Onde existe vida… existe movimento!
E onde existe movimento, existe ritmo, fluência, manifestação de uma forma particular de energia química, mecânica, pessoal, densa e sutil. O movimento do coração, do fluxo sanguíneo, das crianças brincando, das pessoas trabalhando, dos animais, das ondas do mar, da terra em torno do seu eixo e ao redor do sol, dos atletas, nas pistas, quadras, campos, piscina, das pessoas nas academias… (Guiselini, 2006).
Movimento é também deslocamento, mudança, é indicador de atividade, vitalidade, vigor, disposição, alegria, dinamismo. As pessoas que se movimentam são consideradas ativas, pois ocupam parte do seu tempo com movimentos não estruturados, denominados atividades físicas cotidianas e/ou com atividades físicas realizadas no tempo livre como alternativa de lazer; as que se movimentam pouco são consideradas sedentárias.
O termo movimento, definido por Gallahue (2001), é a alteração observável na posição de qualquer parte do corpo. O movimento é o ato culminante dos processos motores subjacentes. Para Newell (1978), movimento é o deslocamento do corpo e membros produzidos como uma consequência do padrão espaço temporal.
Movimentos básicos do corpo humano
A descrição do movimento pode ser difícil em razão da variedade das movimentações do corpo humano. Uma combinação infinita de movimentos ou gestos das articulações pode ser executada; será que um computador de última geração seria capaz de identificar as possíveis combinações de movimento que o corpo humano é capaz de realizar? Talvez sob o ponto de vista biomecânico sim, mas e o componente expressivo? Como realmente a pessoa está se sentido ao realizar aquele mesmo movimento? Como está se expressando? Realmente é impossível ser o mesmo movimento, idêntico, para diferentes pessoas.
Existem seis movimentos básicos, de acordo com Hamil et al (1996), que ocorrem em combinações e variações nas articulações do corpo – flexão/extensão; abdução/adução; rotações (externa/interna). É a partir destes movimentos que são construídos os exercícios que são produzidos pelo sistema musculoesquelético que consiste em três componentes separados, mas muito interdependentes: os ossos, as articulações e os músculos.
O movimento é, portanto, componente primário para a elaboração do exercício físico – o principal meio utilizado nos programas de treinamento para a promoção da saúde e bem-estar, estética, esportes recreacionais e de alta performance.
Conceito de Atividade Física e Exercício Físico
São dois termos que estão interrelacionados, porém conceitualmente diferentes. Nos meios de comunicação e entre as pessoas leigas, existe uma confusão muito grande pois em ambos existe o movimento, porém com significados diferentes: atividade física é exercício, esporte, ginástica? Caminhar é atividade física ou exercício físico? Lavar o carro, levar o cachorro para passear é atividade física ou exercício físico? Jogar futebol com os amigos é esporte ou atividade física?
ATIVIDADE FÍSICA, de acordo com Carpensen et.al. (1985), é definida como qualquer movimento corporal, produzido pelos músculos esqueléticos, sendo, portanto, voluntário, e resultando em gasto calórico energético maior do que os níveis em repouso.
Está correto dizer que a grande maioria das pessoas é sedentária porque a inatividade física é o seu comportamento? Podemos dizer que a afirmativa está correta ou não se considerarmos que o nosso corpo “sempre está em atividade física mesmo parado, sentado ou dormindo, pois está gastando calorias para se manter vivo: batimento cardíaco, movimento peristáltico, atividade dos músculos respiratórios”, o famoso metabolismo basal, ou seja, o total de calorias gastas para o funcionamento do corpo em repouso; estamos vivos, portanto, em atividade física não observável. Porém, se consideramos que atividade física é movimento voluntário, observável, podemos considerar o conceito de inatividade física.
O grande desafio dos profissionais da saúde, em especial os da Educação Física, é incentivar, motivar e orientar as pessoas a se exercitarem regularmente, aumentar o gasto calórico, se tornarem mais ativas.
EXERCÍCIO FÍSICO, de acordo com Guiselini (2006), é definido como a prática sistemática de dois ou mais movimentos básicos, realizados para atingir metas/objetivos pré-estabelecidas. É, portanto, um tipo de atividade física considerada estruturada, tem uma classificação específica de acordo com a fonte de energia predominante para a sua realização (aeróbia/anaeróbia), quantidade de músculos (isolado ou global), articulações e planos envolvidos (monoarticular/multiarticular, monoplanar/multiplanar), efeito produzido nos sistemas envolvidos (localizado, geral, combinado), objetivos específicos (capacidades biomotoras desenvolvidas – resistência de força, endurance, flexibilidade/mobilidade, entre outras).
Tratamento e treinamento: os princípios são os mesmos
Precisamos conseguir mostrar, por meio da prática bem orientada e informações científicas, a nossa autoridade como profissional da área da saúde, com um atendimento com acolhimento, desenvolver a confiança no nosso aluno/cliente, eles entenderem que um programa de treinamento tem a mesma eficácia do tratamento médico que eles tanto confiam.
O tratamento médico é estruturado para curar ou mesmo prevenir determinadas doenças – as pessoas gastam o que têm e muitas vezes o que não têm para tentar se curar, querem ter saúde, porém, para a grande maioria, infelizmente, não entende que o treinamento tem a mesma função do tratamento: o exercício é considerado, atualmente, um excelente remédio para a prevenção e tratamento de doenças e vai muito além, pois os seus efeitos são multisistêmicos. Ele ajuda no emagrecimento, melhora a aparência física e a autoestima, aumenta a resistência à fadiga, diminui as dores musculoesqueléticas, melhora a qualidade do sono, diminui os gastos com inúmeros remédios e visitas ao médico, enfim, são inúmeros os benefícios de um programa de treinamento bem orientado, a lista de benefícios é realmente muito grande.
