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Efeitos da Pandemia na Compreensão da Realidade e dos Negócios: do VUCA ao BANI em apenas um ano

Colunista: Edvaldo de Farias

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Recentemente, num contexto anterior à pandemia da COVID 19, muito se falou sobre uma mudança na forma de explicar a realidade, sob o ponto de vista dos modelos mentais que o novo cenário demandava. Apresentava-se como consenso, sem que lhe fosse imputada qualquer dúvida, de que era necessário compreender a realidade como sustentada pelos conceitos de VICA – Volatilidade, Incerteza, Complexidade e Ambiguidade, uma tradução direta em português do acrônimo VUCA, do original em inglês de Volatility, Uncertainty, Complexity e Ambiguity, criada no final da Guerra Fria pelas forças armadas dos EUA para explicar os cenários possíveis do mundo naquele momento.

Por consequência, era necessário adotar novas estratégias para enfrentar, sobreviver e vencer o que, em certa medida, induziu a adoção desse modelo conceitual, por volta de 2002, pelo ambiente de negócios e suas corporações como uma proposta de design para planejar e moldar estratégias disruptivas geradoras tanto de sobrevivência como também de diferenciação mercadológica.

Assim, amplamente difundido no mundo dos negócios, o modelo mental de compreensão da “nova” realidade, sugerido a gestores e profissionais das empresas, descrevia que o pensar estratégico agora era fator de sobrevivência num mercado volátil, incerto, complexo e ambíguo, o que demandava uma preparação para esta realidade, exigindo, portanto, flexibilidade e até uma certa dose de mutabilidade, requisitos essenciais à sobrevivência num mundo VUCA.

Porém, e aí convido você, gestor, de centros de fitness & wellness a uma reflexão: se uma coisa é a busca de explicações sobre as sensações pontuais vividas por cada um de nós e por nossos negócios, em um contexto que nunca experimentamos, outra coisa bem diferente é definir e descrever, quase que por determinismo, como será este mundo daqui por diante, que inclusive foi rapidamente denominado de “novo normal”, certo?

Ao que parece, o hábito de dizer como será o futuro (as famosas tendências) continua enraizado nas nossas mentalidades, mesmo que a toda hora nos deparemos nas nossas empresas com situações e desafios inusitados e para os quais não temos respostas, não é mesmo?

Ora, se o modelo mental VUCA tem como um de seus atributos exatamente a incerteza, como poderíamos afirmar que esse seria um “novo normal”? Contraditório, não? Nesse momento, é mais científico e menos determinista afirmar que “tudo que é sólido tende a virar pó”, o que se alinha com a própria ciência, com suas “poderosas verdades provisórias”, expressas pela relação dialética tese x antítese, da qual surge a síntese, que se mantém válida até ser objeto de novos questionamentos, demonstrando que o conhecimento avança não a partir das certezas, mas sim, das dúvidas, movendo o mundo não por gerar respostas, mas fazendo as perguntas certas.

Mais saudável ao universo business seria, portanto – e para fazer jus ao próprio conceito que se buscava explicar – se, ao invés de buscar uma solução, uma receita definitiva para a realidade, o interesse dos “cientistas dos negócios” fosse de buscar explicações para um momento verdadeiramente inusitado, com o qual deveríamos aprender a extrair formas diferenciadas de compreender a realidade, sentimentos dela advindos e, por conseguinte, um aprendizado de como lidar com essa nova realidade, volátil, incerta, complexa e ambígua. Mas definitivamente temos visto a escolha pela venda de um novo modelo, inédito, salvador e…. definitivo.

Porém, na busca desenfreada e precipitada pelas soluções simples para cenários complexos, assistimos à materialização do pensamento de Henry Louis Mencken quando afirmava que “para todo problema complexo existe sempre uma solução simples, elegante e completamente errada” ou, como afirmou recentemente Sinek (2020), temos hoje uma grande fragilidade e inconsistência na adoção de regras e estratégias finitas para jogos infinitos, que caracterizam o momento atual, onde não há vencedores.

