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Conceitos de programas de treinamento

Colunista: Mauro Guiselini

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Gato Cheshire... pode me dizer qual o caminho que eu devo tomar? Isso depende muito do lugar para onde você quer ir – disse o Gato. Eu não sei para onde ir! – disse Alice. Se você não sabe para onde ir, qualquer caminho serve.

Opa! Até parece que o meu artigo é sobre história infantil, mas não é bem assim; este diálogo entre o Gato Cheshire e a jovem Alice é, sem dúvida um dos mais citados no Google tendo em vista que mostra a realidade do que muito acontece também nos programas de treinamento personalizado e coletivo: a grande maioria dos alunos/clientes e profissionais não tem muito claro aonde querem chegar.

Essa incerteza, falta de clareza das reais metas/objetivos e propostas pedagógicas, talvez seja um dos vários motivos pelos quais milhares iniciam um programa de treinamento sem, contudo, seguirem em frente, dar sequência…! É muito grande o abandono, para a nossa tristeza; a não aderência nos programas é, sem dúvida, a causa de muitas discussões e pesquisas na busca de uma solução viável.

Neste artigo, como Pedagogo do Movimento, abordo alguns aspectos, que considero importantes, que devem ser considerados para, de alguma forma, ajudar a minimizar o fato citado; são componentes relacionados à área técnica – fundamentos teóricos, de ampla aplicação prática, que tem como principal objetivo ajudar os profissionais de Educação Física que atuam na gestão técnica bem como Personal Trainers e professores de aulas coletivas.

Conceitos básicos

Vamos conhecer alguns conceitos que considero importantes; é bem provável que para muitos seja uma revisão, pois já os conhecem, no entanto podem, de alguma forma, ajudar a tornar o trabalho técnico ainda mais eficaz.

  • Programa: um programa é um plano geral de treinamento que é escrito com base em um objetivo específico – plano e objetivo são as palavras-chave. (Cosgrove e Rasmussen, 2021).
  • Treinamento: de acordo com Barbanti (2005), é todo programa pedagógico de exercícios que objetiva melhorar as habilidades e aumentar as capacidades energéticas do indivíduo para uma determinada atividade.
  • Sessão de Treino: uma organização didática, com diferentes modelos, que inclui fases e objetivos específicos de acordo com as metas/objetivos e necessidades do aluno/cliente. É a parte prática do plano geral de treinamento (Guiselini, 2021).
  • Periodização: é um termo que tem muitas definições, mas a maioria dos especialistas concorda que significa usar planejamento estruturado com a manipulação das variáveis ​​de treinamento para alcançar uma resposta de treinamento desejada durante um determinado período, de acordo com Cosgrove e Rasmussen (2021).

Entendemos que a elaboração de um Programa de Treinamento deve ser estruturada considerando os seguintes aspectos (já comentamos em artigos anteriores):

  1. Diagnóstico: anamnese, identificação das metas/objetivos, avaliação multifuncional (coleta de dados): nível de aptidão física, déficits de movimento (necessidades).
  2. Interpretação dos resultados: classificação do nível do aluno (status de treinabilidade).
  3. Elaboração do Planejamento: em quanto tempo o aluno/cliente espera alcançar as metas/objetivos. Número de sessões de treinamento/semana e duração.
  4. Organização didática de sessão de treino: estabelecimento de um modelo pedagógico que atenda as metas/objetivos e necessidades dos alunos. Aplicação prática considerando as variáveis: repetições, séries, carga, velocidade, período de recuperação, escolha das modalidades de exercícios e métodos de treinamento.
Figura 1. Classificação do aluno/cliente

Considerações sobre Motivação

Vamos lembrar a frase “se você não sabe para onde ir… qualquer caminho serve!”

