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Bem-estar corporativo

Colunista: Angelo Dias

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E começamos 2024 com a seguinte notícia:

Os 100 funcionários da empresa chinesa de papel Guangdong Dongpo Paper precisam praticar atividade física para receberem seus bônus de trabalho.

Segundo o portal Guangdong Guangzhou Daily, a companhia decidiu cancelar o bônus de final de ano e distribuí-lo a cada mês, calculado com base na quantidade mensal de exercício do trabalhador.

Por que incentivar a prática regular da atividade física entre os trabalhadores de uma empresa?

E pensar que o primeiro grande alerta para a necessidade de se preocupar com a saúde do trabalhador aconteceu na década de 30, com o filme Tempos Modernos de Charles Chaplin (1936).

A figura mostra Carlitos realizando a sua única função na fábrica: rosquear parafusos.

A LER, Lesão por Esforço Repetitivo, ficou cada vez mais comum entre os trabalhadores. Tão comum que ganhou um nome próprio para o ambiente laboral: DORT, Distúrbios Osteomioarticulares Relacionados ao Trabalho.

O aumento desses distúrbios começou a ficar caro para as empresas, que além do custo com o tratamento do colaborador afastado, precisava contratar um substituto.

Desde então, a Medicina do Trabalho vem cuidando da segurança e da prevenção de doenças relacionadas com atividades profissionais. Para tanto, as empresas devem seguir as obrigações trabalhistas determinadas nas Normas Regulamentadoras (NRs), dentre elas a NR 7, que institui o Programa de Controle Médico de Saúde Ocupacional (PCMSO) e a NR 17 que apresenta as diretrizes ergonômicas.

O que é Ergonomia?

Segundo a NR 17, as condições de trabalho incluem “aspectos relacionados ao levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos equipamentos e às condições ambientais no posto de trabalho, e à própria organização do trabalho”.

Cabe ao empregador realizar a Análise Ergonômica do Trabalho, a fim de avaliar a adaptação das condições de trabalho às características de cada colaborador.

É bom lembrar que a Ergonomia não deve acontecer só no trabalho. Quando você faz a adaptação do mobiliário e do maquinário para realizar tarefas em casa, como jogar vídeo game ou fazer uma faxina, você está cuidando da sua qualidade de vida.

O mercado de trabalho cada vez mais competitivo trouxe novos desafios para o colaborador. A constante cobrança por produtividade e resultados acabou gerando ansiedade, depressão, síndrome do pânico e a síndrome de burnout.

Instituições como a Great Place to Work (GPTW) e a Associação Brasileira de Qualidade de Vida (ABQV) oferecem orientação e certificações para o desenvolvimento do bem-estar corporativo.

O que as empresas estão fazendo para gerar bem-estar?

Uma das principais ações é o incentivo a prática da atividade física, conforme o exemplo da empresa chinesa. A Educação Física começou a fazer parte desse processo através da Ginástica Laboral (GL), uma aula de ginástica, com 10 a 15 minutos de duração, que se utiliza de exercícios de mobilidade articular e alongamento ativo e estático.

A GL pode ser aplicada em 3 diferentes momentos do dia de trabalho:

Laboral de aquecimento

Realizada antes da jornada de trabalho, mais aconselhável para o time que vai pegar no pesado – entregadores, por exemplo. Possui maior tempo de duração e intensidade para melhor preparar os trabalhadores que irão fazer força em sua atividade.

Laboral compensatória

Acontece durante o expediente. O objetivo dessa aula é reduzir a tensão nos músculos mais utilizados durante a tarefa, como em digitadores.

Laboral de relaxamento

Recomendada para o time da gestão, responsável pela tomada de decisão na empresa. Por conta da responsabilidade e do estresse do cargo, essa aula apresenta técnicas de respiração, meditação, além do alongamento estático.

Agregadores no mercado corporativo

Com o passar do tempo, o Professor de Educação Física foi ganhando espaço no time de saúde da empresa, juntamente com Médicos, Fisioterapeutas, Nutricionistas e Psicólogos, seja como contratado ou convidado para palestrar na SIPAT, a Semana Interna de Prevenção de Acidentes de Trabalho.

Na década de 90, começou a crescer, no Brasil, o Fitness Corporativo. As grandes empresas começaram a criar academias dentro de suas instalações para cuidar melhor da saúde dos colaboradores.

Com o tempo, a Gympass descobriu uma excelente oportunidade de mercado nessa preocupação com a saúde do trabalhador. Ela criou um modelo de negócio que aproxima as diferentes possibilidades de negócios fitness (academia, estúdio de personal, estúdio de Pilates, estúdio de bike indoor e box de Crossfit) com as empresas que queriam ofertar esse benefício para seus times. Sem a necessidade de investir em maquinário e pessoal, aliado à comodidade do colaborador poder escolher um lugar mais perto de casa e a modalidade de sua preferência, mais empresas conseguiram oferecer atividade física para seus funcionários.

Cabe ressaltar que esse “benefício” é muito positivo para empresas e colaboradores. As pessoas cuidam melhor da sua saúde e as empresas ganham times mais saudáveis e produtivos.

E com tudo que vivemos na pandemia, pós distanciamento social, a saúde mental ganhou um destaque maior e logo começaram a fazer parte do portfólio da Gympass e seus concorrentes produtos como Yoga, meditação e sessão de terapia. E tudo isso podendo ser feito de forma remota ou presencial.

O bem-estar corporativo está completamente alinhado com o movimento ESG = cuidar do meio ambiente (Environmental) e das pessoas (Social) através de uma liderança (Governance) consciente.

Essa é mais uma fatia do mercado do bem-estar que ainda vai crescer muito.

Uma das evidências desse crescimento é a transição da Medicina 2.0, com foco no tratamento, para a Medicina 3.0, voltada para a prevenção, conforme o texto abaixo do livro Outlive: a arte e a ciência de viver mais e melhor (Attia, 2023):

“Outra questão relacionada é que a longevidade em si, e o healthspan (qualidade de vida) em particular, não se encaixam no modelo de negócio do sistema de saúde atual… não há código de cobrança que custeie um programa de exercícios abrangente, projetado para preservar a massa muscular e o senso de equilíbrio enquanto aumenta a resistência a lesões. Mas, se o paciente cair e quebrar o quadril, a cirurgia e a fisioterapia serão cobertas.”

O crescimento do movimento Medicina do Estilo de Vida (MEV) e da Medicina Funcional Integrativa representam ações que fortalecem esse momento de transição para uma medicina preditiva, preventiva, proativa, personalizada e parceira, como preconiza o Dr.Pedro Shestatsky (2021) em seu livro Medicina do Amanhã.

A revolução do bem-estar está chegando com força no mundo corporativo, que já entendeu que uma empresa saudável precisa de um time que esteja bem, se sinta bem e pareça bem para enfrentar os desafios de um mundo onde a única certeza é a mudança.

Já pensou como você e o seu negócio podem fazer parte do bem-estar corporativo?

Para maiores informações sobre o tema, recomendo a leitura dos seguintes livros:

LIMA, Valquíria. Ginástica Laboral: atividade física no ambiente de trabalho. São Paulo: Phorte, 2019.

MARTINS, Caroline. PPST – Programa de Promoção da Saúde do Trabalhador. São Paulo: Fontoura, 2008.

CAMARGO, Izabella. Dá um tempo!: como encontrar limite em um mundo sem limites. São Paulo: Principium, 2020.

ATTIA, Peter e GIFFORD, Bill. Outlive: a arte e a ciência de viver mais e melhor. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2023.

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