Em artigos anteriores, nas edições 83 e 84 desta revista, abordamos a importância da retenção dos talentos nas empresas de serviços em fitness & wellness, assim como em todas as demais, como uma relevante estratégia de criar diferencial competitivo baseado no portfólio de competências, vale dizer, capital intelectual que nela atua. Não se discute mais se isso deve ou não ser uma estratégia de gestão, mas sim como isso deve ser feito de modo a potencializar os talentos humanos, com menores custos e de forma continuada, de tal modo que se transforme em um traço característico da cultura organizacional dessas empresas.
Da mesma forma, podemos afirmar que reter e atrair talentos está diretamente ligado à riqueza da experiência de cada colaborador na sua empresa. Em outras palavras, é fato inquestionável que profissionais da era do conhecimento buscam cada vez mais empresas para trabalhar que valorizem suas capacidades, ofereçam oportunidades de crescimento por meio de desafios profissionais e que invistam concretamente em ações capazes de criar atmosferas favoráveis a tudo isso.
Em outras palavras, esperam encontrar nas empresas onde trabalham um clima organizacional capaz de propiciar o cumprimento de seus propósitos profissionais, o engajamento nas causas que os mantém conectados à missão de gerar melhorias na vida das pessoas e no mundo em que vivem, já que são profissionais ligados à qualidade da vida e do bem estar.
Cada vez mais é visível que profissionais de serviços em fitness & wellness abandonam a perspectiva “rasa” de gerar ganhos estéticos e de performance física para, numa visão ampliada de sua profissão, investir na oferta de serviços capazes de melhorar a vida de seus clientes nas suas múltiplas dimensões.
O contexto da pandemia que ainda impacta praticamente todo o mundo nesse final de 2020 foi uma oportunidade de perceber o quanto a qualidade da vida é geradora de benefícios que favorecem uma saúde mais consistente, incluindo aí não somente a saúde física, mas também a saúde mental, capaz de fazer frente e resistir a desafios inusitados aos quais seremos expostos daqui por diante.
Portanto, nesse momento, torna-se importante considerar não somente a qualidade da vida de nossos consumidores/clientes para, expandindo o olhar, analisar se o ambiente de entrega dos serviços em fitness & wellness é também gerador de bem estar e qualidade de vida para os profissionais que respondem pela entrega objetiva desses serviços à sociedade, emergindo desse olhar a seguinte questão: a sua empresa é um bom lugar para se trabalhar?
Dicas para transformar sua empresa em um bom lugar para trabalhar
A pergunta deriva-se de uma constatação sobre a qual não pairam mais dúvidas no mundo dos negócios, especialmente no segmento de prestação de serviços: entregas de qualidade aos clientes externos somente são possíveis quando os clientes internos (colaboradores) se sentem respeitados, valorizados e com prazer de lá trabalharem. Em síntese, podemos afirmar que “pessoas que não se orgulham de onde trabalham, não têm muito mais do que se orgulhar, nem mesmo do que fazem. Apenas trocam dinheiro pela realização de tarefas que lhes são atribuídas”, impactando diretamente na qualidade do atendimento aos clientes.
Assim, e baseado nas orientações contemporâneas para a gestão de pessoas nas organizações, nos critérios propostos por Friedman (2020) em sua obra The Best Place to Work, e ainda nos indicadores propostos pela metodologia de certificação Great Places to Work® convidamos você, gestor, a refletir sobre 9 (nove) elementos que podem caracterizar sua empresa, e que lhe apresentamos sob a forma de “dicas” no quadro 1 a seguir, de modo que ela torne-se um lugar onde os colaboradores sintam prazer em lá estar, fazendo muito bem o que sabem e buscando continuamente a melhoria desse fazer e a satisfação e encantamento dos seus clientes.
Quadro 1 – Dicas para transformar empresas fitness & wellness em um bom lugar para trabalhar
Manter comunicação honesta e transparente | Missão, visão, valores, metas, resultados, mudanças devem ser comunicados continuamente – e de modo claro – aos colaboradores, gerando participação, autonomia e confiança na empresa e sus gestores.
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Oferecer integração efetiva e de qualidade aos colaboradores novatos | A integração visa a facilitar a socialização dos novos colaboradores. Estudos diversos, na área de gestão de pessoas, relatam que quanto mais rápido o colaborador se adapta ao ambiente de trabalho, menor é seu nível de estresse, além do desempenho aumentar rapidamente, pelo acolhimento percebido.
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Capacitar líderes para dar e receber feedback | Líderes precisam manter um canal aberto, de duas vias, para oferecer feedback aos colaboradores sobre desempenho profissional ou do negócio, e receber deles suas percepções sobre todos os aspectos ligados ao dia a dia do negócio.
