Mergulhar na piscina é, na maioria das vezes, uma experiência prazerosa, revigorante, refrescante, no entanto, pode ser trágica, se o salto for feito diretamente de cabeça em águas desconhecidas, rasas ou turvas.
Segundo o Ministério da Saúde, o risco de acidentes ao mergulhar em piscinas está relacionado ao modo como as pessoas entram na água. Nove em cada dez pessoas que sofreram acidente por mergulho ficaram tetraplégicas; a maioria é do sexo masculino1. Segundo dados da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, a incidência é maior entre indivíduos de 10 a 30 anos e os traumas variam de leves a graves e irreversíveis2.
Para que o mergulho dê certo, tem que haver profundidade suficiente de água no local para que a pessoa possa emergir adiante1.
Quando a piscina está com a água cristalina é mais fácil conferir a profundidade, mas isso raramente é possível ao se mergulhar em um rio ou em uma cachoeira. Nesses dois últimos o nível da água muda ao longo do ano e muda também o fundo do local, pois pedras se deslocam e bancos de areia se formam1.
A água, observada superficialmente, estando clara ou não, dificulta a noção de profundidade antes do pulo. Quando não houver profundidade suficiente para o mergulho, é bastante provável que a pessoa bata a cabeça contra algum obstáculo. A força desse impacto é transferida para o pescoço, que é flexível, podendo causar a fratura de uma ou mais vértebras da coluna vertebral nesse local1.
O peso do corpo, que ainda está seguindo a trajetória do mergulho, agrava a fratura do pescoço e expõe a pessoa a um grande risco de lesão na medula – um ferimento que deixará a pessoa imediatamente tetraplégica, sem movimentos de braços nem de pernas1. Os traumas graves levam a um quadro de tetraplegia completa, com ausência total de movimentos, ou incompleta, com alguma função nos membros superiores3.
Dada a gravidade que um mergulho inadequado pode ocasionar em alguém, o objetivo deste texto é alertar os profissionais ligados às atividades aquáticas sobre a importância de conscientizar os alunos a saberem discernir o melhor local e/ou melhor forma de mergulhar para que a entrada na água seja segura.
Para evitar acidentes de mergulho, o foco deve ser a prevenção!
Na Austrália, foram criados programas de prevenção ao trauma cervical que incluíam sinais de avisos, comerciais na TV e colocação de pôsteres informativos com o objetivo de diminuir o alto índice de acidentes que resultam em lesão da medula cervical. Em outros locais, campanhas educacionais como na Alemanha (comerciais de TV) e nos EUA (Pense Primeiro), são iniciativas introduzidas para reduzirem a incidência de lesão cervical. O programa Feet First, First Time, “Pés Primeiro, Primeira Vez” teve um impacto para redução da incidência de lesão provocado por mergulho em algumas regiões dos EUA3.
Instale placas com avisos sobre a profundidade da piscina e deixe bem claro quais são os locais onde não são permitidos mergulho. Faça uma caminhada com o aluno em volta da piscina antes de ensinar a mergulhar para identificar a profundidade e a falsa impressão de mais fundo causado pela refração na água. O ensino do mergulho nas aulas de natação deve ser na parte da piscina onde existe profundidade adequada à altura do aluno.
O papel do professor
O professor precisa orientar o aluno a sempre verificar a profundidade do local antes do mergulho: nunca confie no local em que vai mergulhar, mesmo que já o tenha frequentado muitas vezes; o nível da água e o fundo do local podem mudar1. Existem casos de pessoas que não perceberam que a piscina estava vazia ou com profundidade reduzida e o mergulho tornou-se trágico e irreversível.
Como prevenção, o professor deve ensinar seu aluno a evitar mergulhar de cabeça em piscina nas quais ele não conhece a profundidade ou, se ele não domina esse tipo de mergulho, prefira o mergulho em pé (soldadinho)4.
