Aprender a nadar se apresenta como fator importante para enfrentar qualquer dificuldade que a criança tenha no meio líquido. No entanto, a natação ainda é, por um lado, subutilizada quando o aspecto é a prevenção de afogamentos infantil e, por outro, superestimada quanto à falsa sensação de segurança aquática que ela pode oferecer.
Diversos fatores podem causar afogamento, dentre eles a falta de conhecimento preventivo sobre os riscos de acidentes, por isso, existe a necessidade de se preveni-lo com aulas de natação com conteúdos que abordem atitudes corretas dentro e fora da piscina.
Percepção dos pais
O objetivo deste texto é apresentar a identificação da percepção dos pais quanto ao nível de conhecimento preventivo de afogamento adquirido nas aulas de natação pelos filhos em idade escolar.
A metodologia foi de estudo qualitativo com responsáveis de alunos do projeto de Natação + Segura oferecido a estudantes com idade entre 8 e 13 anos. O total de responsáveis (pai ou mãe) entrevistados foram dez; os dados foram coletados por meio de questionário aplicado durante uma semana e continham quatro questões sobre a percepção dos pais em relação ao conhecimento preventivo de afogamento que o filho obteve nas aulas de Natação + Segura .
Os resultados do estudo mostraram que os filhos comentaram em casa com os pais sobre os conteúdos de prevenção de acidente que foram trabalhados nas aulas de natação, item da primeira pergunta feita aos pais. Dentre os achados sobre a primeira pergunta destacam-se que o aluno disse sobre:
- A importância do uso da touca de natação para prevenir que o cabelo não seja sugado pelo ralo.
- Como agir para prevenir afogamento.
- Não é para nadar na área funda da piscina.
- Não correr no entorno da piscina.
- Não tentar salvar alguém que estivesse se afogando e sim jogar um material flutuante.
Já em relação a segunda pergunta, que era sobre a percepção de mudança de comportamento do filho na praia ou na piscina, destacam-se algumas falas dos responsáveis que mencionam:
a) “Antes, quando ele ia à praia, tinha medo de entrar, mergulhar nas ondas, e hoje já até me assusta querendo ir até o fundo! O medo dela diminuiu em 100%”.
b) “Ele está mais confiante para entrar na piscina”.
c) “Agora quando ele vai à praia ou piscina, consegue controlar mais a respiração, ficou mais resistente, ganhou ainda mais segurança do que já tinha, tanto que ensina outras crianças algumas técnicas que aprendeu no projeto”.
d) “Ela se sentiu mais segura para nadar em piscinas e no mar”.
Em relação à pergunta três, que era sobre ter presenciado algum afogamento nas férias, um dos responsáveis relatou que teve um caso de afogamento do seu afilhado e relata que “estávamos todos sentados em volta da piscina quando ele (afilhado) saiu do degrau da piscina sozinho e se afogou. Na hora, ninguém teve uma reação rápida para puxá-lo, foi como se fosse um filme, tudo muito rápido… vimos ele descendo e a reação de puxar só veio depois”.
Por fim, sobre a quarta pergunta, que era sobre o grau de importância, na vida do seu filho, das informações adquiridas ao longo das aulas do Projeto Natação + Segura todos na escala de 0 a 10 deram como nota máxima para o grau de importância deste tipo de ensino na vida dos filhos. O fato de a criança querer compartilhar com outros amigos o que aprendeu no projeto Natação + Segura reforça a hipótese de que alunos podem ser multiplicadores da prevenção de afogamento. O caso de afogamento relatado que aconteceu com afilhado de um entrevistado é apenas um dos casos diários de afogamento que acontecem no Brasil e que precisam ser evitados difundindo a informação preventiva.
A importância do estudo
As descobertas do estudo são importantes, pois se crianças comentam em casa sobre o que aprendem nas aulas de natação, é possível que o ensino de conteúdos preventivos de afogamento nas aulas possam ser uma estratégia para alcançar pessoas que não fazem aula de natação, mas que podem vir a frequentar um ambiente aquático e ficar em perigo pelo desconhecimento de como se comportar neste ambiente.
Os alunos de natação precisam sim, saber utilizar os braços e pernas com eficiência para sustentação e deslocamento do próprio corpo, progredir para o ensino dos quatro nados somente quando já tiverem dominado a respiração aquática, flutuação vertical e horizontal, mudanças de decúbito e conseguindo se deslocar por alguns segundos em busca de local seguro. Isso porque o pleno desenvolvimento das técnicas dos nados pode ser potencializado com a apropriação dos conhecimentos adaptativos sendo feito de forma lenta e gradativa.
A percepção de muitos pais que colocam os filhos em aulas de natação é de que a criança vai estar mais segura e protegida contra o afogamento se souber se deslocar na água. Mas isso não é o suficiente para evitar o afogamento, sobretudo porque os alunos de natação precisam adquirir tanto uma excelente aquacidade, como também desenvolver atitudes corretas sobre os riscos de afogamento, aprender a ter controle emocional e discernimento em situações de perigo.
Ouvir os pais dos nossos alunos é sempre importante para reavaliar o ensino e analisar se as expectativas dos pais/alunos estão sendo atendidas em nossas aulas de natação. Ouça e perceba a melhora!
Referências
VASCONCELLOS, M.B.; MACEDO, F.C.; SILVA, C.C.C.; BLANT, G.O.; SOBRAL, I.M.S.; VIANA, L.C.A. Segurança aquática: teste de conhecimento preventivo de afogamento usado nas aulas de natação para prevenir o afogamento. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v. 5, n. 6, p. 24304-24324, nov./dec., 2022.
VASCONCELLOS, M.B. Teste de conhecimento preventivo de afogamento usado nas aulas de natação. Revista Empresário Fitness & Health. v. 116. agosto de 2022. Disponível em <https://empresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/teste-de-conhecimento-preventivo-de-afogamento/>
VASCONCELLOS, M.B.; MACEDO, F.C. Prevenção do afogamento com uso de conteúdos: Atitudinal, procedimental e conceitual. Latin American Journal of Development, Curitiba. v.3, n.6, p. 3741- 54, 2021.