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Sistema de correção táctil-cinestésico: quando e porque corrigir o aluno

Colunista: Mauro Guiselini

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Os principias objetivos pelos quais as pessoas procuram um programa de treinamento personalizado ou coletivo estão relacionados com a saúde & bem-estar, estética e performance.  Uma expectativa desses alunos é que tenham um atendimento satisfatório, com atenção e acolhimento e especificamente por meio de exercícios que, de preferência, sejam prazerosos e o professor consiga ajudá-los a alcançar os seus objetivos.

Um aspecto metodológico muito importante na ação pedagógica do professor, além do escolher os exercícios e métodos de treinamento – aqueles que são eficientes e prazerosos, que o aluno gosta, sente prazer em realizar – é fazer a correção e auxiliar a execução deles.

Este procedimento pedagógico é um dos fatores determinantes para que o professor tenha sucesso, demonstre que está envolvido no processo educativo, não é um simples contador de número de execuções.

Durante muitos anos, quando trabalhei como professor de ginástica coletiva, personal trainer e mesmo Diretor Técnico de Academias de Ginástica, foram inúmeras as vezes que escutei dos alunos a seguinte frase:

Quando estou fazendo exercício, não sei se estou executando corretamente... ninguém me corrige!

Muitos alunos das aulas coletivas e frequentadores das salas de musculação, pela falta de atenção, orientação específica, adequação dos exercícios de acordo com as reais necessidades, ausência de correção, auxílio para treinar e até mesmo incentivo (reforço positivo), foram em busca do atendimento personalizado, na tentativa de suprir todas essas necessidades.

Diante deste quadro, recomendamos que os profissionais que atuam como Personal Trainer, professores de aulas coletivas e musculação, estejam muito atentos em corrigir os alunos, utilizar boas orientação didáticas para que eles se sintam seguros, motivados e consigam perceber o seu progresso.

Os mecanismos de informação utilizados nas aulas

No treinamento personalizado ou individualizado, nas salas de musculação, os profissionais têm à sua disposição inúmeras máquinas e equipamentos com grande avanço tecnológico que são capazes de produzir um rápido aumento na força muscular.

O exercício extensão dos joelhos na máquina (foto 2), favorece o fortalecimento muscular; como o corpo está estabilizado, é considerado de baixa complexidade, de fácil execução. Se por um lado não há dúvidas de que as máquinas ajudam a melhorar a performance e reduzir as possibilidades de lesões, é possível que os alunos estejam se tornando cada vez mais dependentes das máquinas e, portanto, menos capazes de utilizar o sentido cinestésico para ajudar a realizar as contrações musculares.

Frequentemente, observamos, nas aulas coletiva ou na sala de musculação, alunos com dificuldade de realizar inúmeros exercícios, principalmente os sedentários inexperientes. É muito comum a modificação na postura básica do exercício, resultante de contração desnecessária de grupos musculares que estariam indiretamente envolvidos no exercício. Na avaliação multifuncional, apresentam muitos déficits de movimento – a falta de habilidade para realizar com um bom padrão as habilidades motoras decorrentes da pouca mobilidade, estabilidade, coordenação motora e consciência corporal.

Esses alunos precisam de orientação, participarem de exercícios multifuncionais educativos para corrigir os déficits de movimento.  É importante ressaltar que esses alunos não apresentam disfunções musculares (patologias); caso ocorra, é necessário a intervenção de um especialista – fisioterapeuta e/ou médico.

Quando o professor faz a demonstração do exercício, emite uma grande quantidade de informações que devem ser percebidas e decodificadas pelo aluno, que, por sua vez, deve responder executando o exercício demonstrado.

Na prática, o que notamos muitas vezes é a dificuldade do aluno em executar o exercício proposto sendo, portanto, necessária a intervenção do professor no sentido de realizar a correção. Quando o professor está ministrando uma aula coletiva, ou de forma personalizada, utiliza os seguintes tipos de informação

Figura 1. Tipos de informações utilizadas nas aulas personalizadas e em grupos (Guiselini, 2013)

Veja, na tabela abaixo, os tipos de informações e respectivas ações frequentemente utilizadas pelos professores, seja nas aulas de ginástica, nas salas de musculação ou no treinamento personalizado.