Nesse contexto, aqueles que buscaram e buscam rapidamente oferecer explicações prontas e infalíveis para a realidade para ato contínuo, oferecer (vender) saídas e soluções mágicas para empresas e profissionais, deixaram, em plano secundário, a competência mais relevante para lidar com essa realidade, que é a capacidade de analisar cenários complexos.

Fazê-lo demanda um olhar estratégico, que significa ir além das explicações prontas e óbvias que temos, construídas a partir de percepções pré-concebidas da realidade, e que induzem à crença de que nada pode ser visto sob outra perspectiva.

Definitivamente, este modelo mental não dá conta de explicar a realidade que a pandemia criou nas empresas e nas pessoas, ou, em outras palavras, sem mudar as lentes com que observamos um fato, fenômeno ou cenário jamais será possível enxergar para além do que nos é visível e óbvio.

Se é a lente do observador que constrói percepções sobre o objeto, fato, fenômeno ou contexto observado, então é preciso sair do lugar comum das “receitas prontas e mágicas”, praticando o que preconiza a metodologia denominada Pensamento Crítico, que significa abordar um mesmo problema sob diferentes ângulos e perspectivas, fazendo perguntas à realidade e buscando perceber todas as possibilidades de respostas para, então, tomar decisões.

Assim, o conceito de mundo VUCA foi resgatado com toda força desde o início da pandemia, quando ela começou a dar sinais de que duraria bem mais do que uma quarentena e, por conseguinte, que as empresas, seus gestores e colaboradores precisariam desenvolver novas capacidades para navegar em um cenário volátil, incerto, complexo e ambíguo, como bem descreve seu acrônimo em inglês (RODRIGUES, 2018). 

Contudo, essa mesma pandemia vem demonstrando claramente que o conceito VUCA como explicação da realidade dos negócios tem sido insuficiente para encararmos as contingências que se apresentam, uma vez que pouquíssimas empresas e profissionais estão verdadeiramente prontos para o que acontece, e as certezas vêm sendo sistematicamente colocadas em xeque.

Nesse contexto, Cascio (2020), um antropólogo norte-americano, observando que o conceito VUCA não mais dava conta de explicar o mundo tomado pela pandemia, nos apresenta um outro, que busca compreender o cenário atual com base nas atitudes e comportamentos das pessoas, algo mais tangível e observável. Este é o mundo BANI, um acrônimo que significa “Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible”, ou, FANI que numa tradução livre representa, Frágil, Ansioso, Não-linear e Incompreensível. O acrônimo carregaria a chave para que empresas possam prosperar e trazer disrupções sob a nova ótica que surgiu em 2020.

Criando um paralelo intencional com o conceito de mundo VUCA, o autor propõe o mundo BANI como estrutura para articular situações cada vez mais comuns e nas quais a simples volatilidade ou complexidade são lentes insuficientes para entender o que está acontecendo.

Segundo ele, “estamos diante de situações em que as condições não são simplesmente instáveis, mas sim, caóticas; nos quais os resultados não são simplesmente difíceis de prever, mas completamente imprevisíveis. Além disso, estamos assistindo a situações em que o que acontece não é simplesmente ambíguo, é incompreensível.”

Detalhando cada um dos elementos do mundo BANI, o autor descreve que o mundo mostrou o óbvio a todos nós: estamos suscetíveis a catástrofes a qualquer momento, e todas as empresas e negócios deixaram claro que foram construídas sobre uma base quebradiça (frágil), que pode desmoronar da noite para o dia. Sob essa ótica, Cascio (2020) preconiza que é preciso aprender a trabalhar sabendo que o perigo está à espreita.

