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Musicalidade: a emoção na sua academia

Chegou 2020! Novos tempos, mais oportunidades de realizações. Desejo muitas felicidades e sucessos para todos os leitores desta coluna e assinantes da Revista Empresário Fitness & Health que agora será mensal com mais informações e conteúdo para vocês. E ainda opções de áudio podcast do conteúdo da coluna para ser ouvido onde você estiver, introduzindo cada vez mais vídeos e links complementares sobre o assunto.

Para iniciar essas novidades mensais, irei abordar esse tema da MUSICALIDADE E EMOÇÃO em 3 partes, uma em cada edição. Um assunto que pode parecer irrelevante no âmbito da gestão de academias, mas pode ser um FATOR IMPORTANTÍSSIMO de QUALIDADE! Se essa poderosa ferramenta for bem utilizada poderá fazer muita diferença na aderência, retenção, qualidade, emoção nas aulas e indicação da academia para novos prospects. Um tema rico e importante para estagiários, professores, coordenadores e gestores de academias.

Nunca tivemos uma indústria de lazer e de entretenimento tão grande e diversificada no mundo. Tantas opções de TVs, internet, esportes, novas modalidades de exercícios e atividades físicas, redes de academias e diversificadas por nichos. Temos tantas redes sociais e canais de buscas como o Google e Youtube “bombando” informações e vídeos por todos os lados. Mas o Homem nunca foi tão triste, “solitário, apesar de acompanhado”, sujeito a várias doenças do sedentarismo e principalmente psíquicas. Jovens e adultos não estão sabendo lidar com a linguagem emocional em um mundo tão conectado.

Augusto Cury em seu livro “Treinando a emoção para ser feliz” (2001) adverte: “A emoção, inclusive de adolescentes, pode envelhecer precocemente, dependendo do nível de ansiedade e depressões. Há muitos “velhos” nos corpos dos jovens hoje em dia. Como rejuvenescer a emoção?” Ele completa afirmando: “Você pode treinar a sua emoção para ser feliz e tranquilo, para gerenciar os pensamentos, superar a ansiedade e descobrir coragem nas dores, força na fragilidade e lições dos fracassos.”

Utilizando a musicalidade nas aulas coletivas

Vários estudos já comprovaram há anos o poder dos exercícios físicos para prevenir diversas doenças, ajudar, com sucesso, no tratamento de inúmeras patologias e principalmente na melhoria das dores emocionais e psíquicas. E se adicionarmos o PODER DA MÚSICA juntamente com os exercícios? Não há lugar e profissionais melhores para usarem com maestria essas ferramentas do que nas academias de ginástica e de danças. Isso requer profissionais competentes, capacitados e treinados para tal.

Algumas questões precisam ser levantadas:

  1. Os profissionais de aulas coletivas sabem mesmo usar a MUSICALIDADE para alcançarem toda a emoção e técnicas de instruções com uma base sólida nas músicas que são escolhidas para as suas aulas?
  2. As faculdades, tanto na graduação e pós graduações ensinam para valer a MUSICALIDADE na teoria e na prática para seus alunos?
  3. Os gestores e coordenadores das academias de ginástica sabem sobre isso? Dão a importância necessária em recrutar, selecionar, treinar e dar feedbacks para professores de aulas coletivas levando em consideração a MUSICALIDADE?

Em muitas aulas coletivas atuais vemos profissionais utilizando músicas uma atrás da outra, coreografando, sendo “animadores”, mas sem a técnica correta para elevar o processo ensino-aprendizagem e motivação para outro patamar!

Usar a musicalidade com maestria não é simplesmente colocar uma música atrás da outra e coreografar sem didática, muitas vezes copiando youtubers e blogueiros e apenas usando a metodologia do “SEGUE O LÍDER”. Normalmente vemos, hoje em dia, as músicas usadas nas aulas em sua quase totalidade baixadas da internet, sem qualidade sonora e nem musical. Muitas letras e batidas que exageram na dose dos palavrões, duplos sentidos, gírias da moda e movimentos coreográficos apelando para uma vulgaridade sem tamanho e de gosto duvidoso. Essa nova geração de profissionais acaba seduzida por uma “moda vigente” massificada para conhecer e utilizar em suas aulas um determinado estilo musical para “agradar” aos alunos. Sem perceberem que muitas vezes acabam sendo “reféns” da mesmice fazendo uma “seleção natural” de público que só quer ouvir as tais músicas da moda e daquela determinada cultura local.

