Uma discussão muito frequente entre os profissionais de Educação Física que trabalham como professores de aulas coletivas, de musculação e treinamento personalizado, diz respeito à grande dúvida: o que fazer primeiro, alongar ou aquecer?
Esta pergunta é motivo de muita discussão, controvérsia e uma grande dúvida para muitos! Eu já havia abordado o tema em um outro artigo e volto agora para esclarecer alguns outros pontos, uma vez que o tema é vasto e não pode ser esgotado em um único artigo.
Aquecimento ou preparação para o movimento
O aquecimento é uma fase importante do treinamento e é entendido como a elevação da temperatura corpórea, aumento do fluxo de sangue para os músculos (maior disponibilidade de oxigênio), a velocidade dos impulsos nervosos, diminuição da viscosidade intramuscular (melhor deslizamento das fibras musculares), aumento da produção do líquido sinovial (melhor funcionamento das articulações), aumento da entrega de oxigênio e substratos para os músculos em ação enquanto remove os produtos de excreção e a liberação de oxigênio, hemoglobina e da mioglobina. O alongamento faz parte do aquecimento, mas não o substitui (Barbanti, 2010).
Professores, preparadores físicos e técnicos frequentemente confundem o conceito do desenvolvimento da flexibilidade e aquecimento. No entanto, a flexibilidade é uma capacidade biomotora importante para a prevenção de lesões à longo prazo; trabalhar a flexibilidade estática não é importante ou mesmo necessário ser trabalhada no aquecimento e pode, inclusive, ser contraproducente, muito embora, na literatura, encontremos profissionais que utilizam o alongamento ativo estático no início da sessão de treinamento.
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Alongamento
Para acabar com a confusão entre os conceitos de flexibilidade e alongamento: flexibilidade é uma capacidade biomotora e alongamento é o nome dado a diferentes técnicas de movimento que, entre vários objetivos, é utilizada para desenvolver a flexibilidade.
Diversos estudos apontam que o alongamento estático tem efeitos reversos: ele pode diminuir o desempenho na força, velocidade e atividades de potência. Os saltos em profundidade, os quais são excelentes práticas para melhorar a potência, têm uma redução significativa no desempenho quando realizados após o alongamento estático. As pesquisas que estudam o desempenho da força e potência em seguida do alongamento estático têm demonstrado uma diminuição de até 30% (Smith, 1994, Nelson et al, 2001, Nelson et al, 2005, Comeau, 2004).
Uma razão para muitos utilizarem o alongamento estático na fase de aquecimento é o fato de acreditarem que ele pode prevenir lesões nos músculos e tendões. No entanto, as pesquisas recentes indicam que o alongamento estático antes de um treino ou jogo/competição não apenas tem um benefício mínimo para a prevenção de lesões, como também aumenta a chance de ter um rendimento prejudicado.
As causas das lesões nas atividades cotidianas e esportivas são múltiplas; a flexibilidade é somente uma capacidade que pode, provavelmente, reduzir as probabilidades de lesões. Fadiga, volume de exercício são fatores que têm sido indicados como fatores que predispõe a lesões musculares.
Considerações finais
É importante compreender os conceitos de aquecimento, flexibilidade/mobilidade e técnicas de alongamento e como utilizá-las na elaboração do aquecimento. Assim, as técnicas de alongamento fazem parte integrante do aquecimento e a escolha da técnica é de responsabilidade do profissional à frente da sessão de exercícios. Entretanto, é conveniente lembrar que não é objetivo específico da fase de aquecimento o ganho significante da flexibilidade/mobilidade; estas capacidades biomotoras devem ser desenvolvidas de forma específica em outro momento da sessão de treinamento.
Referências Bibliográficas
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