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Saúde dos adolescentes: mais do que uma oportunidade de mercado, um caso de saúde pública

Colunista: Angelo Dias

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Em 2019, a Organização Mundial de Saúde (OMS) fez um alerta preocupante:

“No Brasil, mais de 8 em cada 10 adolescentes não praticam atividades físicas regularmente. O sedentarismo é ainda mais grave entre as meninas brasileiras: 89% delas se exercitam muito pouco, contra 78% dos garotos”.

Como consequência dessa triste realidade, o Dr.Pedro Schestatsky, em seu livro Medicina do Amanhã (2020), afirma que “pela primeira vez na história da humanidade, alguns estudos mostram que nossos netos correm o risco de morrer mais jovens do que as gerações anteriores”.

Esse é um dos motivos pelos quais o Manifesto de Promoção da Atividade Física Pós COVID-19 (2021), traz em sua recomendação número 5, a seguinte orientação:

Focar no aumento dos estímulos e das oportunidades para o exercício de uma vida mais ativa no contexto da escola. Na retomada das atividades presenciais, será necessária uma profunda revisão do ambiente escolar, transformando-o em um polo promotor da atividade física combinado com a redução do comportamento sedentário, promovendo, dessa forma, a saúde ao longo da vida.

De acordo com o Guia de Atividade Física para a População Brasileira (2023), produzido pelo Ministério da Saúde, o comportamento sedentário envolve atividades realizadas quando se está acordado sentado, reclinado ou deitado e gastando pouca energia. E esse é o comportamento mais comum entre os adolescentes.

Em artigos anteriores, já orientamos que a sua saúde pede M.A.I.S.: Movimento diário, Alimento natural, Inteligência emocional em equilíbrio e Sono reparador, uma prática que vai nos levar na direção da longevidade saudável. Os adolescentes estão na direção contrária dessa recomendação. Eles praticam Movimento raro, Alimentação “sobrenatural”, Inteligência emocional em desequilíbrio e Sono insuficiente.

Como conseguem?

Segundo o Mestre Altamiro Botino, em uma live que realizamos sobre tecnologia aplicada à nossa área, na série Educação Física do Amanhã (@efdoiff, 2020), o adolescente não tem a “percepção do dano”.

Lembrando que a adolescência é o período entre 12 e 18 anos, sabemos que nessa fase da vida a fisiologia está do nosso lado. Portanto, mesmo não praticando o autocuidado, o adolescente segue sem perceber os malefícios que está causando à sua qualidade de vida.

Desde 2015, tenho trabalhado com Educação Física escolar no ensino médio. É notório que a cada ano, recebo cada vez mais um maior número de sedentários, confirmando os dados supracitados.

Comecei, inclusive, utilizando uma anamnese tradicional para conhecer melhor os alunos antes de iniciar as aulas práticas, mas nesse ano de 2023, decidi experimentar o Pentáculo do Bem-estar de Nahas (2000), para avaliar o estilo de vida dos alunos do primeiro ano; instrumento que continua confirmando o comportamento sedentário dos jovens.

Além de ficarem muito tempo do dia sentados ou deitados, eles apresentam mais três comportamentos bem prejudiciais à saúde:

  1. Postura muito ruim para sentar e deitar: para continuarem com celulares ou computadores por mais tempo, acabam promovendo uma postura hipercifótica ou que pode levar a uma escoliose no longo prazo. Tudo começa postural, mas sem o devido cuidado, pode se tornar estrutural.
  2. Essa exposição às telas tem proporcionado sono insuficiente para essa geração. Eles dormem tarde assistindo séries ou jogando videogames e precisam acordar cedo para ir para a escola, lembrando que eles precisam de 8 horas por dia de sono para a saúde e que eles têm uma média de 4 horas apenas; o resultado é cansaço constante.
  3. Para completar essa lista, temos uma alimentação rica em excessos de açúcar, gordura e sal. Três ingredientes que ampliam as chances dos adolescentes ficarem obesos e adquirirem doenças como hipertensão e diabetes.

Quem poderá defendê-los?

Essa missão precisa de uma força tarefa: pais, professores e os próprios adolescentes irão trabalhar juntos nessa difícil empreitada.

O papel dos pais

E tudo começa com os pais! Por quê? Segundo a neurociência, temos até os 12 anos para tentar tudo que pretendemos ensinar para as crianças sobre valores, habilidades motoras e hábitos saudáveis. Depois dessa idade, quando já são adolescentes, a mudança de hábitos torna-se mais difícil.

Fiz uma live com a Sâmia Luiza, professora de Educação Física e Nutricionista, que em 2020 estava fazendo a introdução alimentar do seu primeiro filho. Fiquei tão impressionado com o que ela estava proporcionando de experiências saudáveis para ele, que a convidei para uma conversa para orientarmos outras mães. E foi então que continuei acompanhando no seu instagram o desenvolvimento do Benício, que está cada dia mais saudável, pois desde cedo se acostumou com legumes, frutas e verduras em sua alimentação, além da prática regular de atividade física que começou com a natação para bebê.

Orientações nutricionais

Descascar mais e desembalar menos, ampliar o tempo de mastigação e evitar as telas (televisão, computador e celular) durante as refeições são orientações do Guia Alimentar da População Brasileira (Ministério da Saúde, 2014). Soluções simples, mas difíceis de implementar. Exige muita disciplina dos envolvidos no processo, mas o resultado positivo na saúde compensa.

O grande desafio do momento é o uso saudável das telas. É muito difícil explicar para um nativo digital que ele precisa passar um tempo do dia sem o celular. Pais e professores ainda não sabem lidar com esse desafio. A proibição ou o castigo não funcionam com essa nova geração. E a negociação com eles exige paciência e bons argumentos para convencimento. E mais uma vez, essa conversa começa em casa e deve receber o apoio dos professores na escola. Trata-se de um processo educativo e como tal, exige paciência, orientação e constância. Qualquer proposta de conscientização para mudança de hábito irá depender desse tripé.

Não há culpados, mas somos todos responsáveis. E como diz o Dr. Alexandre Kalache sobre a prática do autocuidado: “quanto mais cedo melhor, mas nunca é tarde para começar”.

O melhor é copiar o modelo da Sâmia e iniciar os hábitos saudáveis com seu filho ainda bebê, orientando e acompanhando o processo até os 12 anos. Orientar para um estilo de vida saudável com Movimento diário, Alimentação natural, Inteligência emocional em equilíbrio, Sono reparador e o uso consciente das telas.

Se chegamos na adolescência fazendo tudo ao contrário, será necessário a parceria casa/escola, pais/professores/adolescentes para promover essa mudança. Por isso, o manifesto supracitado descreve a escola como um polo promotor de um estilo de vida saudável.

Bora salvar essa geração!

Para aprofundar os estudos sobre o tema, recomendo:

SCHESTATSKY, Pedro. Medicina do Estilo de Vida: como a genética, o estilo de vida e a tecnologia juntos podem auxiliar na sua qualidade de vida. São Paulo: Gente, 2020.

Manifesto de Promoção da Atividade Física Pós COVID-19: urgência de uma chamada para a ação (2021).

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