Dando continuidade a um artigo anterior que publicamos na edição 76, relacionado ao combustível do desenvolvimento empresarial em cenário de alta competitividade – o processo de inovação em empresas fitness & wellness – partimos hoje de algumas conversas com gestores que nos procuram para discutir a possibilidade de implantar este “modelo mental” em suas empresas, convencidos de que este é um caminho de prosperidade nos negócios. A eles sempre dizemos inicialmente que, mais do que implantar uma metodologia é mister a criação do HÁBITO de inovar nas empresas do nosso segmento.
Levando em conta o fato de que a maioria das empresas está totalmente focada e investindo pesado na qualidade das suas entregas aos clientes, é fato que pouco tempo sobra para pensar em inovar e para mensurar os resultados dessas ações. Então, surge imediatamente a pergunta: o que fazer? Bom, se levarmos em conta que o processo de desenvolver e tangibilizar novas ideias em um cenário competitivo como o nosso, é fácil compreender que inovação deixou de ser característica de “uns poucos iluminados” para transformar-se em fator de sobrevivência e diferenciação nos negócios, o que representa a imperiosa necessidade das empresas desenvolverem processos e ferramentas que possibilitem a inserção da inovação na rotina da prestação de serviços. Não é uma questão de fazer as entregas OU fazer inovações, mas sim fazer AMBOS, o tempo todo, como parte intrínseca do negócio.
Inovação radical e inovação incremental
Se por um lado a rotinização do processo inovador assusta os empresários que sempre mantiveram seu foco nas rotinas operacionais, por outro, e aí está a boa notícia, a inovação e sua gestão podem ser aprendidos e capilarizados para os diferentes níveis da empresa. Dos gestores ao pessoal da infraestrutura de apoio operacional todos podem ser inovadores e gestores da melhoria contínua em seus serviços. Obviamente, para que isso aconteça de forma ágil, é importante que tenhamos precocidade nas iniciativas voltadas ao desenvolvimento desta capacidade, ampliando assim o leque de competências duráveis que devem compor o portfólio de competências de todos os colaboradores da empresa.
É importante destacar que existem, segundo Barguil (2009) e Christensen (2012), dois tipos fundamentais de inovação que precisam ser conhecidas e potencializadas nas empresas de forma distinta: as inovações radicais e as inovações incrementais. As primeiras, RADICAIS, introduzem tecnologias, processos e bens/serviços que revolucionam o mercado e, por conseguinte, tornam obsoletos todos aqueles que os antecederam e que destinavam-se a resolver determinado problema ou atender a uma certa demanda. Já as INCREMENTAIS, são aquelas que introduzem melhorias e aperfeiçoamentos a métodos, processos, bens/serviços já existentes, fazendo com que aconteçam de forma diferente e, notadamente, com ganhos de qualidade, tempo ou alguma outra variável intrínseca em relação aos seus concorrentes.
Assim, como pode-se observar, não necessariamente é preciso apresentar uma “invenção” de algo que nunca existiu para que a inovação faça parte de sua empresa, mas sim, que seja implantada uma cultura de melhorias de tal forma que tudo aquilo que sempre foi feito da mesma forma possa ser revisitado e, quem sabe, ser incrementado por alguma característica que a diferencie dos concorrentes aos olhos dos clientes. O importante nesse processo, em ambos os tipos de inovação citados, é que esta melhoria seja perceptível aos olhos dos clientes.
Assim, inovar é algo que também pode ser realizado no cotidiano das empresas fitness & wellness desde que, para isso, seja implantada uma cultura de aproveitamento e utilização das boas ideias, transformando-se assim em um traço da cultura da empresa, um componente de seu DNA corporativo.
Mudando a cultura da empresa
Este papel de gestor da capitalização das inovações sugeridas pelos colaboradores é, inexoravelmente, ao nosso entender, dos coordenadores de atividades nas academias e centros de fitness. Por qual razão? Você deve estar perguntando! Pelo simples fato de que as demandas ou oportunidades de inovações, ligadas que devem estar a algum serviço específico ou processo ligado a ele, são mais facilmente perceptíveis pelos colaboradores e seus coordenadores do que por qualquer outro nível hierárquica da empresa, ou não?