É muito importante ressaltar que o primeiro passo para elaborar um programa de treinamento, de forma pontual, é identificar as metas/objetivos do aluno/cliente – saber o que quer, quais as “suas dores”, os motivos pelos quais está iniciando uma nova jornada – o profissional e o aluno/cliente estão embarcando, juntos – existe um início e um final a ser alcançado. Nesse processo, tem início uma parceria, um compromisso de ambos no sentido de concretizar algo que, no início, não é tangível. Vamos ver em detalhes, na sequência, o que é tangível ou não; “sentir-se bem, com mais energia para as tarefas diárias”, em um primeiro momento não pode ser quantificado… muito diferente de “não estou contente com a cor do meu cabelo, vou tingir”… após 40 minutos o objetivo foi concretizado”.

Fatores que influenciam a motivação

Uma questão a ser analisada se diz respeito à Motivação: quais os motivos que influenciam a decisão do aluno/cliente iniciar um programa de treinamento.

  • Motivo: adj. Fazer mover, causador; s.m. causa, razão, intuito.
  • Motivar: dar motivo, causar.
  • Motivação: ato de motivar.

Os fatores que podem influenciar a Motivação:

  • Uma hierarquia de metas/objetivos, cada um dos quais pode ser atingido após razoável experiência (vamos ver a seguir o tema metas/objetivos).
  • Recompensas, reforço e realimentação.

No que diz respeito à Motivação é importante ressaltar a interação entre Motivação Intrínseca e Extrínseca:

Figura 2. Motivação Intrínseca e Extrínseca

Implicações pedagógicas

Se o aluno, ao iniciar o programa de treinamento, estiver demonstrando um nível ideal de motivação temos um grande desafio – mantê-lo motivado por um longo período.

Quando o aluno fracassa, torna-se frustrado, perde o interesse e a motivação para seguir em frente, há um grande perigo de abandonar.

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As pessoas gostam de fazer coisas que elas podem realizar razoavelmente bem, principalmente na presença de outras. Alunos/clientes menos capazes, sem experiências anteriores, necessitarão de mais motivação do que outros, maior atenção, acolhimento.

As pesquisas em aprendizagem indicam que os alunos não estão igualmente motivados pelos mesmos incentivos. Não há um melhor nível de motivação para todos os alunos/clientes e todos os exercícios. Há, contudo, um nível ideal para cada aluno e para cada exercício.

“Quanto melhor a Motivação, melhor o desempenho resultante”

ATENÇÃO!

O comportamento humano é complexo demais para observações tão simples. Considere também: (1) as características emocionais (nível de ansiedade, resistência à fadiga, determinação, resiliência, foco) e (2) a complexidade e dificuldade dos exercícios (os exercícios devem, acima de tudo, serem prazerosos). Considere, então, (3) se é necessário motivação de fontes externas e se for, quanto.

Entendendo as Metas/Objetivos

De acordo com especialistas e instituições nacionais e internacionais e, mais recentemente, pesquisas realizadas pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini, os ingressantes nos programas de exercícios, de acordo com suas metas/objetivos, são organizados em três grupos principais. (National Academy Sports Medicine, 2008; American College sports Medicine 2006; Edward T. Holey & B. Don Franks, 2007; Centers for Disease Control and Prevention, 2003; American Heart Association, 2008; Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini, 2007/2011)

  • Grupo 1: Saúde & Bem-Estar
  • Grupo 2: Estética
  • Grupo 3: Performance Esportiva de Lazer e Alto Rendimento.

A maioria dos alunos/clientes, segundo Cosgrove e Rasmussen (2021), procura ajuda de preparadores físicos por um dos três principais motivos abaixo:

  1. Eles querem ter uma aparência física melhor (diminuir gordura e ganhar músculos).
  2. Eles querem ter um melhor desempenho em uma atividade física ou esportiva.
  3. Eles querem melhorar a maneira como se sentem e se movem.

