benefícios da prática regular do exercício físico que ocorrem ao longo da vida, principalmente no pro­cesso de envelhecimento, no qual ocorre a diminuição do condiciona­mento físico, decorrente da idade, que é muito menor entre os indivíduos ativos.

Sedentarismo, Atividade Física e Longevidade

Inúmeras pesquisas demonstram claramente que atividades físicas leves e moderadas, realizadas regularmente, têm um grande efeito na sua saúde. Uma pesquisa realizada com aproximadamente 17.000 estudantes da universidade de Harvard, com idade entre 35 e 79 anos, que foram controlados por 16 anos, mostrou que aqueles que gastaram pelo menos 2.000 calorias por semana com exercício estenderam sua vida em quase dois anos.

Outro estudo recente, realizado pelo Cooper Institute for Aerobics Research, em Dallas, Texas, acompanhou 13.000 pessoas por mais de oito anos. Os resultados mostraram que os homens sedentários morriam a uma taxa de 3,5 vezes mais alta do que os moderadamente ativos e as mulheres sedentárias a uma taxa 4,5 vezes mais alta. A boa notícia é que você não necessita se exercitar vigorosamente para colher os benefícios do exercício!

Gráfico 2. Atividade Física e Longevidade (Paffenbarger et al, 1996)

O desafio dos programas de treinamento

As academias, studios, personal trainers, enfim, todos aqueles envolvidos na elaboração e gestão dos programas de treinamento têm um grande desafio: conseguir que as pessoas efetivamente se envolvam e permaneçam se exercitando regularmente.

Apesar da ciência mostrar a eficácia do exercício regular, os meios de comunicação divulgarem, os profissionais da área da saúde comprovarem a importância e a necessidade da prática regular do exercício físico para a promoção da saúde & bem-estar, mudanças na estética corporal, entre outros benefícios, continuamos com uma pequena parcela da população brasileira se exercitando em academias.

Considerando que a grande maioria que inicia um programa de treinamento tem como principais objetivos a saúde e bem-estar, estética (diminuir gordura, aumentar massa muscular) e condicionamento físico, recomendamos que eles considerem três aspectos primários (GUISELINI, 2006):

  1. O programa de treinamento deve ser eficaz: as pessoas desejam melhorar os níveis de aptidão física. Se, depois de algum tempo, não observarem resultados concretos, como por exemplo, melhorar a capacidade aeróbica, diminuir gordura, aumentar a massa muscular, poderão perder as crenças, desinteressar-se e desistir do programa.
  2. O programa de treinamento deve ser “gostoso, prazeroso”: as pessoas querem sentir-se bem durante os exercícios, fazer porque gostam. Uma aula alegre, ministrada por professores carismáticos, entusiasmados, motivadores, atenciosos, com energia positiva, é importante para tornar o programa gostoso de fazer. Descobrir quais exercícios são os mais eficazes – a eficácia do exercício está relacionada com as mudanças psicofísicas.
  3. O programa deve ajudar na estética: muitas pessoas não estão contentes com o corpo… ousamos dizer que praticamente todos têm algo para mudar; querem mudar ou porque estão gordos, ou com pouca massa muscular, ou com as pernas finas, ou com muita barriga, ou braços finos…! Desejam muito mudar a estética, mostrar para si mesmo e para a sociedade um novo corpo. Essa não aceitação do corpo, que na realidade é uma alteração na imagem corporal, deve ser transformada, ou seja, o programa deve, ao mesmo tempo, modificar a aparência física e ajudar o aluno aceitar o próprio corpo. Essa é uma tarefa difícil, pois envolve aspectos emocionais (GUISELINI, 2006).

Temos um grande desafio pela frente!

Motivar as pessoas a iniciarem um programa de treinamento, saírem do sedentarismo, incluir o exercício como um hábito saudável, parece que estamos lentamente conseguindo, porém… o grande desafio a ser vencido é fazer com que as pessoas continuem se exercitando regularmente.

Fica aí o nosso desafio como Profissionais da Saúde: temos que ir além da mitocôndria, precisamos chegar na essência do ser humano, entender que existe uma psicobioenergética, que somos holossomáticos e que o exercício bem orientado por profissionais competentes conseguirá vencer esse desafio.

Sugestões de leitura

AMERICAN COLLEGE OF SPORTS MEDICINE. ACSM´S guidelines for exercise testing and prescription. Baltimore: Williams & Wilkins, 2000.

AMERICAN COUNCIL ON EXERCISE. Personal trainer manual: the resource for fitness instructor. San Diego, CA, 1992.

GUISELINI, M.A. Aptidão Física, Saúde e Bem-Estar. Editora Phorte. São Paulo, 2006.

PAFFENBERGER, R.S. & OLSEN, E. Life fit: an effective exercise program for optimal health and a longer life. Human Kinectis, Illinois. 1996.

POWERS, S. K. & HOWLEY, E. T. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento físico e ao desempenho. 3a ed. São Paulo: Manole, 2000.

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