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Aula de natação que ensina mergulho livre

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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As aulas de natação oferecem aos alunos a oportunidade de vivenciar experiências na piscina que podem ser transferidas para outros ambientes aquáticos. Mergulhar para observar peixes, tartarugas, corais, e contemplar a beleza dos mares e rios são apenas alguns dos benefícios que as noções de mergulho livre proporcionam.

O mergulho livre é a prática de imersão sem o uso de equipamentos que repõem o ar, como cilindros de mergulho.  Durante as aulas de natação, essa prática de mergulho livre é conhecida por diferentes nomes entre alunos e professores, como: apneia dinâmica, submarino, homem no fundo do mar, nado submerso, mergulho de apneia, entre outros.

Para realizar um mergulho de apneia (sem respirar), o aluno precisa aprender a controlar a respiração debaixo d’água. Prender a respiração pode ser apavorante para algumas pessoas e requer tempo de adaptação. No entanto, na natação, os exercícios educativos podem ensinam o aluno a bloquear a respiração de forma controlada e a expirar pela boca quando necessário.

Atingir pequenas profundidades com o ar residual dos pulmões e saber retornar à superfície quando o ar estiver acabando para respirar novamente é um exercício de adaptação que faz parte desta aula. O aluno precisa ser ensinado a nunca esperar o ar “acabar” para tomar a decisão de subir. Deve sempre ter uma reserva para poder controlar a subida com tranquilidade e não de forma muito rápida e afetar os ouvidos ou até mesmo desmaiar.

O mergulho livre é uma técnica muito antiga usada para caça e hoje também pode ser feita por alguns adeptos do mergulho para diversão e lazer.

Que tal aprender a submergir?

O tempo embaixo d’água pode ser treinado para que o aluno possa aumentar gradativamente o tempo que consegue ficar submerso. O teste de aquacidade1 avalia:

  1. O tempo que um aluno iniciante consegue ficar embaixo d’água.
  2. Se ele consegue se deslocar no mergulho livre por alguns metros.
  3. Se consegue apanhar objetos no fundo da piscina.

Ao mensurar esses três itens, é possível acompanhar o desempenho no decorrer das aulas e se é seguro estimular que ele faça mergulho livre fora do ambiente controlado de piscina. Ao ensinar o aluno a controlar o bloqueio da respiração embaixo d’água, à medida que ele consegue ficar mais tempo no fundo, ele aumenta a possibilidade de interação com o ambiente submerso e passará a conhecer melhor o corpo na água.

Outra possibilidade de mergulho livre que pode ser ensinado nas aulas de natação é o mergulho com uso de snorkel (ou snorkeling). O snorkel é um equipamento vendido em lojas de esportes e pode ser introduzido na natação como diferencial para as aulas. O snorkeling é um tipo de mergulho em que o praticante pode ter o auxílio de equipamentos importantes: nadadeiras, máscara de mergulho, colete salva-vidas, roupa de neoprene e o snorkel – um tubo com 35 a 45cm de comprimento, que permite que o mergulhador colete o oxigênio da superfície enquanto está com o rosto submerso. A nadadeira, colete e a roupa de neoprene não são usadas em todos os casos de mergulho com snorkel. 

O mergulho com snorkel na piscina pode ser introduzido com a seguinte sequência:

  1. Flutuar parado em decúbito ventral.

  2. Realizar deslocamento lento em decúbito ventral.

  3. Realizar braçada do nado cachorrinho em decúbito ventral e rosto na água.

  4. Realizar braçada de peito em decúbito ventral.


    Após alguns minutos de adaptação o professor pode:

  5. Iniciar o uso da máscara e snorkel para flutuação parado em decúbito ventral.

  6. Utilizar a máscara e snorkel para realizar flutuação com deslocamento lento em decúbito ventral.

  7. Utilizar a máscara e snorkel para realizar deslocamento com braçada submersa.

  8. Fazer o aluno flutuar em decúbito ventral para apanhar objetos no fundo.

Assim, ao realizar a busca/observação de objetos no fundo, o aluno irá treinar a visão, deslocamento, controle da respiração com o equipamento e a subida/descida com snorkel. Toda vez que a pessoa afunda, o tubo do snorkel enche de água e por isso ao subir para superfície ele deve soprar o ar forte para retirar toda a água do tubo. É comum no início dos mergulhos o aluno sentir incômodo da máscara e dificuldade de respirar só pela boca. Às vezes, chega a engolir um pouco de água.

Após as adaptações, o aluno estará apto a desfrutar de momentos de observação da natureza aquática. Ademais, ele pode usar também um colete salva-vidas e ficar realizando apenas a flutuação com snorkel para observar as belezas aquáticas de cada ambiente. Esse tipo de “mergulho” de flutuação (boiando de barriga para baixo) ocorre com movimentos suaves de braços e pernas para não espantar os peixes e não se cansar.

Já o mergulho com equipamento de cilindro de oxigênio requer treinamento com profissional especializado. De fato, o mergulho com cilindro é um esporte seguro, mas requer boas funções executivas para poder antecipar situações inesperadas, por exemplo, um companheiro que se envolve em problemas por falha de equipamento. Como a capacidade de prestar atenção é a principal função executiva, testar a atenção do candidato a mergulho com cilindro deve ser uma parte essencial da liberação no exame médico para realizar um mergulho. Em caso de dúvida, o médico que for dar autorização para realizar o mergulho com equipamentos pode obter informações dos professores, instrutor de mergulho e pais, ou solicitar testes psicológicos adicionais2.

A saber, a disfunção executiva ocorre principalmente em crianças com diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de déficit de atenção, autismo ou dislexia. Por exemplo, em uma criança com TDAH, funções executivas como: inibição de resposta, atenção sustentada, memória de trabalho, gerenciamento de tempo, iniciação de tarefas e comportamento orientado a objetivos são insuficientemente desenvolvidos. Portanto, o TDAH é uma contraindicação relativa para o mergulho com cilindro2. Agende um workshop de “mergulho” de flutuação através do [email protected]

Sugestões de leitura:

Vasconcellos, MB. Macedo FC. Drowning prevention using content: Attitudinal, procedural and conceptual. Vol. 3 No. 6 (2021) Latin American Journal of Development, Curitiba, v. 3, n. 6, p. 3741-3754, nov./dec. 2021.

Buwalda M, Querido AL, van Hulst RA. Children and diving, a guideline. Diving Hyperb Med. 2020 Dec 20;50(4):399-404.

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