Tipo de informação

Ação do professor

1. Verbal

1.       Descreve verbalmente o exercício

2.       Faz a contagem

3.       Enfatiza pontos de estresse

4.       Dá feedback sobre a execução

5.       Chama atenção para o músculo que está trabalhando

2. Visual-gestual

1.       Demonstra o exercício

2.       Utiliza gestos e expressões faciais

3.Verbal-visual-gestual

1.       Demonstra o exercício

2.       Utiliza gestos e expressões faciais

3.       Simultaneamente, “fala enquanto demonstra

4. Táctil-cinestésica

1.       “Toca” nos diferentes músculos para corrigir a execução do exercício

2.       Segura nas diferentes partes do corpo para ajudar na execução do exercício

Tabela 1. Tipos de informação e ação do professor

Como citamos anteriormente, um fator determinante na boa ou má execução do exercício é o desenvolvimento do sentido cinestésico. O nosso corpo tem mecanismos perceptivos que fornecem informações a respeito da posição do corpo, do músculo que está contraindo, do grau de tensão/relaxamento, do equilíbrio, da contração do agonista e relaxamento do antagonista.

A capacidade de interpretar e executar respostas satisfatórias tem relação com o sentido cinestésico bem como as experiências anteriores adquiridas ao longo dos anos de treinamento.

Quando o professor está ministrando uma aula em grupo, ou de forma personalizada, utiliza um ou mais tipos de informação. Se essas informações não são suficientes para que o aluno perceba e realize de forma correta o exercício, faz-se necessária à utilização da informação táctil-cinestésica como mecanismo de correção.

O Sistema de Correção Táctil Cinestésico (SCTC)

Uma das formas de corrigir o aluno é por meio da correção que envolve o toque sobre o grupo muscular ou a região do corpo onde está sendo realizado a ação muscular. Esta forma de corrigir o aluno não é recente, muito embora seja desconhecida pela grande maioria dos profissionais de Educação Física que, muitas vezes, utilizam somente a correção verbal ou visual. Esta técnica é conhecida como Correção Táctil Cinestésica.

Nos anos 60, Margareth Rood, da South California University foi pioneira no uso de toque para reabilitação de lesões neuromusculares. Esta técnica é utilizada pelos fisioterapeutas nos programas de reabilitação, não sendo comum entre os profissionais que trabalham com pessoas saudáveis.

Segundo Michael G. Lacourse, PhD, da Califórnia State University, o STT – Sistematic T.O.U.C.H. Training – Sistema de Treinamento pelo Toque – não apresenta trabalhos experimentais que explicam cientificamente como este sistema funciona. Contudo, para o referido autor, esta técnica foi elaborada de acordo com vários princípios científicos que são bem conhecidos na fisiologia e aprendizagem motora.

De acordo com os fundamentos do Sistema de Correção Táctil-Cinestésica, a pele (através de seus receptores) é capaz de transmitir importantes informações cinestésicas sobre o músculo para o sistema nervoso central e é também capaz de realizar uma contração reflexa quando é tocado.

Isto é baseado nas evidências científicas que indicam que os receptores da pele são conectados com neurônios motores da coluna e do córtex sensorial e que, quando estimulado, estes receptores podem facilitar a contração muscular.

Os benefícios do Sistema de Correção Táctil Cinestésico

As experiências realizadas por professores e técnicos com o SCTC tem indicado cinco possíveis benefícios:

  1. Durante a contração muscular, o SCTC auxilia o aluno a dirigir a atenção para o movimento básico. Isto pode prevenir a perda de energia.
  2. O SCTC pode estimular o recrutamento adicional de fibras musculares durante o exercício.
  3. O SCTC propicia uma forma de biofeedback na qual o professor atua como “eletromiógrafo”. Este fato dá condição ao professor de avaliar o grau de tensão da contração durante o exercício.
  4. O SCTC pode ajudar a eliminar tensões desnecessárias e propiciar o relaxamento daqueles músculos que devem manter-se inativos durante o exercício.
  5. O SCTC pode ajudar a retardar os efeitos da fadiga muscular e ajudar a realizar repetições adicionais durante a série de exercícios.

O Sistema de Correção Táctil Cinestésico tem quatro passos para a sua realização:

Passo 1: Enquanto o aluno realiza o aquecimento geral e específico o professor observa de execução dos exercícios propostos. O período inicial da aula é uma excelente oportunidade para avaliar o nível de execução das habilidades, as eventuais dificuldades ou mesmo os erros adquiridos anteriormente.