O professor pode iniciar a progressão ao mergulho com ensino do salto na água em pé, para se certificar sobre a profundidade e progressivamente realizar o mergulho a partir da posição sentado na borda, com um joelho na borda, agachado na borda, em pé na borda até chegar no nível de aperfeiçoamento que lhe permita realizar do bloco o mergulho de “cabeça” com os braços sempre estendidos com a intenção de proteger a cabeça e o pescoço quando estiver mergulhando em águas rasas.
Deve-se se ter muita atenção ao ensino do mergulho de “cabeça” porque a pessoa afunda muito rapidamente e mesmo que esteja de braços estendidos isso não garante a possibilidade de bater a cabeça. Saltos de locais altos como bloco de partida e plataformas de saltos ornamentais podem aumentar o risco de acidentes e devem ser usados somente com supervisão do professor. Quanto maior a altura do local de onde a pessoa saltar, maior será a força do choque contra algum obstáculo embaixo da água1.
No caso de acidente, a vítima deve ter a região cervical estabilizada e aguardar ajuda especializada. A manipulação do indivíduo lesionado sem o devido conhecimento ou a imobilização inadequada podem levar à piora, não é recomendado testar os movimentos do acidentado, tentar levantá-lo ou sentá-lo, pois isso pode agravar uma possível lesão medular3.
Professor, ensine seu aluno a preferir mergulhar...
… em águas visíveis, bem iluminadas, ao invés de mergulhar em águas turvas;
… com a consciência plena das suas ações, ao invés de após ingerir bebidas alcoólicas. O uso de álcool é perigoso para qualquer tipo de prática de esporte;
… quando for a sua vez, ao invés de “empurrar” ou “jogar” outras pessoas para dentro da água;
… com pés equilibrados, ao invés de saltar com muita velocidade ou de lugares muito altos. Quanto mais rápido você chegar ao fundo, mais perigoso é o mergulho;
… sem ir muito fundo, em forma de “barrigada”, ao invés de ir fundo de cabeça. Evite mergulhar com o corpo em um ângulo quase perpendicular na água;
… de frente, ao invés de saltar na piscina com cambalhotas ou pular de costas na água;
… em locais onde você tem certeza da profundidade, ao invés de locais desconhecidos;
… parado, ao invés de correr para pular na piscina: as bordas podem estar escorregadias;
… onde a água está livre de outros alunos, ao invés de mergulhar tentando desviar no ar de outra pessoa. Uma pessoa que está nadando e recebe um impacto de outra pessoa mergulhando em cima pode causar um grave acidente em ambos.
…quando estiver preparado, ao invés de quando surgirem provocações de amigos que querem que você mergulhe de cabeça para disputar quem mergulha melhor3.
Causa de lesão medular
A conclusão de um estudo sobre o tema mostrou que acidentes por mergulho são uma das principais causas de lesão medular, tendo como resultado a tetraplegia completa ou incompleta. A localização mais frequente é C4-C6. Medidas informativas dos proprietários de piscinas, guarda vidas e professores podem ajudar a minimizar os altos índices de acidentes de mergulho. É importante não mergulhar em águas desconhecidas, rasas, turvas, e principalmente locais sem iluminação. Não participar de brincadeiras quando for mergulhar e procurar placas de aviso sobre a profundidade da água são medidas preventivas importantes. Em locais desconhecidos a melhor opção é mergulhar de pé3.
A lesão cervical leva à incapacidade motora grave como tetraplegia dependendo do nível da lesão. Medidas preventivas, educativas, em especial, são importantes na prevenção de novos casos de lesão cervical com incapacidade motora severa e permanente causados pelos acidentes por mergulho3.
Referências:
- Ministério da Saúde. https://bvsms.saude.gov.br/acidentes-por-mergulho/.
- Khan, RL. Lopes MHI. Diving in shallow waters and spinal cord injury: a preventive and educational approach. Scientia Medica, Porto Alegre: PUCRS, v. 15, n. 2, abr./jun. 2005.
- Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul. https://saude.rs.gov.br/mergulho-em-aguas-rasas-pode-causar-lesoes-na-medula.
- Vasconcellos, Marcelo Barros. 4 passos para o primeiro dia na natação. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 103. julho de 2021.