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É o fim das aulas coletivas?

Colunista: Fernando "Fofão" Vieira

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Estamos nesse momento numa situação de isolamento social devido à pandemia do Coronavírus, sem ainda nenhuma certeza da possibilidade de retorno à “vida normal”, se é que teremos uma “vida normal” pós pandemia. Na minha opinião, muito vai mudar, algumas coisas não serão como antes, mas outras sofrerão forte influência dos genes ancestrais e das raízes dos seres humanos, permanecendo imutáveis mesmo nas dificuldades. Será o fim das aulas coletivas?

Vários órgãos e instituições ligados às academias e aos profissionais de Educação Física estão se antecipando com resoluções, protocolos e dicas para quando for possível abrirem os seus estabelecimentos, retomando suas atividades. As academias, clubes, projetos de rua, estúdios, boxes entre outros estarão nessa lista. Todos deverão se ajustar e se adequar às normas de segurança preconizadas. 

Nesse caso, muitos destes protocolos já divulgados em relação às aulas coletivas, me parece que dificultarão e muito a realização das mesmas. Colocando-se em prática as normas estabelecidas, algumas recomendações logo entrarão em uso como por exemplo:

  1. Diminuir a quantidade de horas na grade de aulas coletivas.
  2. Diminuir à frequência em pelo menos 50% da capacidade da sala.
  3. Os alunos/clientes precisarão estar a pelo menos 2 metros de distância uns dos outros.
  4. Talvez até será necessário que todos estejam usando máscaras.

Será que a população terá medo e insegurança em praticar qualquer atividade coletiva pós pandemia? Sobreviveremos a isso? Será o fim mesmo das aulas coletivas?

O ano que não começou

Esse ano de 2020 já está na história como o ano que não começou e provavelmente nem acabará direito. As academias e os profissionais do Fitness Coletivo precisarão se reinventar. Recriar novos formatos de aulas e atendimento aos clientes. Mas será mesmo inevitável que teremos de mudar tanto as aulas coletivas, ao ponto de se perder toda motivação e o calor humano?

“A vida muda rápido, a vida muda num instante, você senta para jantar e a vida que você conhecia acaba de repente.”
(Joan Didion no livro “O ano do pensamento mágico” da editora Nova Fronteira)

Nunca vivenciei e provavelmente nenhum leitor aqui viu, em outro tempo, o mundo tão PARADO, em isolamento social total na forma como alguns órgãos, algumas autoridades e principalmente a mídia, a cada dia noticia, apavorando mais ainda a população com notícias alarmistas. Acredito que nem nas guerras o mundo parou totalmente nessa magnitude. Países que não estavam diretamente no centro dos confrontos se preocuparam, tiveram medos e inseguranças, mas não pararam suas vidas totalmente.

Constantemente, ouço gestores e profissionais afirmando: “Eu gosto de pressão, gosto de adrenalina, não consigo mais viver sem ela”. Pressão, tensão, susto! Acostumem-se então com essas palavras, vamos ouvir e conviver muito mais com elas daqui para frente. Li, nesses dias, em algum lugar, que “o mundo ainda está apenas a 20% de todas as mudanças que ainda estão para acontecer.

Estamos vivendo em uma era de extremos e divisões. Todos querem ter razão e qualquer opinião contrária do pensamento de um vira afronta e conflitos nas relações, ao ponto de amizades serem perdidas. Ainda vai doer muito. Teremos dores, decepções, medos, inseguranças, mas o caminho é um só para quem quer sobreviver e ainda produzir em alto nível: SUPERAÇÃO SEM DESISTÊNCIAS. Resiliência é o nome do jogo, ou seja, envergue, mas não quebre! Keep Going! Continue! Vá em frente!

“Todo sucesso, nestes tempos, será sempre antecedido de muita dor.”
(Rogério Caldas no livro “A Vida é um combate, sucesso é dor, da editora Markação)

E então: as aulas coletivas acabarão ou não?

