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Musicalidade: a emoção na sua academia – Parte 3

Essa terceira parte sobre musicalidade está sendo escrita em um momento histórico mundial: um vírus que praticamente, quando infecta, não traz a possibilidade de doenças crônicas, nem é tão agressivo para quem tem um bom e forte sistema imunológico e menos ainda é capaz de provocar mortes em larga escala, mesmo assim fez com que os governantes mundiais decretassem o ISOLAMENTO SOCIAL, com fechamentos do comércio e serviços como as academias de ginástica. Minha opinião é que essa quarentena de isolamento de todos em suas casas será a pior consequência da passagem desse vírus. Dependendo do tempo que precisarmos ficar isolados, a falta da rotina de exercícios, como já eram feitos, raramente poderão ser exatamente replicados em casa, assim como outras doenças emocionais e psíquicas poderão atingir muito mais fortemente a humanidade.

Bonito de se ver está sendo as ações por vários locais no mundo onde as pessoas, mesmo em isolamento, vão para suas janelas e varandas para tocarem músicas, cantarem juntas, interagirem, comemorarem aniversários, conversarem de longe, mas JUNTAS! Reforço total numa experiência VIVA e ÚNICA – MÚSICA e SERES HUMANOS EM GRUPO (JUNTOS) dão a força, a alegria e a motivação para continuarem firmes, vivos e com a fé renovada numa crise, mesmo apesar de uma certa histeria coletiva inicial.

O Ministério da Educação também lançou uma competição de matemática recentemente onde o tema era o METRÔNOMO e a música, relacionando-os com a matemática. Falando sobre alguns conceitos que já tratamos nas edições anteriores dessa revista.

Vejam a propaganda neste link:

“ …porque na música, como em quase tudo na vida, tem matemática… e se a matemática for música para seus ouvidos, não fique de fora dessa”, diz a chamada!

No final da parte 2 deste artigo de MUSICALIDADE deixei algumas questões a serem respondidas, então vamos lá para algumas dicas:

Como os gestores e coordenadores poderão recrutar, selecionar, treinar, analisar, dar feedbacks para profissionais de suas aulas coletivas? Como aumentar a retenção, aderência, emoção e shows atraentes em suas academias?

Gestores, o seu primeiro e fundamental cliente é o seu TIME. Mantê-lo motivado é papel crucial de um coordenador ou gestor de coletivas. A Ginástica de grupo tem, por si só, um alto teor de motivação intrínseca. Os profissionais que militam nessa área têm, em comum, um altíssimo nível de prazer em ministrar aulas, seja pelo universo de relacionamentos possíveis, seja pelo palco, pelas MÚSICAS, pelos movimentos mais variados e coreografados ou até mesmo pelo “poder” de comandar pessoas e cuidar delas no geral. Aulas em grupo possuem muitas variáveis, especialidades, técnicas, “manhas”, que muitas vezes não são tão aprofundadas nas faculdades. A teoria tem uma distância bem grande da prática e muito menos se aprende em cursos de gestão. Portanto, coordenadores e gestores de aulas coletivas deveriam sempre ser EXPERTS em aulas coletivas com conhecimento de liderança e gestão. Os cuidados na formação de um “DREAM TEAM” – um time de ouro de coletivas – é capaz de atrair um grande número de clientes e mais do que isso, RETER esses alunos por muito tempo e isso se faz necessário desde o recrutamento, da seleção, do treinamento, do acompanhamento, dos feedbacks, retreinos e novos acompanhamentos constantes. Infelizmente, raramente, vemos isso acontecer nas academias. Um grande time precisa sempre de um excelente técnico, um COACH presente, dando dicas, feedbacks, jogando junto pelo time, analisando pontos para melhorar, revendo grades de horários, etc. Muitos coordenadores são também professores apenas com uma hora-aula um pouco melhor, mas que continuam dando aulas, apagando incêndios para substituições, não conseguem ter tempo de ver as aulas dos outros professores, de fazer aulas dos colegas do time, de fazer um coaching, uma mentoria, de dar treinamentos efetivos, até porque muitos nem possuem essa experiência.  Isso tudo já pode fazer a grande diferença na atração e retenção dos profissionais mais excelentes e consequentemente dos clientes! Todos querem jogar no time que ganha, no time vencedor e campeão.