Uma aula coletiva deveria ser sempre preparada “para todos”, engajando faixas etárias diversas, nível educacional e cultural diferentes e com as questões religiosas e de tradição familiar respeitadas. Acabam SEGREGANDO e dividindo, ao invés de atrair e unir mais e mais alunos através de uma aula bem planejada em cima de músicas com estilos variados, montadas com sucessos de diversas épocas, mixadas, editadas, equalizadas e com a velocidade correta para cada tipo de aula. Aula coletiva boa é aquela que o mundo chama de “WORLD CLASS” – aula mundial que poderá ser bem recebida em todos lugares do mundo, com pitadas de estilos musicais diferentes e planejadas para ao final da aula ocorrer uma EMOÇÃO POSITIVA para a maioria dos alunos. Infelizmente estão existindo muitas aulas por aí que “irritam e estressam mais” do que realmente atraem sensações boas. Ou por conta da mesmice no estilo musical, sem mudar o tom durante a aula toda, ou pela qualidade sonora da gravação, sem equalização das frequências agradáveis ao ouvido humano e ainda por tantas músicas “pobres em letras” e batidas “sampleadas” com recursos muitas vezes vulgares que, podem acreditar, espantam muitos alunos. Isso não acontece apenas nas aulas coletivas, mas também na seleção das músicas tocadas no setor de musculação e cardio.

Nas faculdades, muito dos professores mais acadêmicos nunca aprenderam sobre isso, nunca se preocuparam, não praticaram ativamente em suas aulas práticas e nem possuem expertises, muito menos tempo em suas grades de conteúdos e cronogramas de aulas. Se estes professores de faculdades não aprenderam, se não aplicaram na prática, não conseguirão ensinar. Simples assim. Alguns professores que por acaso saibam, nem sempre conseguem ensinar de forma didática tanto na teoria como na prática. Então muitas gerações de novos profissionais estão saindo das faculdades sem a menor noção de MUSICALIDADE.

DJs famosos que marcaram época

Desde a Grécia antiga, as artes da Ginástica, considerada na época a totalidade de exercícios físicos e esportes praticados, e a música já eram utilizadas para a formação do homem. Depois, a Escola Sueca de ginástica, a calistenia e as aulas rítmicas utilizavam músicas ao vivo, como um pianista, dando ritmo para a execução dos exercícios. Mais à frente, os profissionais de ginástica desde as décadas de 70 e 80 sempre se preocuparam com a qualidade de suas músicas para as aulas. Inclusive compravam (não eram baratos) vários discos de vinil, periodicamente preocupados com a diversidade e novidades para as suas aulas. Em cada disco de vinil, muitos com músicas longas ou faixas mixadas, eram criteriosamente escolhidas para cada momento da aula: aquecimento, parte principal e volta à calma. Houve uma grande evolução no final da década de 80 e início de 90 com a introdução das fitas cassetes gravadas de forma mixada (sem intervalos), com músicas também muito bem selecionadas por professores e discotecários (DJs) da época. Assim, os profissionais tinham as melhores músicas internacionais e nacionais, mixadas, com o BPM certo para cada modalidade de aula. Os DJs que foram precursores em montar fitas cassetes para aulas de ginástica ajudaram muito toda categoria de professores de academias da época que aprendiam a importância da música em suas aulas.

Luis Vicente Silvestre iniciou as montagens de fitas mixadas para ginástica em 1986 no Rio de Janeiro. O famoso DJ Gabriel Edemburg, o GABO, de São Paulo, tinha a excelência de adquirir sempre em primeira mão os melhores lançamentos IMPORTADOS de vinis da época e produzir várias fitas, todos os meses com lançamentos novos. Além de editar músicas do estilo HIGH ENERGY para coreografias de competições de Ginástica Aeróbica, GABO também foi detentor da distribuição da POWER PRODUCTIONS, a melhor produtora de músicas para ginástica dos EUA na época. Assim como também produziu vários HITS e sets próprios para a Ginástica em Academias.  No Rio de Janeiro, também surgiu a Keep Going tapes dos DJs Fernando Vieira (Fofão) e o Serginho DJ – Sérgio dos Santos Pinto Jr. – que também lançou o selo High Energy em suas produções. A Keep Going continua até hoje gravando sets musicais para todas as modalidades de aulas coletivas priorizando sempre músicas mixadas, non stop, editadas nos 32 counts.

Um outro nome de muita referência até hoje é o José Antônio Prado Fernandes, conhecido como o TOCA, de Santos. Desde as fitas cassetes, passando pelos CDs, sets mixados e editados em arquivos MP3, o TOCA inovou também e está até hoje como referência agora com um APP maravilhoso chamado TOP CLUB com centenas de sets para todas as modalidades, renovados a cada mês, onde com uma pequena taxa mensal os profissionais podem ter acesso a todos os sets de músicas possíveis de anos atrás até os mais recentes lançamentos. E não menos importante, outro DJ famoso de São Gonçalo, RJ, o Professor Aldemir com sua esposa, a professora Jaqueline, foram também pioneiros desde as fitas cassetes e até hoje produzem sets em arquivos MP3. Aldemir sempre teve o diferencial de lançar versões editadas exclusivas, remixes, vinhetas, medleys produzidos por ele, dando um brilho e uma emoção especial nas suas produções.