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Criar formas alternativas de reconhecimento profissional | Profissionais precisam ter seu valor, ser percebidos pelos outros e obter reconhecimento disso no ambiente de trabalho. Além da remuneração e benefícios, é possível criar formas alternativas de reconhecimento e recompensa de colaboradores de tal modo que fique claro que desempenhos que superam expectativas são incentivados, bem vistos e recompensados.
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Oferecer recompensas peculiares com base em particularidades pessoais. | Enquanto para alguns colaboradores, é mais interessante que sua empresa custeie parte de um curso de pós-graduação, para outro pode ser mais relevante um bônus financeiro ou algum outro tipo de premiação por reconhecimento. O importante é manter a equidade nas recompensas, o que não significa o mesmo para todos. Ideal é que colaboradores recompensados possam escolher.
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Desenvolver programas sociais e engajar seus colaboradores | Promover ações de natureza social em comunidades próximas à empresa, incentivando a participação dos colaboradores nelas, além de fortalecer o relacionamento interpessoal entre eles desenvolve o orgulho de trabalhar na empresa por percebê-la cidadã.
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Ser agressivo na política de treinamento profissional | Desenvolvimento profissional é essencial para manter colaboradores engajados e convictos que seu crescimento é bem visto pela empresa, criando, por consequência, um clima organizacional favorável. Investir em palestras, seminários, workshops e capacitações frequentes sobre conhecimentos úteis aos colaboradores torna o capital intelectual a moeda circulante na empresa.
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Ser flexível sem perder foco e propósito
| Flexibilização das regras, normas e procedimentos da empresa, quando isso for uma demanda coletiva de colaboradores, pode fazer a diferença no clima da empresa e resultar em melhorias no desempenho das pessoas, nos resultados do negócio e no reforço a um modelo mental flexível frente a desafios e inovações no negócio.
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Investir em programas de gerenciamento do estresse | Sabe-se bem que o estresse é um fator emocional altamente dispendioso para uma empresa e que sua ação é inversamente proporcional à qualidade do clima interno de uma empresa. Assim, investir em programas para o controle e gerenciamento do estresse em empresas que têm nas relações interpessoais a forma de entrega objetiva dos serviços a clientes pode contribuir significativamente para aumentar o bem-estar dos colaboradores, criando, por conseguinte, a cultura de vivenciar aquilo que se propõe a entregar aos consumidores, ou seja, qualidade de vida.
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Fonte: o autor
Em síntese, podemos afirmar que com base nesses itens, que descrevemos acima, não temos como garantir que teremos climas paradisíacos de trabalho no padrão Disney, Google ou algo do gênero, seja pelo próprio modelo de gestão adotado por nossas empresas, seja pela natureza do negócio ou ainda pelo perfil dos profissionais que nelas atuam.
Por outro lado, podemos sim, afirmar, que atendendo a essas “sutis” diretrizes, levaremos nossas empresas do segmento fitness & wellness a patamares superiores no que diz respeito à gestão de pessoas, satisfação com o trabalho e, por conseguinte, qualidade nas entregas a clientes, o que pode ser considerado estratégico em um contexto tão competitivo como é o nosso.
Por um lado, temos as empresas que se propõem a entregar preços baixos, estrutura física sofisticada e “liberdade para treinar” e enxergaram uma fatia do mercado consumidor alinhada com essas entregas, podendo afirmar que conseguiram e conseguem prosperar, o que se confirma pelos números crescentes de faturamento e abertura de unidades pelo país e fora dele.
Por outro lado, é igualmente nítida a existência crescente de uma demanda por diferenciação, acolhimento, personalização e inovação nas entregas de serviços, o que exige entrega pessoal, comprometimento, engajamento dos profissionais, que para isso precisam sentir-se igualmente acolhidos e desafiados a crescer pelas empresas nas quais atuam.
Por derradeiro, encerramos este breve artigo com a pergunta que o intitula, propondo uma reflexão e algumas tomadas de decisão, meu caro gestor:
Sua empresa é um lugar onde quem lá trabalha tem prazer em lá estar?
Referências
FARIAS, E.; QUARESMA, L. F.; VILAÇA-ALVES, J. M. Avaliação da Qualidade de Serviços em Centros de Fitness no Rio de Janeiro: proposta de instrumento específico para instrutores. PODIUM Sport, Leisure and Tourism Review, v. 8, n. 2, p. 151-173, 2019.
FRIEDMAN, R. The Best Place to Work: The Art and Science of Creating an Extraordinary Workplace. Tarcher Perigee Reprint Edition, 2015.
IVANCEVICH, J. M. (Org.). Gestão de Recursos Humanos. 10. ed. AMGH Editora, 2009.
ROSA, F.; OLIVEIRA, L. A. O feedback assertivo como fator motivacional. Maringá Management: Revista de Ciências Empresariais, Maringá, v. 9, n. 2, p.29-38, dez. 2012.
VENLIOLES, F. M. Manual do Gestor de Academias. RJ: Sprint, 2005.