Sem pretensão nenhuma de ser “o dono da verdade”, fazer profecias ou exercer uma “futurologia”, estou apenas analisando e me baseando nos conhecimentos que tenho, além de eu estar longe de não aceitar outras hipóteses ou impressões, mas gostaria de poder deixar aqui algumas reflexões, citações e opiniões.

“Centenas de culturas de caçadores e coletores já foram descritas. O trabalho em equipe e a ajuda do grupo se fazia necessária para o êxito das caçadas. Na hora da conquista, comemoravam, se alimentavam e se aqueciam juntos ao redor do fogo.” (Richard Wrangham no livro “Pegando fogo”, da editora Zahar)

 

“Existe uma atração da nossa espécie de seres humanos, desde nossos ancestrais para o desejo de alegria coletiva. Historicamente expresso em rituais de êxtase, em festas com banquetes, brincadeiras, jogos, danças e fantasias. Ao longo de séculos, até os dias de hoje, testemunhamos vários movimentos de alegria grupal. Shows de rock, espetáculos de dança, carnaval, êxtase de torcidas nos esportes, passeatas e mobilizações políticas”. (Barbara Ehrenreich no livro “Dançando nas ruas – Uma estória do êxtase coletivo”, da editora Record)

O livro “Dançando nas ruas”, citado acima, conclui que: “somos seres sociais, gregários por natureza, impelidos a compartilhar nossa alegria uns com os outros, e assim capazes de construir um mundo mais lúdico, divertido e um futuro mais pacífico.”

Em um primeiro momento poderá existir, por conta dos protocolos de reabertura, ainda muita inseguranças e medos. Com o tempo, muito mais rapidamente do que possamos especular, os seres humanos buscarão sua essência de raiz: se AGRUPAR. Mesmo que as regras possam continuar impedindo, não haverá fiscalização que dê conta de os seres humanos buscarem seus mais primitivos instintos.

Vocês acreditam que torcedores do Flamengo (citando apenas uma massa humana) deixarão de lotar o Maracanã para ver os jogos? Ficarão a uma distância de 2 metros entre cada um? Na hora do gol não vão se abraçar? Vão se contentar em gritar e torcer com máscaras? Acredito que não!

Ver shows pela televisão e vídeos, mesmo ao vivo, será a mesma coisa do que estar no local do show com uma multidão sentindo todas as emoções? Será que as pessoas não vão querer vibrar com o som alto e a motivação de ver de perto o seu cantor ou uma banda favorita?
As igrejas e locais de cultos ficarão vazios? Os fiéis romperão com suas tradições e crenças da importância de estarem na casa de Deus congregando, abraçando, cantando, chorando e orando? Estou convicto que não!

Os carnavais de 2021 e de 2022 não acontecerão? Não haverá blocos, nem desfiles, nem festas? E as pessoas que cancelaram e adiaram as datas dos seus casamentos? E outras tantas que pretendem casar? Não vai rolar? Serão casamentos apenas virtuais? Muito provavelmente não!

O efeito manada

Vocês conhecem o conceito do “efeito manada”? Durante essa pandemia, diante de tantos alarmes, notícias exageradas, medo do desconhecido e inseguranças, ao ouvirem o chamado para FICAR EM CASA, a tendência natural foi de atender e respeitar as regras. Mas, com o tempo, mais informações chegaram, com outras fontes e muitos outros estudos científicos, percebemos muitos seguindo um outro grupo da população que já estavam querendo poder viver uma vida mais próxima da normalidade. Os instintos estavam gritando de vontade de sair, de ir e vir, de conviver, de abraçar e beijar pessoas queridas e comemorar. O poder de viver o calor humano e de estar em grupo de novo.

Em breve vamos perceber um efeito manada inverso da tendência inicial… A maioria querendo sair, enfrentando bravamente a crise, seguindo suas emoções. Veja esse exemplo de um efeito manada incrível! Uma pessoa contagia várias outras que já estavam cansadas e, a princípio, não estavam nem aí para aquela situação.

