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Natação para asmáticos é benéfica, mas requer cuidados

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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Introdução

A natação é um esporte frequentemente recomendada para pessoas com asma, principalmente durante a infância, pelo fato de contribuir para melhorar a função pulmonar1.

As propriedades físicas da água e a posição horizontal do corpo durante a natação exercem um papel importante, pois alteram a rota respiratória, gerando menor resistência das vias aéreas ao ar quando comparado a outros esportes.

A asma é uma doença pulmonar que pode ser uma ameaça à vida, caracterizada por uma inflamação crônica, que está associada à hiperresponsividade das vias aéreas, induzida pelo contato do paciente com alguns alérgenos (produtos químicos, fumo de cigarro, ambientes secos e frios, gases e partículas no ar, prática de exercícios intensos, etc.)2.

A resposta aos alérgenos desencadeia uma broncoconstrição nos bronquíolos e que compromete a passagem de ar pelas vias aéreas/troca gasosa nos alvéolos porque o músculo liso, presente na parede brônquica, se contrai. No entanto, pode ser reversível espontaneamente ou com tratamento. 

O diagnóstico da doença é realizado por meio da presença dos principais sintomas: sibilos, dispneia, opressão torácica, tosse seca, baixa tolerância ao esforço, particularmente à noite ou no início da manhã, além de testes clínicos e da avaliação criteriosa da função respiratória.

Para o tratamento, são utilizados medicamentos que variam de acordo com o nível da intensidade do processo inflamatório em que o paciente se encontra, seja a asma controlada ou em um momento de crise. Mas, além da administração dos medicamentos, a prática de exercícios físicos moderados também é indicada para o tratamento da asma, no período intercrise, pois promove um ganho no condicionamento físico, reduz a dispneia, melhora a qualidade de vida3 e o aspecto psicossocial de indivíduos asmáticos, melhorando as condições do sistema respiratório.

Assim, o objetivo deste texto é apresentar alguns benefícios e recomendações da natação para o asmático. Além disso, mostra algumas características do ambiente aquático que podem evitar ou desencadear uma crise asmática. 

Asma e exercício físico

Em pacientes asmáticos onde a doença se encontra controlada, o exercício físico é recomendado como uma forma terapêutica, pelo menos 20 minutos, duas vezes por semana4, desde que tenha uma orientação adequada quanto ao volume, à intensidade e ao método do exercício, monitorado por um profissional apto para a prescrição adequada2.

Caso não haja o cumprimento das recomendações, o paciente poderá ter uma crise de Asma Induzida pelo Exercício (AIE) ocasionando dificuldade respiratória, cansaço, tosse e sensação de opressão torácica.

Esse quadro também pode ocorrer em pessoas que desconhecem a patologia.

Além disso, o medo de possíveis sintomas após a prática da atividade física, faz crianças e adolescentes não aderirem aos programas de atividade física que trariam melhoria ao condicionamento físico que auxiliaria no controle dos sintomas.

Para evitar AIE é necessário conhecer os sintomas, conhecer o limite de cada indivíduo, controlar a intensidade do exercício, e sobretudo, saber o que pode desencadear a asma em cada pessoa especificamente.

Asma e Natação

A natação é uma modalidade bem aceita pelos pacientes asmáticos devido aos seus benefícios. Ademais, é um esporte confiável, em piscinas naturais e com bom tratamento de água, para pessoas diagnosticadas com asma5, recomendado para pessoas em todas as faixas etárias e indicada para início o quanto mais jovem possível.  

Os efeitos positivos da natação advêm sobretudo do envolvimento de todos os músculos do corpo, bem como da melhoria funcional tanto do coração, como dos pulmões, segundo pesquisadores poloneses1.

A saber, durante a prática da natação, a água influencia na pressão das paredes do tórax, auxiliando a expiração, bem como a retenção de CO2 atribuído à hipoventilação secundária, auxiliando no relaxamento brônquico.

Estudo feito na Finlândia menciona que a natação induz menos sintomas respiratórios de asma do que outros modos de exercício de resistência6. A possível explicação é que o ar úmido e quente respirado pelas pessoas que usam a piscina causam menos ocorrência de exacerbação de asma ou espasmo brônquico relacionado ao esforço.

Por outro lado, em atletas de natação, pode haver maior risco de terem asma do que os que praticam outros esportes devido à hiperventilação necessária por longos períodos e/ou à alta exposição ambiental ao cloro durante a prática do esporte3. De fato, o excesso de cloro e seus subprodutos podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de hiper-reactividade brônquica, promover o desenvolvimento de alergias, e induzirem à membrana mucosa, inflamação do nariz e dos olhos1, especialmente em piscinas cobertas, entre as crianças mais novas e aquelas com predisposição atópica.

Talvez por isso, pesquisadores dos EUA e Nigéria mencionam que é importante um controle rigoroso da qualidade da água, atuando nas dosagens adequadas de desinfetantes, quantidade de banhistas, temperatura e pH da água para evitar induzir crises de asma durante ou após o exercício7.