Metas EMRRT

As pesquisas fornecem informações, como visto acima, sobre as principais metas/objetivos dos alunos/clientes, que nos orientam, inicialmente, para elaborarmos o Programa de Treinamento. Muitos especialistas são proponentes do conceito EMRRT para as Metas/Objetivos. Isto significa Especificidade, Mensurabilidade, Realista, Relevância e Temporalidade. Por exemplo, a meta/objetivo EMRRT de uma aluna/cliente é diminuir 9 kg de gordura em 8 meses para chegar bem no casamento. Vamos “quebrar” isto:

  • Esta meta/objetivo é Específica porque a aluna/cliente indicou a quantidade de gordura a ser diminuída.
  • É uma quantidade Medida e Controlada.
  • É Realista e Alcançável no tempo disponível
  • É Relevante, mas por quê? É emocional, está relacionada a querer ter uma boa aparência para o casamento. (Dica de profissional: é sempre importante perguntar “por quê?” ao definir o objetivo)
  • Por último, é baseado no Tempo, temos um prazo rígido de oito meses esperado para ser alcançado pelo aluno/cliente.

Estratégias Motivacionais

Os profissionais de Educação Física que atuam como Personal Trainers, Professores de Aulas Coletivas, Treinadores, Coaching de Exercícios, entre outros, têm um grande desafio – manter o nível de motivação para que seus alunos/clientes sigam envolvidos no treinamento; as evidências demonstram que o marketing tem sido competente no sentido de trazê-los para o ambiente de treinamento, porém… aderência é o grande problema a ser resolvido.

De acordo com pesquisas já realizadas há bastante tempo (Nieman e Franklin, 1986), as seguintes estratégias motivacionais podem ser utilizadas para manter/aumentar a participação em programas de treinamento:

  1. Contar com professores/treinadores carismáticos, capazes de estabelecer uma relação empática.
  2. Fazer um bom diagnóstico – conhecer as características psicofísicas dos alunos/clientes.
  3. Realizar avaliações de controle periódicas.
  4. Fornecer feedback de desempenho durante e após o treino – registro das aulas.
  5. Possibilitar a oportunidade para auto monitoração e conhecimento do progresso dos resultados.
  6. Assegurar uma progressão lenta e gradativa de exercícios para minimizar os riscos de possíveis lesões musculoesqueléticas.
  7. Variar o programa de exercícios, identificar aqueles que são os mais eficazes, sob o ponto de vista fisiológico e motivacional.
  8. Possibilitar a oportunidade de fazer contatos sociais – as mídias sociais ajudam muito.
  9. Favorecer o reconhecimento do progresso do desempenho individual com valores extrínsecos (certificados, homenagens, menções nas redes sociais).
  10. Talvez, um dos mais importantes: possibilitar oportunidades para “sentir-se bem, com alegria”.

Considerações Finais

Aprendi, nestes 54 anos cuidando de crianças, adolescentes, adultos, idosos, portadores de necessidades especiais, que “Sentir-se Bem, com Alegria” é um importante fator de Motivação para as pessoas continuarem treinando. Os Programas Personalizados, Aulas Coletivas, treinamento nas salas de musculação ou outdoor possibilitam excelentes oportunidades para que os alunos/clientes se sintam alegres e satisfeitos.

Profissional de Sucesso, entre várias competências que precisa ter, uma delas é conhecer diferentes estratégias de ensino, que mais rapidamente, de forma eficaz, atinjam as metas/objetivos do aluno/cliente.

Sugestões de Leitura

ACE Personal Trainer Manual: The Ultimate Resource for Fitness Professional. 4ª Ed. American Council Exercise, San Diego, CA, 2010.

Cosgrove, A., Rasmussen, C. Secrets of Successful Program Design: A How-To Guide for Busy Fitness Professional. Human Kinectics. Champaing, Il, 2021.

Guiselini, M. Construindo uma Carreira de Sucesso. E-book. Instituto Mauro Guiselini de Ensino e Pesquisa. São Paulo, 2016.

Griffin, J. Client-Centered Exercise Prescription 2ª Ed. Human Kinectics, Champaing, Il, 2006.

Magil, R. Aprendizagem Motora: conceitos e aplicações. Editora Edgard Blucher Ltda. São Paulo, 1984.

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