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O sarrafo subiu

Colunista: Celso Cunha

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Bons tempos aqueles quando inauguração de academia era um evento! Pessoas se deslocavam quilômetros para treinar em uma unidade top com bons equipamentos, professores atenciosos e estrutura condizente. Ou até mesmo porque estava na moda.

No final da década de 1980 estimava-se que menos de 1% da população no Brasil se exercitasse em academias. Esses eram rotulados como a exceção, os modernos. O mercado de fitness engatinhando ofertava atividades como ginástica aeróbica e musculação e era só isso mesmo. Nos Estados Unidos, Jane Fonda, famosa atriz, bombava com suas aulas de ginástica televisivas coreografadas e vendia milhões de fitas K-7 com séries de exercícios em oito tempos musicais. Por aqui íamos a reboque, estilo jacaré na beira da praia. Surge a primeira rede de academias no Rio de Janeiro, chamava-se Corpore. Estrutura gigante para a época, com seis unidades, profissionais treinados e um grande investidor visionário como empreendedor.

Planos econômicos e a sua academia

Vendia-se plano anual em doze cheques pré-datados e as coisas iam bem até que com o Plano Collor, do ex-presidente Fernando Collor de Mello (1990/1992), contas corrente foram bloqueadas e os cheques em sua maioria não compensaram. Era o fim ainda precoce do que parecia ser a guinada do mercado fitness. O mercado ainda pulverizado oferecia serviços de atividade física em academias de bairro, normalmente o “dono” era o “professor”. Em São Paulo, principalmente na zona sul, a estrutura era melhor, com mais investimento, academias como Runner e Cia Athlética já eram grife. No Rio de Janeiro surgia a primeira unidade da Bodytech em Ipanema (1994).

Com o Plano Real de Fernando Henrique Cardoso (1995/2002) a economia retomou o crescimento com a inflação se mantendo baixa, na casa de um dígito percentual anual, as pessoas podiam se programar sem as constantes remarcações de preços que chegou a 84% no último mês do governo Sarney.

Momento propício ao crescimento econômico no país e o otimismo tomava conta do mercado em geral. Durante décadas, altas taxas de juros e planos econômicos, cortavam-se zeros, gatilhos salariais, escassez de produtos, greves, mudava-se a moeda tentando repor as perdas com a inflação. Por outro lado, quem investia em renda fixa, caderneta de poupança e open market recebia altos valores que logo se dissipavam com a inflação. Acreditem, havia uma aplicação financeira de uma noite (overnight) que pela manhã já rentabilizava. Era uma loucura que terminou com a chegada da URV e do Plano Real. Momento de adaptação ao novo cenário cuja opção era retirar parte do dinheiro de aplicações financeiras e investir em produção.

Inaugurei minha academia em 1995, mesmo ano da estréia da novela/série Malhação na Rede Globo, com altos índices de audiência e propagava a prática de atividade física para o público adolescente. Havia dificuldade na contratação de profissionais nessa área, eram os mesmos que se revezavam em unidades não muito próximas, embora aos poucos, as universidades incluíssem o curso de Educação Física em suas graduações. Lembro de ter recebido um rapaz forte que trabalhava como trocador em uma empresa de ônibus se candidatando a instrutor de musculação com a proposta de receber 40% da mensalidade como pagamento. Quando perguntei se ele havia se graduado em Educação Física ele sorriu e me perguntou: “Pra quê?”

Em um raio de três quilômetros, haviam oito academias na região em que instalei minha unidade. Mercado em mera expansão, economia estabilizada, ventos a favor. Vamos em frente.

O surgimento do modelo low cost

Surge a ACAD, Associação Brasileira de Academias, nos moldes da americana IHRSA, associação de academias de lá, onde se discutia soluções para questões comuns ao meio. Em 1998, é regulamentada a profissão de educador físico ou profissional de Educação Física, com o surgimento do CREF, Conselho Regional de Educação Física e CONFEF, Conselho Federal de Educação Física, que passaram a fiscalizar as academias e exigir a graduação de nível superior para atuar nessa área.

Com a demanda aumentada e a mídia a favor, a multiplicação no número de academias foi uma constante e as redes retomavam o processo de expansão e concentração com investimento e gestão profissional. A concorrência é o combustível para a evolução; com mais oferta o público se tornou exigente e os profissionais também. Academias climatizadas, piscinas aquecidas, estruturas pensadas para receber mais pessoas com o objetivo de fidelizar o consumidor, capacitação, atendimento e difusão da marca.

Surge então o modelo low cost/low price com investimento de fundos estrangeiros, derrubando os preços e captando, no mínimo, três mil clientes por unidade e afetando todas as academias num raio de dez quadras de proximidade. É o mercado de varejo atuando no atacado.
Às vezes as coisas vão bem, outras vezes nem tanto e vida que segue, até que em meados de 2014, Copa do Mundo de futebol no Brasil, começamos a sentir os primeiros sinais de queda no faturamento: “Copa do mundo é assim mesmo!”, “É inverno!”, “Tsunami nada, é apenas uma marolinha!”. E nos tornamos torcedores frustrados… Dessa vez não pelo 7 x 1 contra a Alemanha, mas pelo faturamento em queda que comprometia as finanças das empresas do país.

Crises e a retomada do crescimento

Em 2015, se assumiu que a crise era real, beirando a recessão e que o desemprego batia recordes. Com menos emprego, menos dinheiro circulando e menos pessoas consumindo. O consumidor fazia suas listas de prioridades as quais, em sua maioria, não incluía o gasto com academias. A situação se agrava com a crise política, rombos nos governos, governadores, ex-governadores, políticos, donos de grandes construtoras e até ex-presidentes presos graças à operação Lava Jato. Com a crise, estima-se que até 30% das empresas do país encerraram suas atividades, 64% das famílias estavam endividadas e o novo governo eleito com um abacaxi nas mãos.

Um ano depois da posse, os números começam a apresentar sinais de melhora e em dezembro de 2019 o consumo no comércio teve crescimento de 9,5% em relação ao mesmo período de 2018. O índice de desemprego vem diminuindo embora parte dos desempregados tenham se enquadrado na economia informal ou em pequenos negócios próprios. Dias melhores virão.

Dados da Associação Brasileira de Academias (ACAD) registram que são cerca de 33.000 academias em todo o Brasil, com cerca de 8 milhões de alunos/clientes. Esse volume movimenta aproximadamente US$ 2,5 bilhões, de acordo com o levantamento da associação há três anos, ou seja, R$10 bilhões aproximadamente. Esses números dizem respeito a tudo que envolve o fitness como instalações, equipamentos, acessórios, sistemas, salários, impostos e mensalidades, pois se dividirmos o montante pelo número de academias cada unidade apresentaria um faturamento bruto superior a R$300.000,00, o que não se comprova na prática.

Estejam atentos e preparem-se para receber quem se afastou de volta; ambas as partes estão saudosas e uma delas bem mais exigente. Como disse anteriormente, o sarrafo subiu!

Bons negócios e boa sorte!

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