Nessa coluna continuo com a participação de Filipe Medeiros, professor universitário, Especialista em Gestão e Marketing e sócio da Hashtag Marketing Inc.:
Muitos educadores associam o empreendedorismo a práticas empresariais que conflitam com valores educacionais, como a mercantilização do ensino. Além disso, o marketing é frequentemente visto como uma forma de apelação ou manipulação, o que gera – erroneamente – desconforto entre os professores. Conforme destacado em um artigo da Revista Brasileira de Marketing, “há uma resistência significativa entre educadores em adotar práticas de marketing, devido à percepção de que estas conflitam com os princípios educacionais”.
Outro ponto importantíssimo sobre a profissão docente, especialmente no Brasil, apesar de ser um fenômeno mundial, é que esta possui uma tradição de engajamento em causas sociais e políticas, muitas vezes alinhadas a ideologias de esquerda. Nesses contextos, o empreendedorismo pode ser percebido como uma prática alinhada ao neoliberalismo, gerando resistência. Um estudo da Revista Brasileira de Ciências Sociais aponta que “a associação do empreendedorismo a políticas neoliberais contribui para a resistência entre educadores”.
Além disso, é muito perceptível, no dia a dia, que alguns professores podem demonstrar resistência devido a uma visão egocêntrica de sua prática, acreditando que já possuem todo o conhecimento necessário. Somam-se a isso preconceitos internos entre diferentes áreas do conhecimento que podem levar à desvalorização de contribuições de colegas de outras disciplinas, como Educação Física (meu caso), quando se trata de temas como empreendedorismo e marketing.
Para superar essas barreiras, é fundamental promover uma reformulação nos currículos de formação docente, incorporando disciplinas que abordem o empreendedorismo e o marketing digital de maneira contextualizada e alinhada aos valores educacionais. Além disso, é necessário desconstruir preconceitos e fomentar uma cultura de valorização das soft skills, demonstrando que habilidades empreendedoras podem coexistir harmoniosamente com a missão educativa.