 De fato, substâncias antrópicas introduzidas por nadadores como suor, saliva, loções e urina ao interagirem com o cloro e outros desinfetantes podem causar asma. Ademais, ainda não existe um produto para tratar a água da piscina que seja isento de subprodutos tóxicos1. A boa notícia é que existem dosadores automáticos de cloro e PH que permitem o equilíbrio químico da água, a fim de manter sua qualidade ideal para prática de atividades aquáticas.

Recomendações para natação com asmáticos

As aulas de natação para alunos asmáticos trazem aos seus praticantes benefícios físicos, motores e fisiológicos. Mas, como a modalidade necessita de uma estrutura física, em questão a piscina, recomenda-se que haja um controle rigoroso da qualidade da água, atuando na dosagem adequada de desinfetantes, quantidade de banhistas, temperatura e pH da água para evitar induzir crises de asma7.

Para aulas de natação em piscinas com água clorada, a circulação de ar é crucial porque dissipa os compostos tóxicos suspensos no ar. O uso das menores quantidades efetivas de cloro desinfetante, lavagem cuidadosa do corpo pelas pessoas que usam a piscina antes de nadar e o uso de toucas para limitar a dissipação de compostos orgânicos na piscina, também são importantes.

Nadadores asmáticos devem evitar utilizar piscinas mal gerenciadas, com níveis excessivos de cloro na água e no ambiente, pois são mais suscetíveis a estímulos broncoconstritores, como esforço e ar frio e seco, principalmente no período de inverno8. Uma alternativa para este público com intolerância aos produtos químicos usados em piscinas é a natação em águas abertas e exercícios contínuos, ambos com acompanhamento do profissional de Educação Física.

O aluno asmático precisa se conhecer a ponto de perceber se está em boas condições de saúde e fora do período de crise; se está em contato com algum produto ao qual ele é alérgico e pode desencadear a crise; se o ambiente está lhe fazendo bem; se durante o exercício a intensidade está adequada. Desse modo, tão logo perceba alguma anormalidade, deve comunicar ao professor e parar a atividade para evitar a crise de asma. 

 O professor de Educação Física precisa conhecer a doença asma para trabalhar com este paciente, para que ao prescrever a atividade, não provoque o agravamento do seu quadro clínico. Além disso, deve haver um acompanhamento e uma progressão pedagógica para adaptação do asmático ao meio líquido, a fim de que a prática esportiva seja benéfica.

Conclusão

A prática de natação para asmáticos ajuda na diminuição dos sintomas e melhora o quadro clínico em função da diminuição da intensidade, duração e frequência das crises de broncoespasmo, melhorando a capacidade respiratória e o fortalecimento dos músculos respiratórios, principalmente quando o aluno apresenta um quadro clínico controlado e segue as recomendações médicas e do profissional de Educação Física. No entanto, é preciso levar em consideração não só os fatores motivacionais e a prescrição de treinamento físico (intensidade e duração), mas sobretudo as condições químicas da água e do ambiente, (seco e frio) no qual o aluno será introduzido para a prática.

Referências bibliográficas

  1. Kanikowska, A., Napiókowska-Baran, K., Gracyk, M., Kucharski, M.A. (2018). Influence of chlorinated water on the development of allergic diseases – An overview. Ann Agric Environ Med, 25(4),651-655. 
  2. Vasconcellos, M.B., Nascimento, J.A. (2023). Pathophysiological factors, benefits and recommendations in swimming for asthmatics. ISJHR, 2(4),571-92.
  3. Vertadier, N., Trzpizur, W., Faure S. (2022). Overuse of Short-Acting Beta-2 Agonists (SABAs) in Elite Athletes: Hypotheses to Explain It. Sports (Basel), 10(3),36-45.
  4. Wu, X., Gao, S., Lian, Y. (2020). Effects of continuous aerobic exercise on lung function and quality of life with asthma: a systematic review and meta-analysis. J Thorac Dis, 12(9), 4781-4795.
  5. Eksi, N., Calis, Z., Seyun, N., Ozarafakili, A., Coskun, B.U. (2021). Evaluation of exercise-induced bronchoconstriction and rhinitis in adolescent elite swimmers. North Clin Istanb, 8(5), 493-499.
  6. Päivinen, M., Kekinen, K., Putus, T., Kujala, U.M., Kalliokoski, P., Tikkanen, H.O. (2021). Asthma, allergies and respiratory symptoms in different activity groups of swimmers exercising in swimming halls. BMC Sports Sci Med Rehabil, 13(1),119-130.
  7. Mustapha, S., Jimoh, T., Ndamitso, M. Abdulkareem, A.S., Taye, S.D. Mohammed, A.K., Amigun, A.T. (2021). The Occurrence of N-nitrosodimethylamine (NDMA) in Swimming Pools: Na Overview. Review. Environ Health Insights, 1(15), 11786302211036520. 
  8. Buwalda, M., Querido, A.L., Van, H.R.A. (2020). Children and diving, a guideline. Diving Hyperb Med, 50(4), 399-404.

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