Ninguém pode fazer com que você se sinta inferior sem o seu consentimento.
Eleonor Roosevelt
Quando se ouve a palavra “assédio” em um ambiente de trabalho, o que vem à mente das pessoas de uma maneira geral é o assédio sexual. No entanto, outro tipo de assédio, tão antigo quanto o trabalho, é o assédio moral. Chamar a atenção das pessoas em frente aos outros, colocar as pessoas em situações humilhantes com “xingamentos” em tom irônico, estipular metas inalcançáveis, tratar de maneira diferenciada um colaborador enquanto privilegia outros, negar folgas e emendas de feriado a alguém específico e de forma recorrente e colocar apelidos de tom pejorativo no empregado, podem configurar o assédio moral.
O que fica mais bem evidenciado no assédio moral é a repetição destas atitudes que tornam o ambiente de trabalho insustentável para o colaborador. Normalmente, estas atitudes de constrangimento causam danos psicológicos e morais e atingem os direitos pessoais do indivíduo como a honra, a liberdade, a intimidade e a imagem, podendo acarretar danos físicos, porque, dependendo do nível de sofrimento psicológico, é comum aparecerem doenças. Um bom exemplo disso é o estresse físico e emocional, onde o empregado demonstra desânimo e falta de criatividade. Em se tratando de desempenho, o fator mais complicado e que compromete os resultados é que conforme a pessoa se vê obrigada a se desenvolver profissionalmente em função das novas políticas de gestão que exigem mais e mais dos colaboradores, esses distúrbios psicológicos colocam em risco o futuro da pessoa e, consequentemente, da empresa.
Por outro lado, muitos acreditam que se não aceitarem as imposições e pressões psicológicas, correm o risco de perder o emprego. Além dos superiores, são comuns os colegas de trabalho terem atitudes de humilhar seus colegas. Algumas pessoas repetem a atitude do chefe ou ficam em silêncio quando veem uma situação dessas, por puro medo de ter que passar pelo mesmo constrangimento ou, simplesmente, o risco de perder seu emprego. Vale lembrar que os gestores também sofrem pressão toda vez que são imbuídos da missão de atingirem metas cada vez mais agressivas, transmitindo essa angústia para a equipe e até para a família. O problema é estrutural nas empresas e, neste sentido, vale pensar em investir num programa de gestão de pessoas para proporcionar, ao corpo de colaboradores, maior equilíbrio emocional e mais discernimento em administrar suas expectativas em relação aos resultados.
Uma das principais causas do assédio é o desejo do empregador em demitir o empregado. Para não arcar com os custos de uma demissão sem justa causa, o empregador busca criar um ambiente insustentável na expectativa de que o empregado acabe pedindo demissão.
Em se tratando do mercado de fitness, muitas pessoas sofrem com as expectativas das empresas que, na grande maioria, cobram do profissional uma conduta e aparência “saudáveis”. De modo geral, entre as pessoas que mais sofrem este tipo de pressão são os profissionais que adoecem frequentemente, os de meia-idade, os que possuem salários altos, os que estão “fora de forma” e gestantes. É fácil entender: se alguém está isolado dos demais, exposto a situações de humilhação onde sua palavra não tem valor ou poder de decisão, propenso a doenças ou forçado a pedir demissão, pode ser caracterizado como alguém que está sofrendo assédio moral. Para identificar quem está cometendo o assédio (gestor ou não) basta observar se essa pessoa procura inferiorizar, amedrontar, menosprezar, difamar, ironizar, “dar risinhos”, chamar de incompetente ou algo parecido ou mesmo vangloriar-se diante dos outros apontando um erro ou falha.
O Brasil ainda não possui regulamentação jurídica específica, mas o assédio moral pode ser julgado por condutas previstas no artigo 483 da CLT. Na prática, os tribunais trabalhistas reconhecem o assédio quando caracterizado e comprovado por testemunhas, levando aos empregadores a pagarem indenizações elevadas.
De maneira geral, as empresas precisam preparar-se para orientar bem sua equipe acerca de situações constrangedoras e criar procedimentos para evitar qualquer atitude que se configure em assédio moral: criar regulamento interno de condutas que passe pelo crivo de aprovação de um advogado, avaliar a situação em parceria com a área de recursos humanos e gestão de pessoas, CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes), SESMT (Serviço Especializado em Engenharia de Segurança e em Medicina do Trabalho), reeducar o agressor e, caso não seja possível, adotar medidas disciplinares a ele e oferecer apoio ao funcionário assediado.
O que vale lembrar é que exigências profissionais, conflitos, más condições de trabalho (falta de espaço, por exemplo) e feedback “acalorado” não são configurações de assédio moral que, por sua vez, precisam ocorrer repetidas vezes e por um período prolongado.
O que não se pode fazer é confundir o assédio moral com situações corriqueiras e isoladas do dia a dia, como uma “bronca” do chefe, por exemplo.
