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Conceitos de segurança aquática podem salvar vidas

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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O afogamento é uma causa evitável1 de mortalidade prematura que, em todo o mundo, estima-se estar relacionada a 320.000 casos de mortes anuais2. Nesse contexto, aprender a nadar se apresenta como fator importante para enfrentar qualquer dificuldade que a criança tenha no meio líquido3, principalmente as mais jovens4. Há consenso de que o afogamento infantil pode ser evitado por meio de educação5.

Segundo a World Health Organization (WHO), a natação deve ser ensinada como um componente de um programa que tenha conteúdos voltados para habilidades de segurança, conhecimentos e atitudes em relação à água6.  Pesquisadores enfatizam que, além de melhorar as atitudes de segurança na água, deve-se promover comportamentos seguros ao redor de diferentes ambientes aquáticos.

No entanto, a natação ainda é subutilizada quando o aspecto é a prevenção de afogamentos em crianças6,7,8,9. As crianças recebem educação insuficiente sobre segurança aquática em aulas de natação e não estão alcançando habilidades essenciais que ajudem a prevenir o afogamento10.

Competências e habilidades que salvam

No caso da prevenção ao afogamento, as competências que devem ser desenvolvidas são múltiplas e extrapolam o ensino particular dos indivíduos. Há uma série de habilidades que devem ser dominadas antes de uma criança ter capacidade total de nado a ponto de evitar afogamento10, tais como: saber identificar a parte funda da piscina; saber entrar e sair com segurança na água; estar apta para vivenciar sozinha áreas aquáticas públicas4 que, muitas vezes, são praias ou piscinas que as crianças já estão acostumadas a visitar rotineiramente11; além disso, é importante saber lidar com circunstâncias difíceis em situações aquáticas12.

Uma competência reúne conhecimentos, habilidades e atitudes para sua perfeita execução. Nas tarefas motoras, entende-se que não basta desempenhar as habilidades motoras, mas que esse desempenho ocorra fundamentado em conceitos definidos e com as atitudes adequadas à sua implementação9.

Por isso, pode haver uma necessidade significativa de aumento da educação sobre segurança na água para crianças12. Essa educação pode vir após uma avaliação diagnóstica6 para ajudar a entender as limitações dos alunos que podem provocar acidentes infantis por afogamento, seguido de educação dos pais e professores e, por fim, de uma adequada regulamentação de segurança7.

Definindo conceitos nas aulas de natação

As aulas sobre segurança aquática precisam ser alicerçadas no desenvolvimento de competências. A prevenção de afogamento deve começar fora d’água e ser mantida na água por meio de conteúdos pedagógicos: conceituais, procedimentais e atitudinais. Nesse sentido, cabe ao professor selecionar os conteúdos educacionais que precisam ensinar para que os alunos não se afoguem e tenham consciência preventiva ao longo da vida9. Os conteúdos apresentam-se como objetos de ensino e aprendizagem, e apontam para a necessidade de o aluno vivenciá-los de modo concreto no cotidiano escolar.

É necessário definir o conceito a ser aprendido na aula de natação para prevenir o afogamento, como por exemplo, o que fazer em determinada situação. Então, posteriormente a definição desses conceitos, pode-se determinar objetivos, escolher conteúdos e metodologias para consolidá-los como uma competência a ser aprendida pelo aluno.

Estudo de Vasconcellos 2023 mostrou que intervenção sobre segurança aquática feita pelo professor, com conteúdo pedagógico conceitual, contribui para melhora do conhecimento sobre os significados das palavras ligadas à prevenção (em verde) e seu antagonismo (em vermelho) apresentadas no quadro 1.

O professor de natação pode abordar outros exemplos, tais como o significado das cores das bandeiras que ficam afixadas nas praias para indicar o grau de perigo atual do mar e o aluno aprender a discernir o risco de afogamento. Por certo, a bandeira verde significa local apropriado a banho; a amarela, risco de afogamento; a vermelha, alto risco de afogamento e; a preta, área desprotegida de guarda-vidas.

Há necessidade de ensinar outros conceitos para os alunos, tais como o de vala ou corrente de retorno, com uma explicação simples que seja adequada à faixa etária, e com ilustração, sobretudo, explicar que vala significa que naquele local há um movimento de água no sentido em direção ao mar aberto e que este é local onde o banhista não deve ficar, pois é perigo de ser arrastado para o fundo pela forte corrente de retorno que é formada.

