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Transferência de habilidades motoras no Treinamento MultiFuncional

Colunista: Mauro Guiselini

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Nos últimos anos, temos visto o surgimento de novas modalidades de exercícios, propostas de treinamento, acessórios e equipamentos, uma redescoberta de antigos acessórios – Kettlebell, medicinebol, caixas de saltos, cordas, pneus, barras e anilhas, e uma tecnologia muito avançada – telas de plasma nas esteiras, bicicletas, programas computadorizados que elaboram e memorizam treinamentos específicos, acesso a internet durante o treinamento…

O rápido desenvolvimento das máquinas computadorizadas utilizadas nos programas de condicionamento físico das academias, clubes e centros esportivos têm agora como concorrente ou aliado, dependendo da filosofia de trabalho do profissional que prescreve treinamento, acessórios e aparelhos de construção muito simples e “funcionais”.

Os clássicos métodos de treinamento, tradicionais no esporte de alto rendimento, são utilizados como as principais estratégias para conseguir de forma rápida um excelente condicionamento físico, diminuir a gordura corporal, aumentar a massa muscular – o treinamento intervalado anaeróbio alático, lático e aeróbio (agora popularmente conhecido como HIIT) e o circuit training com acessórios e aparelhos simples, de fácil construção, são métodos de treinamento muito populares.

Treinar de forma similar ao mundo real de movimento – atividades cotidianas, esportes, lutas, artes marciais e dança – é a principal proposta das modalidades de exercícios consideradas “multifuncionais”, ou seja, treinar o corpo de forma global, priorizando o movimento e não um grupo muscular de forma isolada; como se fosse possível isolar um músculo durante um determinado exercício!

Compreendendo o Princípio da Especificidade

Observamos que, em muitas situações práticas, a escolha dos denominados exercícios funcionais parece não estar de acordo com um dos princípios do treinamento físico, o da especificidade. Compreender a aplicação do Princípio da Especificidade é, portanto, fundamental para a elaboração das sessões de treinamento multifuncional, no nosso caso particular, a montagem das aulas ou sessões de treino.

Este princípio é baseado no fato de que as maiores mudanças funcionais e morfológicas durante o treinamento acontecem somente nos órgãos, nas células e nas estruturas intracelulares que são responsáveis pelo movimento. Um treinamento específico tem efeitos específicos sobre o organismo, ou seja, o organismo sempre se adapta de modo específico ao que lhe for oferecido. A adaptação do organismo sempre se faz de acordo com o estímulo a que ele foi submetido. É a chamada lei da qualidade do treinamento. Por isso, a prática de uma atividade física produzirá uma adaptação do organismo que será específica para esta atividade – uma pessoa que corre produzirá no organismo uma adaptação para correr; uma que nada, terá adaptação para nadar; outra que joga futebol terá adaptação para jogar futebol, e assim por diante. Essas atividades não são intercambiáveis. Se você toca violão, não adianta treinar tocar piano para melhorar o seu desempenho no violão, muito embora a sua capacidade musical para ler a partitura, conhecer os diferentes andamentos, memória, sensibilidade, criatividade, improvisação é utilizada tanto para tocar guitarra ou piano.

Os efeitos do treinamento são específicos para as partes e sistemas corporais solicitados. Isso quer dizer que se realizarmos um treinamento de força, os efeitos produzidos serão diferentes dos efeitos produzidos pelo treinamento de resistência. Um treinamento para a corrida de longa distância tem outros efeitos do que um para natação ou ciclismo; ainda que todas essas atividades sejam de resistência e tenham o mesmo componente metabólico predominante, as habilidades motoras são específicas.

A correta aplicação do princípio da especificidade tem ainda a vantagem de que os mecanismos neurais envolvidos são desenvolvidos, contribuindo para a utilização da força na execução correta do movimento, assim definida pelo esquema de inervação muscular específico da técnica. Relacionado a este princípio está o fenômeno “da transferência do treino”, cuja essência diz que a capacidade funcional aumentada durante o treinamento em um exercício pode aparecer em outro exercício. No caso dos esportes, lutas, artes marciais e dança, é importante analisar as ações motoras, ou seja, nas modalidades caracterizadas por ações cíclicas (andar, correr, pedalar, nadar, patinar), a especificidade reside na distância da prova e na velocidade durante a prova.