Confira aqui um pouco da história da música no fitness, na voz do DJ Luis Vicente Silvestre.

Infelizmente, muitas academias no Brasil até diminuíram e outras já acabaram com suas aulas coletivas com músicas, indo na “moda” das academias low costs que iniciaram acreditando mais na musculação do que nas coletivas. TIRO NO PÉ! Todas as listas atuais das Tendências Internacionais do Fitness mostram as aulas em grupo nos primeiríssimos lugares! O ser humano sempre foi e sempre será GREGÁRIO. Gosta do grupo, do buxixo, do agito, de música, diversão, festa, show… tudo que uma aula coletiva pode ter com exercícios, movimentos bem escolhidos e músicas especialmente montadas para “OS MOMENTOS MÁGICOS” acontecerem!

Mas como estão os profissionais atuais? Estão realmente usando a MUSICALIDADE nas suas aulas para alcançarem todo o potencial da emoção e técnica envolvidos nessa maravilhosa ferramenta motivacional?

Ouça o que o DJ Toca fala sobre a evolução da musicalidade:

Aulas coreografadas non stop

Em pleno século 21, ano 2020, temos tantas evoluções tecnológicas, informações por todos os lados, facilidades, estudos e ciência de alto nível, aparelhos que cabem na mão e no bolso com capacidade de armazenar milhares de músicas, mas a boa utilização dessa ferramenta e do profissionalismo em ter acesso aos melhores sets musicais para suas aulas já estão em decadência há muitos anos.

Existe um padrão internacional em aulas coreografadas “Non Stop”, ou seja, sem paradas, nem intervalos entre as músicas que se chama 32 counts – 32 tempos – 32 contagens. Um excelente professor no mundo, tendo a competência de ministrar uma “WORLD CLASS” de aeróbica, step, dança e qualquer outro estilo coreografado, usará essa técnica musical para montar suas aulas “EM CIMA” das músicas já bem escolhidas, mixadas, com os batimentos por minuto (BPM) corretos para aquela determinada modalidade, equalizadas e principalmente com os “oitos” contados e organizados nos 32 counts. Falarei mais sobre tudo isso na próxima edição.

Infelizmente, muitos profissionais de fitness da nova geração nem nunca ouviram falar em 32 counts. Se ouviram, não sabem utilizar, muito menos dão a importância para essa ferramenta e técnica tão especiais para uma aula REALMENTE ser boa para todos. Além disso, todo o processo de ensino será otimizado. Uma aula coletiva com músicas em 32 counts fica muito mais fácil de ensinar, fica mais organizada didaticamente, com possibilidade de instruções melhores, correções, opções para alunos de diferentes níveis, facilita uma performance mais artística do profissional e uma interação motivante com a turma.

O tripé de uma aula WORLD CLASS é quando o profissional consegue alcançar os objetivos finais de SEGURANÇA, EFICIÊNCIA e principalmente, MOTIVAÇÃO de alto nível “sentindo” a música e não contando, transmitindo toda a EMOÇÃO de um SHOW que a aula pode e deve ter.

Um profissional de aulas coletivas apenas quer dar aula em seu bairro? Em sua cidade? Em seu país? Ou se tiver uma oportunidade de ser chamado para dar aulas nos EUA, na EUROPA, até mesmo na Oceania e Ásia, ganhando uma média de 100 dólares por aula, vai rejeitar?? Se pretendem evoluir na profissão, ministrar aulas em grandes eventos, congressos, shows, palcos, PRECISA SABER A MUSICALIDADE! Caso contrário, não será aprovado em lugar nenhum do mundo em uma seleção criteriosa.

As academias em um mercado tão competitivo, buscando diferenciais, estão se preocupando com esse fator tão importante? Percebem que poderão fazer a diferença na captação de novos clientes, na retenção?  E que poderão ter um ambiente muito mais motivante, envolvente e emocionalmente positivo?

Nas próximas edições teremos:

  • Noções básicas teóricas e práticas da musicalidade mundial para aulas de academias.
  • Como estudantes de Educação Física podem sair das faculdades mais preparados em relação à MUSICALIDADE para o mercado de trabalho?
  • Como os gestores e coordenadores poderão recrutar, selecionar, treinar, analisar, dar feedbacks para profissionais de suas aulas coletivas? Como aumentar a retenção, aderência, emoção e shows atraentes em suas academias? Como ter mais clientes de todas as faixas etárias, de diferentes níveis, podendo atender tradições educacionais, culturais e religiosas diferentes numa mesma aula?

O foco sempre deverá ser atender MAIS E MAIS ALUNOS CLIENTES, que se sintam felizes, contagiados, emocionados, vivenciando a experiência de um show em cada aula, deixando sempre o gostinho de quero mais! A MUSICALIDADE PODE AJUDAR, E MUITO, PARA ESSES RESULTADOS!