Passo 2: O professor seleciona um exercício e fornece as informações sobre a estrutura e funcionamento dos músculos envolvidos no mesmo. O professor descreve verbalmente e executa o exercício, identificando a localização do músculo envolvido na respectiva parte do corpo que está trabalhando. Chama a atenção para detalhes quando necessário.

Passo 3: Os alunos realizam uma série simples de repetições enquanto o professor utiliza o toque para avaliar o grau de tensão no músculo motor primário, no antagonista e nos demais músculos envolvidos no exercício. O professor verifica se ocorre o desequilíbrio muscular, procurando identificar o nível de contração entre os músculos ativos e providencia um feedback para o aluno. O professor também aplica a técnica de “toque para relaxar”, para ajudar o aluno a compreender qual o músculo que deve estar relaxado durante a realização do exercício.

Passo 4: Após o período de avaliação, a sequência de contrações é gradualmente modificada através de feedbacks contínuos e instruções verbais durante as demais series e repetições. Quando o “toque” é usado no final das repetições ou das últimas series, pode ser efetivo para diminuir o início da fadiga muscular. Este procedimento permite que o aluno realize repetições adicionais.

Segundo Michael Lacourse, o SCTC utiliza seis técnicas de manipulação, cada uma com um objetivo específico, no entanto as duas mais comuns são:

  • Mantendo o toque: é realizado com a mão aberta colocada em contato com o músculo com o objetivo de avaliar o nível de contração do músculo envolvido. É usado também para dirigir a atenção do aluno para o músculo tanto durante a contração como no relaxamento.
  • Toque e apalpar/contrair: utilizados tanto para avaliar o nível de contração como para estimular um músculo durante a fase de contração dinâmica ou estática.

É importante ressaltar que em cada uma das técnicas de manipulação, acima citadas, estão incluídas a velocidade, intensidade e frequência do toque que, por sua vez, podem ser utilizadas durante cada um dos quatro passos do sistema e para cada aluno em particular dependendo das suas necessidades.

Estes fatores são considerados fundamentais para otimizar a sequência de contração muscular durante um exercício.

Aplicação Prática do Sistema de Correção Táctil Cinestésico

O SCTC é uma técnica que pode ser utilizada nas aulas em grupo, aulas individuais (personal training) treinamento esportivo, reeducação postural, para alunos iniciantes, intermediários e necessitam de ajuda para melhorar a qualidade de execução dos exercícios.

Para aplicá-la, é necessário que o professor tenha um conhecimento básico de biomecânica, sensibilidade e habilidade para “tocar no aluno”. Esta “habilidade de tocar no aluno” requer muita prática; é comum nas primeiras vezes o professor sentir dificuldade até o momento que adquira confiança na sua habilidade de corrigir. Quanto mais corrigir, melhor será a sua habilidade.

É necessário que ambos, professor e aluno, estejam motivados para realizá-lo. Este método tem como principal objetivo melhorar a eficiência de todos os métodos de treinamento, geralmente, utilizados pelos professores, nos diferentes exercícios, como por exemplo, na ginástica localizada, musculação, alongamento, no entanto, no treinamento personalizado é mais fácil. pois o professor tem somente um aluno para dar total atenção.

Uma vez que o professor consiga abrir os canais de comunicação entre a mente e os músculos do aluno, o treinamento pode ser muito mais eficiente e consequentemente mais motivante, ajudando inclusive, na permanência do aluno.

Como procedimento pedagógico e conduta profissional, o profissional deve informar aos seus alunos que durante as aulas irá utilizar diferentes tipos de toque para auxiliar aqueles que têm dificuldades para realizar determinados tipos de exercício que requerem mais coordenação e consciência corporal.

Durante uma sessão de treinamento personalizado (Foto 3), a informação cinestésica – mantendo o toque – ajuda o aluno a perceber a ativação muscular, ajudando na melhoria da consciência corporal.

Acima de tudo, quando o professor corrige o aluno, além da aprendizagem motora, dos benefícios neuromotores, está demonstrando interesse, dedicação, atenção pessoal e principalmente carinho.

Esta atitude pedagógica – correção com atenção, dedicação, interesse pela evolução do aluno/cliente, é determinante para a tão desejada aderência na prática regular do exercício físico.

Sugestão de Leitura

Guiselini, M e Guiselini, R. Treinamento Multifuncional: fundamentos teóricos e exercícios práticos. Instituto Mauro Guiselini, São Paulo, 2016 (E-BOOK)

Vídeos no Canal do Youtube Mauro Guiselini.

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