Não há dúvidas quanto ao fato de que, qualquer mudança na cultura de uma empresa (entendida como conjunto de hábitos, práticas, valores e princípios praticados em seu dia-a-dia) demanda, para que logre êxito, um planejamento consistente seguido de ações alinhadas ao que foi planejado e aos objetivos e razão de ser do negócio (missão e visão). Para isso, sabemos que a implantação de uma “cultura de inovação” em empresas do segmento fitness & wellness, cuja característica é entregar serviços de uma forma geral bastante semelhantes aos dos seus concorrentes, não é fácil e, sendo assim, é preciso que as instâncias superiores, entendendo aí seu corpo gerencial, esteja não apenas envolvido, mas sim comprometido com a gestão dessas mudanças.
Fazer com que pessoas acostumadas a fazer algo sempre da mesma forma passem a pensar de forma criativa e inovadora as suas próprias ações não é tarefa das mais fáceis, mas, como dissemos anteriormente, plenamente possível desde que sejam estimuladas a fazê-lo e sintam-se recompensadas por fazê-lo. A isso chamamos de alinhamento estratégico e, aos seus desdobramentos em termos de premiações pela inovação, de recompensas, que, para que sejam feitos de forma justa, precisam praticar um princípio fundamental que é, “a cada um segundo suas contribuições”, o que somente pode ocorrer se forem definidos previamente indicadores relacionados a resultados tangíveis do negócio. Realmente não há grandes dificuldades para estabelecer essas diretrizes, mas…. começar este processo de mudança cultural depende de uma mudança do “modelo mental” de gestores e colaboradores, o que sabemos não ser tão fácil assim ainda que plenamente possível, uma vez que, como afirmamos no artigo anterior, “a inovação não está nas empresas, mas sim nas pessoas e nas suas formas de lidar com a realidade em busca de melhorias nela”.
Inovação disruptiva
Em um interessante debate de ideias em processos de consultoria a alguns gestores, interessados na cultura da inovação, mas absolutamente atônitos em relação a como fazê-lo, ficou evidente que suas dúvidas partiam de uma premissa que aqui descontruímos: a de que existem “momentos ideais” para implantar a prática e o estímulo ao pensamento inovador de todos os colaboradores, seja ele de natureza incremental ou radical. Christensen (2012) afirmava em sua obra-referência sobre esta temática, que a inovação jamais pode ser pensada como ação pontual. Para ele, a ação inovadora deve ser incorporada a todos os processos de gestão e rotinas operacionais de tal forma que a empresa passe a “funcionar de outra forma” na entrega de serviços a clientes, de tal forma que se diferencie radical ou sutilmente dos seus concorrentes, fazendo com que estes, ao invés de oferecerem ameaças no jogo concorrencial sejam convertidos em fornecedores, na medida em que a prática da inovação tenha produzido algo que eles sequer imaginaram oferecer aos seus clientes.
A estratégia mais inteligente de fazer isso, segundo ele, é inovar de modo “disruptivo”, ou seja, as inovações disruptivas são aquelas que, seja pelas margens de lucro menores, por alcançarem mercados-alvo menores, por produzir bens/serviços mais simples, ou ainda por oferecer ao mercado soluções absolutamente diferenciadas das demais para as mesmas demandas de clientes, fazem um estrago enorme na concorrência, mesmo que em um primeiro momento suas ofertas pareçam pouco atrativas em relação ao que está estabelecido, mas que aos poucos vai transformando as escolhas dos clientes a partir do fornecimento de novos critérios de escolha para bens/serviços que atendam suas demandas. Daí por diante, predomina a máxima “tudo que é sólido, tende a virar pó”.
Bom, mas a “inovação disruptiva” e suas aplicações no ambiente das nossas empresas fitness & wellness é o tema do nosso próximo artigo, que continuará abordando a inovação como estratégia de diferenciação mercadológica.
Caro gestor, se você quiser conversar ou saber mais sobre a temática que apresentamos aqui, escreva-me e terei o maior prazer de conversar sobre isso com você, OK? no próximo número, fechamos esta série com um novo artigo abordando ainda esta temática!
REFERÊNCIAS
CHRISTENSEN, C. M. O Dilema da Inovação. SP: MBooks do Brasil, 2012.
STEWART, T. A. Capital Intelectual: A Nova Vantagem Competitiva das Empresas. RJ: Campus, 1998.
SVEIBY, K. E. A Nova Riqueza das Organizações. RJ: Campus, 2000.
ZOPPI, I. G. Branding Relationship Management. Disponível em http://www.treebranding.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=126&Itemid=55&lang=pt. Acesso em 15/5/2016.