Quadro 1. Conteúdos conceituais da segurança aquática trabalhados na aula de natação

O professor pode fazer uma intervenção pedagógica ao abordar o conteúdo conceitual em relação ao que se deve saber para executar uma ação procedimental. O aluno pode aprender sobre como “saber fazer, executar”, como por exemplo, os procedimentos adequados de entrar na água em local raso, de como nadar em uma situação de “cair na corrente de retorno”, das diferenças entre nadar na piscina e no mar, como nadar de colete salva vidas etc.

O quadro 2 mostra um resumo, com exemplos, dos conteúdos conceituais que podem ser trabalhados, tanto por professores nas aulas de natação, como por pedagogos, pais e voluntários da prevenção.

Quadro 2. Conteúdos pedagógicos de Segurança Aquática

REFERÊNCIAS

  1. Peden, A.E., Işın, A. (2022). Drowning in the Eastern Mediterranean region: a systematic literature review of the epidemiology, risk factors and strategies for prevention. BMC Public Health. Aug 3;22(1):1477.
  2. Alqahtani, A., Alsubai, S., Sha, M., Peter, V., Almadhor, A.S., Abbas, S. (2022). Falling and Drowning Detection Framework Using Smartphone Sensors. Comput Intell Neurosci. Aug 12;2022:6468870.
  3. Salomez, F., Vincent, J. (2004). Drowning: a review of epidemiology, pathophysiology, treatment and prevention. 63(3):261–8. 
  4. Mosek, D.P., Sperhake, J.P., Edler, C., Püschel, K., Schröder, A.S. (2020). Cases of asphyxia in children and adolescents: a retrospective analysis of fatal accidents, suicides, and homicides from 1998 to 2017 in Hamburg, Germany. International Journal of Legal Medicine; 134:1073-81.
  5. Vasconcellos, M.B.; Macedo, F.C.; Silva, C.C.C.; Blant, G.O.; Sobral, I.M.S.; Viana, L.C.A. Michel, C. C; Corrêa, R. Segurança aquática se aprende na escola: Acompanhamento do nível de Conhecimento Preventivo de Afogamento dos escolares do Rio de Janeiro, Brasil. Revista Brasileira Medicina Excelência. 2023; 1(2):30-55.
  6. Vasconcellos, M.B., Macedo, F.C. (2021). Prevenção do afogamento com uso de conteúdos: Atitudinal, procedimental e conceitual. Latin American Journal of Development, Curitiba. 3(6): 3741- 54.
  7. Vasconcellos, M.B., Massaud, M.G. (2022). What is the adequate number of students per class for safety in swimming lessons? Reflection by teachers from Rio de Janeiro, Brazil. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v.8, n.1, p. 8047-8062.
  8. Vasconcellos, M.B., Szpilman, D., Queiroga, C. Mello, D. (2017). Swim + safe: test for diagnostic evaluation and monitoring of water skills of beginner students. World conference on drowning prevention. Canada: Vancouver.
  9. Vasconcellos, M.B.; Macedo, F.C.; Silva, C.C.C.; Blant, G.O.; Sobral, I.M.S.; Viana, L.C.A. (2022). Segurança aquática: teste de conhecimento preventivo de afogamento usado nas aulas de natação para prevenir o afogamento. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, 5(6):24304-24324.
  10. Willcox- Pidgeon, S.M., Franklin, R.C., Leggat, P.A. Devine, S. (2020). Identifying a gap in drowning prevention: high- risk populations. Inj Prev 26(3):279-88.
  11. Barcala-Furelos, R., Carbia-Rodríguez, P., Peixoto-Pino, L., Abelairas-Gómez, C., Rodríguez-Núñez, A. (2019). Implementation of educational programs to prevent drowning. What can be done in nursery school? Med Intensiva. 43(3):180-82.
  12. Davey, M., Callinan, S., Nertney, L. (2019). Identifying Risk Factors Associated with Fatal Drowning Accidents in the Paediatric Population: A Review of International Evidence. 11(11):e6201.
  13. (2017). Preventing drowning: an implementation guide. Geneva: World Health Organization.
  14. (2022). Preventing drowning: practical guidance for the provision of day-care, basic swimming and water safety skills, and safe rescue and resuscitation training. Geneva: World Health Organization.

 

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