Você já parou para pensar em quem são os verdadeiros beneficiários das pesquisas sobre saúde e exercícios físicos? Em um rápido olhar sobre as estatísticas das academias, constatamos que apenas 5% da população brasileira está regularmente engajada em atividades físicas nestes ambientes. Paradoxalmente, a maioria das pesquisas científicas adota um p-valor de 95% para garantir a confiabilidade dos seus resultados. Isso me levou a uma reflexão intrigante: será que nossas intervenções em saúde estão realmente atingindo quem mais precisa delas?
Essa pergunta nos leva ao cerne de uma discussão muito mais ampla e necessária. Ao nos concentrarmos nesse pequeno grupo que já pratica atividades físicas, ignoramos uma vasta maioria que permanece sedentária. Esta situação foi pensada de acordo com o princípio de Pareto de 80/20, sugerindo que a maior parte de nossos esforços pode estar beneficiando apenas uma pequena parcela da população.
A questão central aqui é a seguinte: se reconhecemos o exercício como uma solução potente para inúmeros problemas de saúde, por que então falhamos em adaptar essa “medicação” para as massas? Em minhas aulas, sempre desafio meus alunos a pensar além do círculo daqueles que naturalmente gravitam em torno das academias, e a considerar maneiras de engajar aqueles que veem o exercício como um fardo, e não como um benefício.
Este desafio exige uma abordagem mais integrada, que transcenda o comportamental e abrace o biopsicossocial, englobando aspectos psicológicos e sociais que influenciam o estilo de vida de uma pessoa. Apesar dessa necessidade clara, frequentemente nos perdemos em debates sobre qual tipo de exercício é superior para a perda de peso, se treinos de força são mais eficazes que aeróbicos, ou se deveríamos priorizar séries de repetições mais longas ou mais curtas.
Quando nós, como profissionais de saúde, reconhecermos a necessidade de uma sociedade fisicamente mais ativa, talvez possamos começar a ver nossos clientes não como atletas, mas como seres humanos que precisam de cuidados ajustados às suas realidades e necessidades. O entendimento desse aspecto é fundamental e precisa ser o foco de nossa atuação profissional. Esta reflexão não é apenas um chamado para uma mudança na forma como pensamos sobre saúde e exercício, mas um convite para reavaliarmos quem realmente estamos servindo com nosso trabalho.