As modalidades de Exercício Físico
O exercício físico é o principal meio utilizado nos programas de treinamento, realizado de forma sistematizada, propiciando adaptações morfológicas e funcionais, de acordo com os fundamentos fisiológicos, biomecânicos e princípios de treinamento. Na prática, são realizados utilizando-se o peso corporal, acessórios, máquinas e aparelhos, com auxílio da música e na água. Mais recentemente, são identificados como “modalidades” de exercícios como, por exemplo: Musculação, Step, Cross Training, CrossFit, Calistenia, Zumba, Hidroginástica.
Não existe dúvida quanto aos efeitos do exercício, tanto na prevenção quanto no tratamento de doenças relacionadas ao sedentarismo, entre outras, bem como na manutenção de indicadores de saúde – ter uma bom nível de capacidade funcional é fundamental para a Saúde e Bem-Estar de crianças, adolescentes, adultos e idosos.
Porém, os profissionais do exercício – personal trainers, professores de aulas coletivas, coordenadores de academias – têm um grande desafio: escolher modalidades de exercícios que consigam encantar seus alunos clientes, tornar o “exercício remédio” algo de fácil ingestão. Afinal de contas, ninguém gosta de tomar remédio, tem gosto ruim, efeitos colaterais indesejáveis; talvez, para muitos, é isso que sentem com relação ao exercício: gosto ruim, não gostam de se exercitar!
Associar o exercício com algo prazeroso é, portanto, a nossa tarefa, mostrar para o aluno cliente a sua importância, muitos já sabem ou ouviram dizer, outros tiveram experiências desagradáveis: foram mal atendidos, se machucaram, não tiveram a devida atenção dos profissionais ou mesmo as metas/objetivos não foram alcançadas dentro do prazo esperado. É preciso, nesses casos, mudar esse quadro, mostrar por meio de experiências práticas os reais benefícios da prática de exercícios.
Na realidade, sob o ponto de vista fisiológico e pedagógico, não existe o exercício ou método de treinamento ideal que sozinho consiga alcançar as diferentes metas/objetivos do aluno/cliente; é necessário, em um primeiro momento, identificar as suas preferências por exercícios, as metas/objetivos (prazo esperado para alcançá-los), as necessidades (identificação dos possíveis déficits de movimento e nível da capacidade funcional por meio de testes específicos, qualitativos e quantitativos). Para tanto, um bom diagnóstico é fundamental para o sucesso do programa: uma boa anamnese e uma avaliação multifuncional irão ajudá-los a construir um programa de exercícios de sucesso.
Os Exercícios Básicos x Habilidades Motoras Básicas
É importante esclarecer a relação que existe entre estes dois conceitos: exercício básico e habilidade motora básica. Segundo Guiselini (2006), habilidade motora é definida por Magill (1998) como um “ato ou tarefa que requer movimento e deve ser aprendido para ser executado corretamente”. Uma técnica esportiva é uma habilidade motora. Para Singer (1977), uma habilidade é um “ato específico, um movimento pré-determinado”. Ela é desenvolvida por meio da prática e depende de capacidades subjacentes.
Uma habilidade motora fundamental básica, para Gallahue e Donelly (2008) é uma série organizada de movimentos básicos que implica a combinação de padrões de movimento de dois ou mais segmentos do corpo. São organizadas em categorias que incluem os movimentos de equilíbrio (estabilização), locomoção ou manipulação: correr, saltar, agachar, arremessar, bater e rebater são exemplos de habilidades motoras básicas.
Nos programas de treinamento, com foco na saúde e bem-estar, estética e performance de lazer, os três grupos das metas/objetivos dos alunos sedentários iniciantes ou reiniciantes, existe um consenso entre os especialistas que, na fase inicial do treinamento (período de adaptação), as habilidades motoras básicas deveriam ser os principias meios (exercícios) a serem utilizados pelos profissionais do exercício.
Essas habilidades motoras são as seguintes: locomoção (correr, saltar, avançar, levantar e transportar), estabilização (agachamento, agachamento afundo, avanço, levantamento terra, rotações de tronco e quadril), manipulação (puxar horizontal e vertical, empurrar horizontal e vertical).
Estas habilidades básicas são aprendidas e aperfeiçoadas por meio de estratégias que utilizam os exercícios com peso corporal, acessórios, máquinas e aparelhos, na água e com auxílio da música, com métodos de treinamento e respectivos princípios, de acordo com um planejamento (periodização), sempre considerando as metas/objetivos e necessidades.
A figura 3 mostra um exemplo prático da relação entre exercício físico e habilidade motora. A habilidade motora básica é o “puxar”; o exercício físico é a “remada unilateral” com a intensidade e volume realizados de acordo com as metas/objetivos e necessidades da aluna/cliente.
Compete, portanto, ao profissional do exercício, escolher as melhores estratégias, aquelas que realmente consigam encantar o seu aluno/cliente, motivá-lo a continuar a se exercitar, mostrar a eficácia do treinamento e, para tanto, ajudá-lo a concretizar as suas transformações e “reduzir as suas dores”.