O bebê, no ventre da mãe, passou quase um ano no meio líquido e nos primeiros meses de vida fora d’água ainda tem movimentos de reflexo natatório, que são os movimentos que os bebês fazem se forem colocados na água, gestos estes que se parecem com movimentos do nado cachorrinho, batendo pernas e braços instintivamente. Esse reflexo diminui e todo ser humano precisa reaprender a interagir com o meio líquido.
A estimulação aquática para bebê proporciona, ao lactante, benefícios físicos, orgânicos, sociais, terapêuticos e recreativos. A atividade orientada na piscina marca a progressão do desenvolvimento do bebê, por exemplo, muitos deles aprendem a se deslocar no meio líquido, antes mesmo de começar a engatinhar ou andar.
Idade ideal para iniciar a natação
A literatura da área tem sugerido seis meses para início de aulas de natação com a justificativa da criança já ter tomado a maioria das vacinas, contudo é preciso autorização do pediatra e respeitar o princípio de individualidade biológica. Ou seja, seis meses não é regra. Existem crianças que podem começar antes e outras depois desse meio ano de vida.
Antes de oferecer aulas de estimulação aquática, as escolas de natação devem levar em consideração a experiência do professor com bebês, a característica do local onde será realizado a aula (temperatura e qualidade da água, higiene, limpeza da borda, ventilação, materiais didáticos e brinquedos disponíveis) e o seu entorno. Outro ponto importante é se a piscina é exclusiva para os bebês. Se for, não há problemas para início aos seis meses, caso contrário, de nove meses a 1 ano, pois piscinas coletivas não tem o controle de cloro e pH tão eficientes quanto as piscinas exclusivas para bebê. Sobretudo, porque níveis errados de cloro e pH podem gerar alergia na pele, ouvidos e olhos do bebê.
Tipos de aulas de natação para bebês?
As aulas de bebês podem ser individuais, coletivas com professores ou coletivas com o responsável. As atividades aquáticas para bebês contribuem para o seu desenvolvimento sensorial, motor, consciência corporal, estimula a autonomia e a sociabilidade. Este último é facilitado pela presença dos pais do bebê, pois dá à criança confiança para experimentar novos movimentos e sensações em um novo ambiente1.
A sugestão é que as academias ofereçam visitas guiadas para mostrarem o quanto são adequadas as instalações aquáticas e vestiários para acolhimento dos bebês e responsáveis, além disso, ofereçam uma “aula” experimental, que não necessariamente precisa ser com o bebê dentro da piscina, mas será oportunidade de fazer com que ele e os responsáveis “respirem” o ambiente aquático e o convívio, pré-aula, com os outros bebês que já fazem aula.
Onde começar as aulas de natação para bebês?
A participação de crianças em atividades aquáticas orientadas por profissionais aumentou notavelmente nas últimas décadas1. No entanto, a preparação para a aula de natação começa no banho em casa. A familiarização com a água na banheira, posteriormente, chuveiro: olhos abertos, brincar com a água, colocar água na boca e “cuspir”, não aspirar e não beber água. Tudo isso vai ajudar nas aulas formais de natação. O professor pode orientar os pais a transformarem o banho em uma atividade lúdica, interativa, espontânea, diversificada, prazerosa e preparativa para natação formal na escola de natação.
De fato, o primeiro a fazer à estimulação aquática no bebê é a pessoa que dá banho diariamente nele! Descubra como é esse momento do dia para o bebê. Qual é a reação do bebê no banho? Algo aconchegante, quentinho, alegre, cantarolado ou é um banho estressante, gelado, com choro, sabão nos olhos, muito vento e barulho?
Foto 1 e 2. Estimulação precoce na banheira
Quando dar colo para o bebê?
O colo dos pais é um local de aconchego e segurança. O professor precisa entender a importância que tem quando segura o bebê com empatia e amor. Por meio do contato de mãos, o bebê pode captar tudo: o nervosismo ou a tranquilidade do professor; assim como a agitação, impaciência, ternura, afeto e, acima de tudo, a segurança transmitida com as mãos.
O professor precisa, inicialmente, entender qual o momento certo de dar colo para o bebê e estar pertinho para dar segurança e quando afastá-lo do corpo para iniciar uma autonomia na água.
Qual a sequência pedagógica da natação para bebês?
Nas primeiras aulas ocorrem adaptações do bebê tanto ao ambiente aquático quanto ao professor. O ritmo da aula é sempre demandado pela individualidade de cada aluno e não apenas pelo professor. Assim, busca-se a vivência com brinquedos e músicas, com a finalidade de adaptar o aluno de forma lúdica, aumentar seu grau de aquacidade e monitorar sua evolução nas primeiras aulas com as ações didáticas:
- do mais seguro para o menos seguro;
- do mais simples para o mais complexo;
- do mais baixo para o mais alto;
- do mais fácil para o mais difícil;
- do mais leve para o mais pesado;
- do mais importante para o menos importante;
- do mais raso para o mais fundo.
Oriente os pais
Cabe ao professor o papel de orientar os pais para, no ambiente de sua residência, nunca deixarem o bebê sozinho na banheira e/ou piscina, manterem a tampa do vaso fechada, os baldes ou bacias virados de cabeça para baixo ou vazios e, se precisar se ausentar por alguns segundos, levarem o bebê junto para evitar afogamentos.
Ademais, sugiro que o professor faça uma anamnese com os responsáveis para descobrir sobre os hábitos desse bebê (tempo de gestação, alergias, vacinas, rotina, tipo e reações no banho, horários de sono, preferências, alimentação, objetivos, quem vai acompanhar o bebê na aula etc.) para que seu trabalho seja mais eficiente.
Por fim, na primeira aula, faça uma avaliação diagnóstica para identificar o grau de aquacidade deste bebê, para verificar se o bebê consegue:
- executar a imersão voluntária,
- soprar o ar na água,
- aceitar a água no rosto,
- abrir os olhos embaixo d’água para pegar um objeto,
- deslocar de forma ativa,
- interagir com as pessoas e outros bebês.
Trace, junto com os pais, os objetivos a serem alcançados.
Boas aulas!
Mãos firmes, seguras, mas delicadas.
Sugestões de leitura
- Martins M, Costa A, Costa MJ, Marinho DA, Barbosa MT. Interactional Response During Infants’ Aquatic Sessions. Sports Med Int Open. 2020 Dec; 4(3): E70-E75.
- Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação Natural: Brincando e aprendendo a nadar naturalmente. Rio de Janeiro: Shape, 2005.