Analisando que esse é um vírus que ainda era desconhecido – foi chamado de COVID-19 por conta do ano descoberto – sabemos e podemos raciocinar que outros da mesma família existiram antes. Concordam? Dando um exemplo: na época do aparecimento de um possível Covid- 01 hipoteticamente denominado assim aqui para efeito de facilitar o entendimento. Sabedores que um vírus evoluiu com o tempo e processa mutações se transformando em um outro vírus, apareceu um novo corona da mesma família, mas naquele momento ainda desconhecido. Esse Covid-02, hipoteticamente denominado, foi o segundo descoberto e até então era uma novidade para a ciência e para a população da época. Algum registro de o mundo ter parado nessa magnitude por esse segundo vírus? Não. E para os que se seguiram ao longo dos anos? O mundo também não parou dessa forma. As orientações dadas hoje em dia pelas autoridades, médicos e mídias são as mesmas dadas por nossos avós, pais e mães daquelas gerações. Uma pessoa bem educada já sabia o que fazer. Praticamente um grande percentual da população mundial já se infectou com um outro coronavírus em outros tempos, com sintomas ou não, mortes ou não e mesmo assim seguiram suas vidas.

Quem não se lembra da expressão muito usada: “Estamos passando um “andaço” de gripe nesse inverno…” Médicos, quando não conhecem o que provocou os sintomas de fraquezas, tosses, febres, gargantas inflamadas e até diarreias diagnosticavam: É UMA VIROSE! E quem pode afirmar que não teremos outras mutações e evoluções deste atual coronavírus e teremos ainda o COVID-21, o COVID-22? Sempre aparecerão novos e desconhecidos vírus dessa família ou outros. Vamos parar o mundo a cada ciclo? Vamos ficar para sempre isolados? Minha impressão é que o ser humano não vai aguentar um isolamento por muito tempo. Já podemos perceber que muitos não estão aguentando nesse momento, isolados por uns 40 dias. Posso estar enganado, mas vão em breve preferir correr riscos encarando o vírus do que ficarem trancados em casa com a vida parada.

O homem é um ser gregário

Existe uma geração chamada de “babyboomers”: em 1945, após o fim da Segunda Guerra Mundial, os soldados americanos retornaram para as suas casas. O contexto era de retomada da economia naquele país. A partir daquele momento, mais especificamente entre 1946 e 1964, foi identificado um grande aumento na taxa de natalidade, um verdadeiro “boom” de filhos. Durante a guerra houve isolamento, distanciamento de casais, dificuldades, medos e inseguranças, mas quando tudo acabou, o instinto falou mais alto. Após a guerra também conhecemos clássicas fotos de vários casais se beijando em Nova York. Seres humanos desejando o convívio social, afetividade, necessidade do grupo, da tribo.

Quando a AIDS se alastrou e várias mortes, até de famosos, aconteceram, muitos pararam por um pequeno tempo de fazer sexo com muita frequência. Quando faziam sexo seguiam fortemente as regras: sempre com apenas um parceiro fixo e com as devidas proteções de segurança, preservativos etc. Muitas dúvidas surgiram e informações desencontradas na época. Sabemos que logo a humanidade se acostumou com a ideia da doença, alguns remédios chegaram, muitos pararam de ter tanto medo e insegurança e infelizmente abandonaram até perigosamente o uso de preservativos e outras normas de segurança.

O grupo LA TOUR fez uma música dançante na época com o título “People Are Still Having Sex”, que significa “as pessoas ainda estão fazendo sexo” e parte da letra diz: “você já reparou que as pessoas ainda estão fazendo sexo? Toda a denúncia não teve absolutamente nenhum efeito…. As pessoas ainda estão fazendo sexo. Isso vem acontecendo há um bom tempo. Talvez esteja na moda. Não saiu de moda. É um fato que as pessoas ainda estão fazendo sexo.”

Somos seres humanos gregários por natureza. Então, na minha opinião, AS AULAS COLETIVAS NÃO VÃO ACABAR! Pelo contrário, possivelmente voltarão com ainda mais força. E as aulas on-line? Poderão e deverão continuar existindo! Mas pensem bem: “lives gratuitas” não pagam as contas. Nesse momento é novidade. Mas é muito diferente fazer sozinho em casa olhando para uma tela do que fazer “COM A GALERA”, com a tribo reunida, sentindo a música, a energia e as emoções! As pessoas quando vão para a academia, não vão para simplesmente “malhar”. Muitas outras variáveis fazem a diferença: “o buchicho”, a movimentação, a música, vestir roupas novas, tênis novos para ver e ser visto, conversar, fazer amigos, paquerar, entre tantas outras possibilidades. Dá para fazer isso tudo numa aula virtual? Sinceramente não.

Por tudo que já foi descrito acima garanto que os parques de diversões no mundo como a Disney, a Universal, entre outros não ficarão fechados indefinidamente e não acabarão. As aulas coletivas também não acabarão! A ideia de redução de horários por algumas academias e de ter poucas aulas na grade, com limite de pessoas separadas por pelo menos 2 metros de distância, me parece “um tiro no pé”.

Cuidado! Preparem-se para aguentar as reclamações. Se os gestores pretendem manter um número alto de clientes, como vão conseguir oferecer aulas tão restritivas? E os professores? Perderão sua carga horária de onde eles tiram seu salário? Se começar assim, logo todas essas regras cairão. Ao invés de diminuírem as aulas e horários na grade, AUMENTEM o número de aulas com menos tempo de duração. Um professor polivalente de coletivas consegue dar 3 aulas diferentes a cada 40 minutos, com públicos se revezando na sala. Nesse caso haverá 3 aulas de 40 minutos em cada 2 horas. Ou também seria possível 3 diferentes miniaulas de 20 minutos (as POCKET CLASS) a cada 1 hora. Ofereçam mais ao invés de menos. Garantam aulas para todos, mesmo que com um número menor de alunos na sala, mas com menor tempo de espera entre uma e outra. É possível montar um COMBO de aulas diferentes, com menor tempo, fazendo um rodízio entre dias e horários para atender e entregar o serviço para todos.

As coletivas não terão fim

Outra questão é a seguinte: quem determinou que deva existir um espaço de 2 metros entre um aluno e outro numa sala de aula coletiva, nunca deve ter ministrado ou nem feito uma aula dessas. Como conseguir isso em aulas tipo danças fitness, de aeróbicas, de fitness de combate, entre outras? Parece que não conseguem entender que existem deslocamentos pela sala, interações e muita movimentação no ambiente. Será muito difícil controlar essa distância durante toda a aula. E usar máscaras durante as aulas? Nem pensar. Em 15 minutos a máscara estará ensopada de suor, assim como todo corpo, sem falar na dificuldade de respirar. Impraticável!

Concluindo: posso estar muito enganado, mas o ser humano e todas as ações coletivas não acabarão após esse isolamento forçado por conta de um vírus. Pode até ser por outras questões e consequências, mas não por esse vírus. O ser humano sempre vai dar seu jeito para sobreviver conforme seus genes, instintos e raízes. Se o povo precisar voltar para as cavernas ou abrigos, garanto que estarão em grupos.
Pensem se a cada nova virose, com novas cepas desconhecidas aparecendo, será que irão fechar o mundo todo de novo? Se isto acontecer, acredito que poderemos “passar a régua e pedir a conta.” Nem vai precisar parar o mundo, pois ele já estará parado, e eu, pelo menos, vou pedir para descer! A única saída então será pedir carona para um disco voador ou esperar o Messias Salvador, pois já estaremos no Apocalipse.

Ainda não será dessa vez que acabarão com as aulas coletivas…VIDA LONGA! Saúde para todos!

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