Christian Munaier, no seu livro Gestão Consciente da Ginástica Coletiva, Ed. Phorte, indica que um gestor de Ginástica coletiva deve sempre utilizar pelo menos uma hora de cada dia para analisar e avaliar os professores do seu time. Periodicamente, essas avaliações precisam ser feitas com todos. Com uma planilha de acompanhamento devem ser avaliados os seguintes itens:

  • Apresentação pessoal/física
  • Pontualidade
  • Desempenho técnico/atlético
  • Escolha das músicas (olha aí a importância)
  • Voz de comando
  • Seleção de palavras ditas durante a aula
  • Gestos e sinais
  • Correções
  • Motivação
  • Emoções transmitidas na aula
  • Interação com os alunos pré, durante e pós aula

Cada item desse poderá ter feedbacks, serem treinados e retreinados se forem necessários, em busca de uma performance de excelência. É raro vermos artistas do Cirque du Soleil errando. Por que será? Muito treino e um Coach para cada time de cada atração. Tudo é checado e rechecado a cada show. As músicas também!!! Levando emoção a cada momento. Já seria um show só pelos movimentos dos artistas em si, mas eles dão uma importância tremenda à trilha sonora de cada espetáculo.

A melhor forma de se fazer essas avaliações deve ser por câmeras com áudios instaladas na sala de coletivas. Uma ferramenta bem acessível nos dias de hoje até por segurança. O coordenador poderá ver ao vivo de sua sala, ou até on line de onde estiver pelo seu smartphone. Ou também poderá gravar para ver depois. Assim o professor não perceberá que aquele é um dia de avaliação dele, nem causar algum constrangimento ou desconforto nos alunos. Mas nada impede também de o coordenador entrar na sala e fazer a aula do professor naquele dia, sentindo assim toda emoção da aula em seus componentes de segurança, eficiência, motivação e interação.

Como ter mais clientes de todas as faixas etárias, de diferentes níveis, podendo atender tradições educacionais, culturais e religiosas diferentes numa mesma aula?

“Um empresário inaugurou um empreendimento e teve a ideia de dar o nome de VELOCITY. Ficou empolgado por achar o nome muito bom. Mas embora curto e não excessivamente usado, transmite pouco, em parte porque não é tão marcante. Poderia ser melhor. Por quê? Porque velocity – velocidade – não tem cheiro, não tem som, nem sabor, sensação ou imagem. Falando a palavra Velocity – velocidade, mesmo sabendo o que significa, transmite muito pouco mais do que seu sinônimo “rapidez”. “WHOOSH”! Funcionaria melhor. Um som inconfundível e um pouco estranho atravessa o cérebro como um vento…a palavra é ouvida e sentida! “WHOOSH”!  Quem conhece a língua inglesa e mesmo muitas pessoas que nunca ouviram nenhuma música do grupo RED HOT CHILLI PEPPERS se lembram do seu nome, porque podem ver e sentir o gosto da pimenta vermelha quente. Red Hot Chilli Peppers é sensorial na língua inglesa. Quanto mais sensorial, mais será gravado, registrado e será familiar. “APELE O MÁXIMO POSSÍVEL PARA OS SENTIDOS DAS PESSOAS!” (Livro: O que os clientes amam – Harry Beckwith –Ed.Best Seller). Um bom exemplo no Brasil que eu lembro poderia ser o grupo de pagode axé baiano “É o TCHAN!”, totalmente sensorial.

Aulas coletivas em academias deveriam ser sempre PARA TODOS! Os clientes após passarem por exames médicos, avaliações e se estiverem aptos para atividades físicas, podem e devem fazer aulas coletivas. Mas aí vem a pergunta: com qualquer nível de aptidão? SIM! É possível!  O professor, muito bem preparado e treinado, que faz parte daquele DREAM TEAM, com aquele líder Coach focado descrito acima, é que vai dar as opções e graduar a aula coletiva tanto para iniciantes, intermediários e avançados. NA MESMA AULA! A aula é coletiva, mas a atenção é individualizada.  Acreditem: Existem muitas técnicas para isso! Lembram daquela “manha” e de muito treinamento que relatei acima? Pronto, quem tem, tem!  As academias que possuem aulas coletivas e que querem ter muitos clientes enchendo seus horários deveriam então se preocupar em ter sempre aulas para TODOS. Sem discriminar sexo, raça, idade, peso, altura, gostos, culturas e religiões. Concordam? Se o professor for muito bom tecnicamente, embasado cientificamente, criativo, motivador, consegue dar aulas para turmas heterogêneas respeitando níveis de condicionamentos e algumas limitações sem problemas. Sobra apenas uma variável que poderá fazer toda a diferença nesse contexto: A MÚSICA!