Quando as modalidades se caracterizam por movimentos acíclicos (ginástica artística, tênis, futebol, basquetebol, voleibol, handebol, futsal, boxe, dança etc), a especificidade é mais complexa e depende de um processo analítico das situações distintas e variadas que ocorrem. Nesse caso, é preciso analisar as situações técnicas e as exigências energéticas distintas de cada modalidade esportiva.

O mesmo ocorre quando o princípio da especificidade é utilizado no treinamento multifuncional que é aplicado para alunos comuns, sem pretensões de alto desempenho, como por exemplo, para indivíduos sedentários, idosos, cujo objetivo, entre outros, é melhorar as habilidades motoras funcionais e capacidades biomotoras utilizadas nas atividades cotidianas.

O que é transferido: habilidade ou capacidade

A habilidade motora multifuncional agachamento utilizada durante a aula é similar as situações cotidianas, tais como: sentar e levantar da cadeira ou sofá, agachar para pegar objetos. Realizar 2 ou 3 séries de 12 a 15 repetições do agachamento com o peso do próprio corpo, propicia a melhoria da força muscular, estabilidade, mobilidade, coordenação motora e consciência corporal, importantes capacidades biomotoras e, ao mesmo tempo, aperfeiçoa a habilidade de agachar.

O mesmo ocorre com o exercício “stiff”, movimento de flexão/extensão da coluna lombar e quadril, excelente para fortalecer os músculos extensores da coluna lombar e posteriores de coxa e glúteos, propiciando uma boa estabilidade da coluna, necessária para atividades cotidianas, como por exemplo, arrumar a cama.

No Treinamento MultiFuncional, o princípio da especificidade é aplicado considerando, para tanto, a similaridade entre as habilidades motoras funcionais praticadas com as habilidades motoras cotidianas ou esportivas (mundo real) que se pretende melhorar, isto ocorrendo, maior será a transferência para a nova situação.

É importante ressaltar que, conforme as teorias de aprendizagem motora, quanto maior for a similaridade entre as habilidades motoras, maior será a transferência para a nova situação. O que observamos, na prática, é a transferência das capacidades biomotoras, pois as habilidades motoras específicas, como o próprio nome diz são “específicas”: o salto em altura, o jump no basquetebol, a cortada no voleibol, forehand no tênis, chute voleio no futebol, nado costas, levantamento de peso olímpico, mortal com reversão na ginástica olímpica são habilidades motoras beneficiadas com o treinamento funcional?

Conclusão: a transferência ocorre!

Considerando que as habilidades motoras multifuncionais globais, multiplanares, multiarticulares – correr, saltar, agachar, avançar, puxar, empurrar, saltar, levantar e transportar, bater, rotar, ajudam a desenvolver as capacidades biomotoras equilíbrio, mobilidade, estabilidade, força, potência, velocidade, coordenação motora, consciência corporal, agilidade, necessárias para a realização das habilidades motoras. Podemos considerar que as capacidades são “transferidas” porém não se esquecendo que as habilidades motoras têm a sua especificidade.

O levantamento terra é “igual ao levantamento terra”, o mesmo acontecendo com o arremesso, agachamento ou supino reto no banco, eles são iguais às habilidades motoras cotidianas ou esportivas? No dia a dia não realizamos alguma habilidade motora na posição deitada, sobre um banco, fazendo flexões e extensões de cotovelos? Ficamos em pé, empurramos objetos!

Precisamos analisar, portanto, de forma muito precisa para afirmar que treinar determinada habilidade ajudará a melhorar outras… Lembrem-se, quanto mais similar forem, maior será a transferência para a nova situação!

Referências Bibliográficas
1. Aeberg E. Resistance Training Instructor. 2a. Ed. Champaign: Human Kinetics;2007
2. Barbanti, W. Formação do Esportista. Ed. Manole: São Paulo, 2005.
3. Boyle M. Functional Training for Sports. Champaing, IL: Human Kinetics, 2004.
4. Check, P. Scientific Core Conditioning. Check Institute: Vista (CA), 2005.
5. Guiselini, M. e Guiselini, R. Treinamento MultiFuncional. Instituto Mauro Guiselini: São Paulo, 2016
6. Hamill, J. e Knutzen, M.K. Bases Biomecânicas do Movimento Humano. 2ª. Ed. Editora Manole: São Paulo, 2008.
7. Jarmey, C. Músculos: uma abordagem concisa. Editora Manole. São Paulo, 2008.
8. Lippert, L.S. Cinesiologia Clínica e Anatomia. 4ª. Ed. Editora Guanabara Koogan: Rio de Janeiro, 2006.

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