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A fantástica arte do emagrecimento

Provavelmente você já deve ter escutado que emagrecer nada mais é do que um simples cálculo matemático, afinal, emagrece quem gasta mais calorias do que consome, não é mesmo? A maior parte das pessoas acredita piamente que o método mais eficaz para emagrecer é fechando a boca e passando fome. Se você também é adepto desta linha de raciocínio é porque ainda não se aprofundou na verdadeira e fantástica a arte do emagrecimento. Esqueça tudo o que você aprendeu até agora e me acompanhe em um curioso universo que a neurociência tem a lhe mostrar.

O cérebro é o órgão mais importante do organismo, e ele se comunica com o restante do corpo por meio de milhares de neurônios e neurotransmissores. O trato gastrointestinal possui terminações nervosas que enviam informações para o cérebro o tempo todo, fazendo com que este mande imediatamente uma resposta. Uma pessoa quando está de estômago vazio passa a produzir um hormônio chamado grelina que intensifica sua secreção aproximadamente uma hora antes de uma refeição habitual. A grelina é o hormônio da fome, é o responsável pelo conhecido “ronco” no estômago, e quando este hormônio é produzido, o cérebro entende que é hora de aumentar o apetite. Perceba, então, que se você estiver tentando emagrecer ficando sem comer, seu corpo fará de tudo para que você aumente seu apetite por alimentos calóricos, tornando esta experiência uma verdadeira tortura.

Finalmente, você não resistiu e ingeriu todas as calorias que seu corpo desejava, provavelmente as mesmas não serão provenientes de fontes saudáveis. Talvez o seu apetite por doce tenha aumentado, e você passou a ingerir carboidratos de alto índice glicêmico como chocolate, pão branco e massas. Neste momento, o cérebro entende que é necessário aumentar a produção de insulina no pâncreas, pois este hormônio será responsável por armazenar todo o excesso de glicose da corrente sanguínea sob a forma de glicogênio ou gordura corporal. Funciona assim: uma parte da glicose é utilizada imediatamente para a produção de energia, outra parte fica limitadamente armazenada como glicogênio em músculos e fígado, e todo o restante fica ilimitadamente armazenado sob a forma de gordura no seu corpo. E enquanto toda esta gordura vai se depositando na sua cintura, entra em ação um novo elemento, a leptina.

A leptina é uma grande amiga que informa o cérebro sobre o aumento de gordura corporal, e pede que o mesmo envie de volta um sinal para a diminuição da fome. A leptina também avisa a tireoide para aumentar o metabolismo, e assim facilitar a queima de gordura. Em teoria deveria acontecer o seguinte: quanto mais gordura você armazena, menos fome você sente e mais ativo fica seu metabolismo. Porém, este erro crônico de comportamento alimentar faz com que seu cérebro desenvolva uma insensibilidade à leptina, ou seja, você está engordando sem que seu cérebro perceba e, além disto, seu metabolismo diminui e você sente cada vez mais fome!

Esta fome vem sempre acompanhada de uma grande ingesta de carboidratos, resultando de níveis constantemente elevados de insulina no corpo, ocasionando um novo problema: a resistência à insulina! Desta vez, não é seu cérebro que fica cego, e sim seus músculos e fígado que não facilitam mais a metabolização da glicose. A glicose em excesso na corrente sanguínea é tóxica, e a única opção agora é armazená-la ao máximo sob a forma de gordura corporal. Quando o corpo encontra-se neste estado, o glucagon – que é o hormônio que faz o trabalho oposto à insulina – mal consegue atuar, e além disto, seu corpo passa a liberar o cortisol (hormônio do estresse), que aumenta a pressão arterial e libera ainda mais açúcar no sangue. Ou seja, você acaba de entrar numa situação em que fica impossível queimar gordura. Eis, então, que você novamente decide parar de comer!

Enquanto você não optar por uma alimentação equilibrada, ficará difícil sair deste ciclo vicioso, e as consequências futuras não serão boas. Quando você decide se alimentar certo, e não pouco, seu trato gastrointestinal passa a liberar outros hormônios, mas desta vez, de saciedade como a colecistoquinina (CCK) e o peptídeo semelhante ao glucagon (GLP-1). A CCK é produzida logo que o alimento chega na primeira porção do duodeno, enviando ao cérebro o sinal de diminuição do apetite. A GLP-1 é produzida na última porção do intestino delgado e juntamente com outros hormônios reforçam a saciedade e estabilizam os níveis de glicose sanguínea. Quando a pessoa se alimenta de forma tranquila e devagar, estes hormônios conseguem atuar a tempo de saciá-la antes de ingerir muito alimento.

Veja, então, que o segredo não está em comer pouco, e sim em comer certo! A arte do emagrecimento saudável acontece naturalmente em quem consegue comer bem, na medida certa, nos intervalos corretos, com consciência, tranquilidade e prazer.

Abandone de uma vez por todas dietas muito restritas, evite ficar muito tempo sem se alimentar, estabilize sua glicemia, pratique atividade física e seu cérebro brilhantemente dará a resposta que você precisa: saúde!