Além disso, o autor descreve que todo esse medo constante ocasionado pela fragilidade do mundo gera ansiedade, uma das doenças mais comuns e crescente nas gerações atuais. O mundo está ansioso, e isso se reflete no mercado de trabalho, pois ao viver no limite, observando as doenças e a morte cada vez mais de perto, construímos mentalmente um senso de urgência, que pode acabar pautando decisões nos negócios.

Ainda segundo o autor, vivemos um momento em que os diversos eventos parecem desconectados e desproporcionais, graças ao estranhamento e esgotamento ocasionados pelo isolamento social. Sem uma estrutura definida de forma plástica (não-linear) não é possível fazer organizações saudáveis e produtivas por muito tempo e, por isso mesmo, planejamentos excessivamente detalhados e de longo prazo podem não fazer mais sentido em um mundo BANI.

Por fim, o autor defende a ideia de que o momento exige que esqueçamos a lógica tal qual a conhecemos hoje, pois o que se vive é uma busca por respostas que não fazem sentido, dada a sobrecarga de informações, que acaba dificultando nossa capacidade de entender o mundo, tornando difícil distinguir ruído de sinal, falso de verdadeiro. A incompreensibilidade é o estado final da “overdose informacional” e, por isso mesmo, não existe mais certeza sobre nada, o que transforma o excesso de controle em uma farsa.

Resumidamente, o mundo não é mais volátil como definido no conceito de mundo VUCA, mas sim frágil, assim como os sistemas sociais, incluindo as estruturas de nossas empresas. Da mesma forma, o mundo BANI mostra-se ansioso ao invés de incerto como era no mundo VUCA, e o chamado “Fear of Missing Out”, ou seja, no nível do inconsciente, independente da quantidade de conteúdo que se consome a cada dia, permanece a sensação de estarmos sempre perdendo algo importante.

Deixando o status de complexo, o mundo BANI mostra-se não-linear, já que as relações de causa e efeito se mostram cada vez mais indistinguíveis. Por fim, para além de poucas possibilidades que caracterizam a ambiguidade do mundo VUCA, o mundo se mostra incompreensível, na perspectiva BANI, dada a multiplicidade de possibilidades que muitas das vezes não são sequer conhecidas pelas pessoas e negócios.

Assim estimados gestores, como forma de contribuir com a construção de um futuro nada previsível, segundo a lógica do mundo BANI, mas para o qual é preciso estar preparado e planejando nossos negócios, sugerimos a vocês, com base na proposta de Cascio (2020), algumas ações que devem ser compartilhadas com suas equipes para que, apesar de 2020, o ano que se inicia em breve (2021), seja promissor e próspero para os seus negócios, encontrando sua empresa e seus colaboradores preparados para o que ainda está por vir. São elas:

Fragilidade

Deve ser enfrentada por meio do desenvolvimento da resiliência e liberdade.

Ansiedade

Pode e deve ser diminuída pelo exercício diário da empatia e atenção plena.

Não-linearidade

Demanda a prática da flexibilidade em função dos diferentes contextos possíveis.

Incompreensibilidade

Deve ser superada pela prática da transparência e uso da intuição.

Em síntese, essas são atitudes, reações e posicionamentos, muito mais do que “soluções” para o momento em que estamos e estaremos no próximo ano, porque ao invés de sugerir que sejam transformados em padrões, optamos pela possibilidade de que sejam respostas que possam ser encontradas para o que está por vir nas nossas vidas e nos nossos negócios.

Referências

CARNIELLI, W.; EPSTEIN, R. L. Pensamento Crítico: O Poder da Lógica e Argumentação. SP: Rideel, 2019.

CASCIO, J. Facing the Age of Chaos. Institute for the Future. Disponível em https://medium.com/@cascio/facing-the-age-of-chaos-b00687b1f51d. April/29/2020. Acesso em 9/dezembro/2020.

RODRIGUES, V. Líder Ágil, Liderança VUCA: Como liderar e ter sucesso em um mundo de alta volatilidade, incerteza, complexidade e ambiguidade. SP: Editora Independently Published. 2018.

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