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Prescrição de treinamento personalizado: objetivos x necessidades

Colunista: Mauro Guiselini

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A palavra prescrição, de acordo com o dicionário Aurélio, significa: ato ou efeito de prescrever; ordem formal; preceito, ditame, regra; receita médica, indicação, sendo, portanto, utilizada pelos profissionais de saúde, entre eles, médicos, fisioterapeutas, psicólogos, nutricionistas e professores de Educação Física.

Sob o ponto de vista terapêutico, para a prescrição de um determinado tratamento, o profissional – médico, psicólogo, nutricionista, fisioterapeuta – na consulta inicial, realiza uma anamnese clínica para obter uma grande quantidade de informações para, a partir delas, determinar os procedimentos que o paciente/cliente deverá fazer. Isto inclui desde exames laboratoriais, exames de imagem e, uma vez efetuado o diagnóstico, prescreve o tratamento mais adequado às necessidades do cliente.

O profissional de Educação Física que, já há algum tempo, é considerado um profissional da área da saúde, tem a mesma missão e conduta similar aos demais profissionais da área: cuidar da saúde e bem-estar dos seus alunos/clientes. Entretanto, com uma atuação específica – a de prescrever os mais diversos tipos de exercícios: musculação, Pilates, técnicas de alongamento, treinamento funcional, CORE Training, entre outras modalidades, de acordo os objetivos e necessidade dos alunos/clientes.

A conduta do personal trainer, no que diz respeito à elaboração de um programa de treinamento deve, para tanto, considerar as cinco etapas do planejamento: Coaching, Avaliação Física Multifuncional, Interpretação dos Resultados, Prescrição do Treinamento e Aplicação Prática.

 

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Figura 1: As 5 etapas do planejamento do treinamento personalizado. (Guiselini, 2020)

Coaching e a importância do diagnóstico

Considero o diagnóstico como fundamental; isso inclui a entrevista inicial como um dos momentos mais importantes do trabalho do personal trainer pois, além de ser o primeiro contato (a primeira impressão marca!), muitas informações são obtidas nesse momento. Além da anamnese tradicional, aquelas perguntas relacionadas a antecedentes, histórico familiar, saber as principais metas/objetivos pelos quais o aluno/cliente está contratando o profissional é primordial. Além disso, o tempo esperado para alcançar esses objetivos deve ficar muito claro. Recomendo incluir as seguintes perguntas:

  1. Ao olhar no espelho, como se sente? Que nota dá para seu corpo?
  2. O que gostaria de mudar?
  3. Tem preferência em exercitar determinada região do corpo?

Estas perguntas ajudam o personal trainer a ter um conhecimento mais detalhado sobre a “imagem corporal do seu aluno”, o que é diferente da aparência física – cor dos olhos, peso corporal, quantidade de músculos e gordura, altura são, na realidade, como o aluno se sente com o próprio corpo, a dimensão emocional.

Entendo o coaching como parte fundamental do diagnóstico, como um processo dinâmico de conhecimento e ajuda, um relacionamento mútuo contínuo, para que o aluno consiga alcançar suas metas/objetivos com o auxílio do personal trainer. O personal trainer de sucesso vai além da mitocôndria!

Objetivos x necessidades: o grande desafio do personal trainer

No momento do coaching, o personal trainer tem a oportunidade de conhecer as metas/objetivos do aluno e, por meio da Avaliação Física Multifuncional – a aplicação dos testes de habilidades motoras funcionais, CORE e amplitude de movimento – conhecer as necessidades – os déficits de movimento – o que precisa melhorar para aproveitar melhor o treinamento, se exercitar de forma correta, sem riscos de possíveis lesões. (fig. 2)

 

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Figura 2: Objetivos x Necessidades (Guiselini, 2013)

 

O grande desafio para o personal trainer é compatibilizar os objetivos com as necessidades, pois muitas vezes o que o aluno/cliente deseja não é o que realmente necessita e vice-versa, diferente de um tratamento médico onde o paciente, goste ou não da prescrição médica, deverá seguir o tratamento recomendado, é um caso de saúde. No nosso caso – da prescrição de exercícios – muitas vezes isso não ocorre, o aluno tem preferência por determinado exercício ou mesmo deseja mudar alguma região do corpo e não segue as recomendações sugeridas.

O Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini realizou em estudo na Academia EDGE Life, em São Paulo, para avaliar a força e resistência do CORE dos alunos ingressantes e, a partir dos resultados, prescrever exercícios mais adequados considerando que quase a totalidade dos alunos declararam como um dos principais objetivos modificar a região abdominal – diminuir a gordura, melhorar a aparência, ter “barriga definida”.

No entanto, os resultados do teste “Prancha Ventral” mostram que muitos alunos que foram classificados como fraco – 9% – e regular – 19% – deveriam iniciar um programa de exercícios para melhorar a estabilidade e a consciência corporal antes de praticar exercícios para aumentar a força dinâmica e definição muscular (força hipertrófica) dos músculos do CORE.

De acordo com Boyle (2010) e MacGill (2007), a estabilidade do CORE deve ser desenvolvida antes da força dinâmica e potência, o praticante deve ser capaz de manter uma boa postura e estabilidade na prancha ventral por, pelo menos, 40 segundos (Teste de Mackenzie adaptado pelo Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini) para iniciar um programa de exercícios dinâmicos de flexão completa da coluna lombar e quadril.

A prescrição de exercícios deve considerar as necessidades do aluno

É muito comum entre os praticantes de exercício físico que desejam aumentar a massa muscular rapidamente, diminuir a porcentagem de gordura e emagrecer vários quilos num curto espaço de tempo, realizarem exercícios intensos ou mesmo complexos sem, contudo, estarem preparados – pouca estabilidade, mobilidade, consciência corporal e coordenação motora propiciam a execução inadequada e o aparecimento, no curto/médio prazo, de lesões musculoesqueléticas. Ombros, coluna lombar e joelhos são regiões do corpo que sofrem quando a qualidade do movimento é comprometida. Para maior segurança e eficiência do treinamento, recomendamos a realização de testes multifuncionais que avaliam aspectos qualitativos do movimento incluindo os testes: habilidades motoras básicas, CORE e amplitude de movimento (ADM).

Os alunos/clientes, quando iniciam um programa de treinamento personalizado, não têm como objetivo melhorar o encurtamento do sóleo, aumentar a estabilidade da região lombar, executar corretamente o agachamento, desenvolver a mobilidade dos ombros e músculos posteriores da coxa… Na maioria das vezes desejam, é claro, ganhar músculos, emagrecer ou ficar em forma, portanto, o seu desafio é, por meio de uma boa avaliação, mostrar o que necessitam corrigir sem, contudo, perder o foco, ou seja, o objetivo pelo qual você está sendo contratado.

Referências
1. Boyle, M. Functional Training for Sports. Human Kinectics: Champaing, IL,2004.
2. Clark, M. et al. NASM essential of Personal Fitness Training. 3a. ed. Lippincot Willians & Wilkins. Phyladelphia, 2008.
3. Guiselini, M., Guiselini, R. Sistema Avaliação Física Multifuncional. Instituto de Ensino e Pesquisa Mauro Guiselini. São Paulo, 2016.
4. McGill, S. Low Back Disorders: Evidence Based Prevention an Rehabilitation. Human Kinectics: Champaing, IL , 2007.
5. McGill, S. Ultimate Back Fitness and Performance. 3a. ed. Backfitpro Inc. Waterloo, 2004.

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