Pressão faz parte das rotinas de trabalho, senão seria apenas diversão! Mas fique atento ao menor sinal de desconforto emocional e converse com o seu chefe.
Para entender melhor o assédio moral
Entenda um pouco mais sobre o assédio moral com esse resumo retirado do site da Universidade Federal de Santa Catarina:
Alguns objetivos do assédio moral
- Desestabilizar emocional e profissionalmente o indivíduo;
- Pressioná-lo a pedir demissão;
- Provocar sua remoção para outro local de trabalho;
- Fazer com que se sujeite passivamente a determinadas condições de humilhação e constrangimento, a más condições de trabalho etc.
Tipos de assédio moral
- Vertical descendente – do chefe para o funcionário (mais comum).
- Vertical ascendente – do funcionário para o chefe.
- Assédio organizacional – a empresa pressiona um departamento (straining).
- Horizontal – entre pessoas do mesmo nível hierárquico.
Exemplos de assédio moral
- Não transmitir informações úteis para a realização de tarefas.
- Contestar sistematicamente as decisões da vítima.
- Criticar seu trabalho de forma injusta ou demasiada.
- Privar a vítima de acessar seus instrumentos de trabalho: telefone, fax, computador etc.
- Retirar o trabalho que normalmente lhe compete e dar permanentemente novas tarefas.
- Atribuir proposital e sistematicamente tarefas inferiores ou superiores às suas competências.
- Pressionar a vítima para que esta não exija seus direitos.
- Agir de modo a impedir ou dificultar que a vítima obtenha promoção.
- Causar danos em seu local de trabalho.
- Desconsiderar recomendações médicas.
- Induzir a vítima ao erro.
- Retirar da vítima a sua autonomia.
- Interromper a vítima com frequência.
- Não conversar com a vítima, tanto os superiores hierárquicos quanto os colegas.
- Comunicar-se unicamente por escrito.
- Recusar contato, inclusive visual.
- Isolar a vítima do restante do grupo.
- Ignorar sua presença, e dirigir-se apenas aos outros.
- Proibir que colegas falem com a vítima e vice-versa.
- Recusa da direção em falar sobre o que está ocorrendo.
- Fazer insinuações desdenhosas.
- Fazer gestos de desprezo para a vítima (suspiros, olhares, levantar de ombros, risos, conversinhas etc.).
- Desacreditar a vítima diante dos colegas, superiores ou subordinados.
- Espalhar rumores a respeito da honra e da boa fama da vítima.
- Atribuir problemas de ordem psicológica.
- Criticar ou brincar sobre deficiências físicas ou de seu aspecto físico.
- Criticar acerca de sua vida particular.
- Zombar de suas origens, nacionalidade, crenças religiosas ou convicções políticas.
- Atribuir tarefas humilhantes.
- Ameaçar a vítima de violência física.
- Agredir fisicamente.
- Comunicar aos gritos.
- Invadir sua intimidade, por meio da escuta de ligações telefônicas, leitura de correspondências, e-mails, comunicações internas etc.
- Seguir e espionar a vítima.
- Danificar o automóvel da vítima.
- Assediar ou agredir sexualmente a vítima por meio de gestos ou propostas.
- Desconsiderar os problemas de saúde da vítima.
Exemplos de frases que configuram o assédio moral
- “Você é mesmo difícil… Não consegue aprender as coisas mais simples! Até uma criança faz isso… Só você não consegue!”
- “É melhor você desistir! É muito difícil e isso é para quem tem garra! Não é para gente como você!”
- “Não quer trabalhar… fique em casa! Lugar de doente é em casa!”
- “A empresa não é lugar para doente. Aqui você só atrapalha!”
- “Seu filho vai colocar comida em sua casa? Não pode sair! Escolha: ou trabalha ou toma conta do filho!”
- “Você é mole… frouxo… Se você não tem capacidade para trabalhar… Então por que não fica em casa? Vá para casa lavar roupa!”
- “Não posso ficar com você! A empresa precisa de quem dá produção, e você só atrapalha!”
- “É melhor você pedir demissão… Você está doente… está indo muito ao médico!”
- “Para que você foi ao médico? Que frescura é essa? Se quiser ir para casa de dia… tem de trabalhar à noite!”
- “Ah… essa doença está muito boa para você! Trabalhar até às duas e ir para casa. Eu também quero essa doença!”
- “Não existe lugar aqui para quem não quer trabalhar!”
- “Se você ficar pedindo saída eu vou ter de transferir você de empresa/de posto de trabalho/de horário…”
- “Como você pode ter um currículo tão extenso e não conseguir fazer essa coisa tão simples?”
- “Você me enganou com seu currículo… Não sabe fazer metade do que colocou no papel.”
- “Vou ter de arranjar alguém que tenha uma memória boa para trabalhar comigo, porque você… esquece tudo!”
- “A empresa não precisa de incompetentes iguais a você!”
- “Ela faz confusão com tudo… É muito encrenqueira! É histérica! É mal casada!”