Sendo assim, pense muito bem nas músicas escolhidas. Temos tantas músicas no mundo. Nem vou falar de gosto, pois existe o bom gosto e o mal gosto e o que é para um pode não ser para o outro. Então acredito que ficará mais fácil eu dar alguns exemplos do conceito prático de bom senso: Imagine uma “aula para todos” que em todas as sessões toque pelo menos uma vez o hino do Flamengo inteiro e o professor e alguns alunos vibram? Mas não toca nenhum hino de outro clube algum, em qualquer dia. Acham que outros alunos torcedores de outros times irão continuar frequentando? Uma aula que toque sempre umas batidas fortes de candomblé, evocando com letras santos e deuses da cultura e religião afro? Alunos de outras religiões ficarão confortáveis? Assim como músicas gospels falando só de Jesus ou indo contra outras religiões, recriminando os católicos, judeus ou umbanda? Nada agradável para muitos outros alunos, não é mesmo? Saindo das religiões, uma aula coletiva onde o professor escolhesse sempre músicas patrióticas do Brasil, pró Bolsonaro? E os simpatizantes da esquerda, Lula e outros como ficariam?  Mesmo que os exemplos pareçam radicais dá para ter uma boa noção de que problemas poderão existir na seleção musical. Rocks pauleiras muito barulhentos para pessoas de meia idade ou idosos, Funks com palavrão e palavras vulgares para idosos, para pessoas mais religiosas ou com uma educação mais formal. Músicas dos anos 60 e 70 para adolescentes e muito jovens. Músicas infantis ou muito “adocicadas” para jovens em idades das raves… É legal? Não!

A seleção musical não pode nunca ser do gosto do professor e muito menos este poderá ficar refém do gosto de uma “maioria” de alunos da turma da frente que gosta de um determinado estilo. Infelizmente, isso acontece muito: professor refém! E quanto mais o professor atende uma parcela da turma mais barulhenta, desagrada os outros, faz uma “seleção natural” apenas daquelas pessoas daquele estilo. Passa a não ter uma AULA PARA TODOS!  Só, e apenas só, se a aula for de alguma modalidade específica já no nome. Por exemplo: DANÇA FUNK, HIP HOP – STREET DANCE, Lambaeróbica, ROCK SPINNING, ou similares. As pessoas que escolherem ir nestas realmente já saberão o que encontrar lá. Ninguém compra um show de ROCK e espera que vão tocar samba.  Mesmo assim, indico que possam VARIAR os tipos de músicas, pois existem as músicas nacionais, internacionais de vários países e evitar ao máximo palavrões, vulgaridades e apelos sem necessidade. Mantenham um padrão para que a aula realmente possa ser PARA TODOS! Tenha uma norma, um código de conduta e isso vai ser passado no inconsciente de todos. Sempre um cliente/aluno na aula poderá pensar assim: “eu posso trazer meu namorado crente nessa aula, pois não toca música com palavrão.” “Vou trazer minha mãe nessa aula porque toca músicas variadas e ela detesta funk.” “Meu avô tem um ótimo preparo, já fez muitos anos de ginástica aeróbica na década de 80 e curte músicas dos anos 70 e 80 e nessa aula toca também”. “Acho que posso trazer minha filha adolescente nessa aula porque não quero ela só repetindo movimentos vulgares em músicas com palavrões e denegrindo a imagem da mulher”…

Percebem?? As músicas de uma aula são para UNIR as pessoas, agregar, reter, emocionar, trazendo sensações positivas e não negativas. QUANTO MAIS MUNDIAL for a aula coletiva, melhor! Quanto mais diversificada e para todos for, mais alunos terá!

Gestores, pensem nisso: recrutem, selecionem, treinem, deem feedbacks, se preciso for, retreinem, peçam ajuda para quem sabe fazer isso acontecer com os professores de aulas coletivas. Consigam acesso aos sets lists musicais de vários DJs e profissionais especializados em aulas coletivas.

TRANSMITIR qualidade pode não ser tão relevante para a satisfação quanto realmente FORNECER qualidade. No que diz respeito à satisfação, a percepção do cliente está sempre certa.

Seu trabalho não é fornecer um serviço, uma aula, mas criar um ambiente de satisfação, de preferência para todos!

“Faça seus clientes acreditarem que ficarão satisfeitos e eles ficarão, especialmente se você fizer isso com paixão.” (Livro: O toque invisível – Harry Beckwith. Ed. Best Seller).

Eu acrescento: Faça com paixão e escolha a melhor trilha sonora dessa emoção!

“Se você souber usar as frases musicais e souber entrar na parte correta da música você consegue transformar uma simples música e um simples movimento em EMOÇÃO…PLASTICIDADE… É uma referência IMPRESCINDÍVEL que um profissional de aulas coletivas SAIBA USAR A MUSICALIDADE!” (Prof. DJ Sérgio Maurício Nascimento – JUMP TAPES)

Ouça o áudio com um depoimento do professor DJ Sérgio Maurício: