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Por que algumas pessoas flutuam e outras não?

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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O princípio de Arquimedes estabelece que quando um corpo está total ou parcialmente imerso em um fluido em repouso, ele experimenta um empuxo de baixo para cima igual ao volume de fluido deslocado. A força experimentada como empuxo para cima que atua em sentido oposto à força da gravidade é chamada de flutuação1. Já a flutuabilidade é caracterizada pela permanência de um corpo na superfície de um líquido. O senso comum caracteriza flutuação como a permanência total, de todo corpo, na superfície do líquido, porém, essa informação é incorreta. A flutuação pode ocorrer em qualquer posição, inclusive o corpo humano pode flutuar verticalmente2.

Um dos exercícios de maior dificuldade nos alunos iniciantes na natação é a realização da flutuação em decúbito dorsal (de barriga para cima). Dominar a flutuação é um dos pilares da natação e por isso consta no teste de aquacidade (adaptação ao meio líquido). Se o aluno souber usar o corpo a seu favor, com leve pernada, palmateios, descontração muscular, equilíbrio, calma, controle da respiração, ajuste do centro de flutuação e gravidade, ele dificilmente irá se afogar, pois poderá ficar flutuando e aguardar por socorro ou se deslocar suavemente para um local seguro3. De fato, para aumentar a segurança na água, é preciso ensinar crianças a utilizar braços e pernas para flutuar na vertical ou horizontal4.

Conseguir se manter flutuando pode ser fácil para algumas pessoas e extremamente difícil para outras, por interferência de, pelo menos, 18 variáveis5, listadas abaixo e comentadas a seguir:

  • tamanho do corpo;
  • densidade do corpo;
  • percentual de gordura;
  • medo;
  • contração muscular;
  • nervosismo;
  • lembranças de insucessos;
  • relaxamento físico e mental;
  • controle da respiração;
  • controle do equilíbrio;
  • gravidade específica;
  • quantidade de ar nos pulmões;
  • capacidade pulmonar;
  • densidade da água/percentual de imersão;
  • palmateio eficiente;
  • pernada de sustentação;
  • simetria corporal;
  • características individuais.

A capacidade de flutuar é individualmente variável, depende do tamanho e da densidade do corpo, da capacidade pulmonar e do percentual de gordura6. O medo e a contração muscular podem influenciar conjuntamente na flutuação7. Associado a isso, o nervosismo e lembranças de insucessos no meio líquido anteriores podem interferir ainda mais na flutuação.        

Além disso, o relaxamento físico e mental aliado ao controle da respiração e equilíbrio facilitará a flutuação, possibilitando assim, maior fluidez de movimentos8.

Ademais, a flutuação depende da quantidade de ar nos pulmões, controlável, até certo ponto, pois depende de os pulmões estarem insuflados ou desinsuflados, mas qualquer flutuação adicional adquirida será apenas temporária9. A flutuação depende também do conteúdo de gordura do corpo (relação entre massa corporal magra e seu conteúdo de tecido adiposo). O tecido adiposo (gordura) é significativamente menos denso que a água, os ossos, os músculos ou o sangue9. Segundo a Aquatic Exercise Association (AEA) pessoas com maior percentual de gordura flutuam mais do que as com menor percentual10; inversamente, a American Red Cross afirma que pessoas com muita massa muscular tendem a afundar11.

A flutuabilidade depende, inclusive, do percentual de imersão: quanto maior a profundidade da submersão maior será o deslocamento de água6. Outra variável que determina se ele vai flutuar é a densidade relativa ou gravidade específica de um objeto9, que é normalmente expressa pelo seu valor equivalente à gravidade específica (GE). É definida como massa por unidade de volume12.

Para Palmer, o palmateio ajuda na flutuação13. O palmateio, que se constitui em um movimento oscilatório ou bidirecional e contínuo, produzido em uma propulsão constante e usado com o mesmo princípio básico da hélice do avião em que a lâmina é como as mãos, que se movem através da linha do percurso ou suporte. Ambas pegam a sua pressão do ângulo da força, e o resultado é um aumento da pressão abaixo da mão e uma diminuição para cima, criando efeito de sustentação e flutuação. O movimento de cada mão e antebraço pode ser usado para estabilizar, suportar, sustentar e propelir o corpo na água. A força ou pressão da mão deverá ser aplicada na direção oposta do movimento desejado (ação e reação). Um palmateio eficiente poderá gerar melhor flutuação, para tal é necessário conhecer os tipos de palmateios existentes (com a ponta dos dedos voltados para cima, com a ponta dos dedos voltados para baixo e com a ponta dos dedos alinhados com o punho)14.

Para se manter flutuando, outra possibilidade é utilizar um dos movimentos de pernada de sustentação (pernada de crawl, de peito, de polo aquático, alternada, ondulação etc.), onde cada pessoa se adapta melhor a um movimento. O aluno precisa vivenciar os vários tipos de pernadas existentes, para só então descobrir na prática, qual é o estilo de pernada que melhor se ajusta ao seu corpo e ajudar na sua flutuação8.

O professor de natação pode usar um teste de flutuação para verificar se o aluno tem flutuabilidade, consegue se autossalvar ou autossustentar, podendo, de acordo com os resultados, incluir no conteúdo das aulas, exercícios para melhorar a flutuação5.

Teste de flutuação vertical

Ao sinal do professor, o aluno começa a flutuar e o teste é interrompido quando o testado atinge mais de 10 minutos ou quando ele realiza uma das ações a seguir que não são permitidas: colocar o rosto na água; ficar parado flutuando na horizontal em decúbito dorsal ou decúbito ventral (de barriga para baixo); deslocar-se mais de 2m²; utilizar materiais auxiliares para flutuar ou por os pés no fundo.
A piscina deverá ter profundidade superior à do testando. Ao interromper o teste, o professor deve verificar o tempo e marcar na escala a classificação correspondente na escala a seguir:

(   ) Menos de 1 minuto: Ruim

(   ) De 1 a 4 minutos: Regular

(   ) Mais de 4 a 7 minutos: Bom

(   ) Mais de 7 a 10 minutos: Muito Bom

(   ) Mais de 10 minutos: Ótimo

Teste de flutuação horizontal - ângulo de flutuação

Segure os pés do aluno estando ele em decúbito dorsal com os braços na lateral do corpo parados, ao perceber que ele está estabilizado solte os pés. Em seguida verifique o ângulo que a perna irá parar. Quanto mais fundo a perna parar, menor flutuação ele tem. A partir daí, deve-se direcionar o ensino da flutuação durante as aulas de natação.

Para finalizar, é importante entender que muitas das variáveis estão interligadas e quando começar a melhorar uma, a outra também irá favorecer o êxito na flutuação. Agora que já conhece os fatores que podem interferir na sua adaptação ao meio líquido procure trabalhar com as variáveis modificáveis e melhore a flutuação. Teste o corpo na água de diferentes formas e irá perceber que é possível flutuar quando estiver relaxado e com auxílio de braços e pernas.

Referências

  1. Bonachela V. Hidro localizada. Rio de janeiro: Sprint, 2001.
  2. Corrêa SC, Masseto ST, Freire ES. Mecânica de fluidos: uma proposta de integração da teoria com a prática. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. 2011; 10(1):115-129.
  3. Vasconcellos MB & Macedo FC. Prevenção do afogamento com uso de conteúdos: Atitudinal, procedimental e conceitual. Latin American Journal of Development, Curitiba. 2021; 3(6): 3741-3754.
  4. Willcox- Pidgeon SM, Franklin RC, Leggat PA. Devine S. Identifying a gap in drowning prevention: high- risk populations. Inj Prev. 2020; 26(3):279-88
  5. Vasconcellos MB & Vasconcellos M B. Fatores interferentes no teste de flutuação dos candidatos à guarda-vidas e aquaviario. X Campeonato/IX Simpósio Brasileiro/VII Sul-Americano 2010–Salvador–Bahia. Faculdade de Medicina da Bahia – Famed – UFBA.
  6. Masi F D. Brasil RM. AEA. Manual do profissional de fítness aquático. Tradução Beatriz Caldas e Cinthya S Cezar. Rio de Janeiro: Shape, 2001.
  7. Corrêa CRF & Massaud MG. Escola de natação: montagem e administração, organização pedagógica, do bebê a competição. Rio de Janeiro: Sprint. 1999.
  8. Vasconcellos MB. Natação e o Auto salvamento. Rio de Janeiro. Senac, 2005.
  9. Baum G. Aquaeróbica manual de treinamento. São Paulo: Monole, 2000.
  10. Aquatic Exercise Association. Manual do profissional de fitness aquático. 5ª ed. Rio de Janeiro: Shape, 2008.
  11. Monahan N. et al. American Red Cross. Swimming and water safety. Stawell.
  12. Becker BE. Terapia aquática moderna. São Paulo: Manole, 2000.
  13. Palmer ML. A ciência do ensino da natação. São Paulo: Manole, 1990.
  14. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação e vivências do nado artístico. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 104. agosto de 2021. Disponível em: https://revistaempresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/natacao-e-vivencias-do-nado-artistico/

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