As aulas de natação oferecem aos alunos a oportunidade de vivenciar experiências na piscina que podem ser transferidas para outros ambientes aquáticos. Mergulhar para observar peixes, tartarugas, corais, e contemplar a beleza dos mares e rios são apenas alguns dos benefícios que as noções de mergulho livre proporcionam.
O mergulho livre é a prática de imersão sem o uso de equipamentos que repõem o ar, como cilindros de mergulho. Durante as aulas de natação, essa prática de mergulho livre é conhecida por diferentes nomes entre alunos e professores, como: apneia dinâmica, submarino, homem no fundo do mar, nado submerso, mergulho de apneia, entre outros.
Para realizar um mergulho de apneia (sem respirar), o aluno precisa aprender a controlar a respiração debaixo d’água. Prender a respiração pode ser apavorante para algumas pessoas e requer tempo de adaptação. No entanto, na natação, os exercícios educativos podem ensinam o aluno a bloquear a respiração de forma controlada e a expirar pela boca quando necessário.
Atingir pequenas profundidades com o ar residual dos pulmões e saber retornar à superfície quando o ar estiver acabando para respirar novamente é um exercício de adaptação que faz parte desta aula. O aluno precisa ser ensinado a nunca esperar o ar “acabar” para tomar a decisão de subir. Deve sempre ter uma reserva para poder controlar a subida com tranquilidade e não de forma muito rápida e afetar os ouvidos ou até mesmo desmaiar.
O mergulho livre é uma técnica muito antiga usada para caça e hoje também pode ser feita por alguns adeptos do mergulho para diversão e lazer.
Que tal aprender a submergir?
O tempo embaixo d’água pode ser treinado para que o aluno possa aumentar gradativamente o tempo que consegue ficar submerso. O teste de aquacidade1 avalia:
- O tempo que um aluno iniciante consegue ficar embaixo d’água.
- Se ele consegue se deslocar no mergulho livre por alguns metros.
- Se consegue apanhar objetos no fundo da piscina.
Ao mensurar esses três itens, é possível acompanhar o desempenho no decorrer das aulas e se é seguro estimular que ele faça mergulho livre fora do ambiente controlado de piscina. Ao ensinar o aluno a controlar o bloqueio da respiração embaixo d’água, à medida que ele consegue ficar mais tempo no fundo, ele aumenta a possibilidade de interação com o ambiente submerso e passará a conhecer melhor o corpo na água.
Outra possibilidade de mergulho livre que pode ser ensinado nas aulas de natação é o mergulho com uso de snorkel (ou snorkeling). O snorkel é um equipamento vendido em lojas de esportes e pode ser introduzido na natação como diferencial para as aulas. O snorkeling é um tipo de mergulho em que o praticante pode ter o auxílio de equipamentos importantes: nadadeiras, máscara de mergulho, colete salva-vidas, roupa de neoprene e o snorkel – um tubo com 35 a 45cm de comprimento, que permite que o mergulhador colete o oxigênio da superfície enquanto está com o rosto submerso. A nadadeira, colete e a roupa de neoprene não são usadas em todos os casos de mergulho com snorkel.
O mergulho com snorkel na piscina pode ser introduzido com a seguinte sequência:
- Flutuar parado em decúbito ventral.
- Realizar deslocamento lento em decúbito ventral.
- Realizar braçada do nado cachorrinho em decúbito ventral e rosto na água.
- Realizar braçada de peito em decúbito ventral.
Após alguns minutos de adaptação o professor pode: Iniciar o uso da máscara e snorkel para flutuação parado em decúbito ventral.
Utilizar a máscara e snorkel para realizar flutuação com deslocamento lento em decúbito ventral.
Utilizar a máscara e snorkel para realizar deslocamento com braçada submersa.
- Fazer o aluno flutuar em decúbito ventral para apanhar objetos no fundo.
Assim, ao realizar a busca/observação de objetos no fundo, o aluno irá treinar a visão, deslocamento, controle da respiração com o equipamento e a subida/descida com snorkel. Toda vez que a pessoa afunda, o tubo do snorkel enche de água e por isso ao subir para superfície ele deve soprar o ar forte para retirar toda a água do tubo. É comum no início dos mergulhos o aluno sentir incômodo da máscara e dificuldade de respirar só pela boca. Às vezes, chega a engolir um pouco de água.
Após as adaptações, o aluno estará apto a desfrutar de momentos de observação da natureza aquática. Ademais, ele pode usar também um colete salva-vidas e ficar realizando apenas a flutuação com snorkel para observar as belezas aquáticas de cada ambiente. Esse tipo de “mergulho” de flutuação (boiando de barriga para baixo) ocorre com movimentos suaves de braços e pernas para não espantar os peixes e não se cansar.
Já o mergulho com equipamento de cilindro de oxigênio requer treinamento com profissional especializado. De fato, o mergulho com cilindro é um esporte seguro, mas requer boas funções executivas para poder antecipar situações inesperadas, por exemplo, um companheiro que se envolve em problemas por falha de equipamento. Como a capacidade de prestar atenção é a principal função executiva, testar a atenção do candidato a mergulho com cilindro deve ser uma parte essencial da liberação no exame médico para realizar um mergulho. Em caso de dúvida, o médico que for dar autorização para realizar o mergulho com equipamentos pode obter informações dos professores, instrutor de mergulho e pais, ou solicitar testes psicológicos adicionais2.
A saber, a disfunção executiva ocorre principalmente em crianças com diagnóstico de transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH), transtorno de déficit de atenção, autismo ou dislexia. Por exemplo, em uma criança com TDAH, funções executivas como: inibição de resposta, atenção sustentada, memória de trabalho, gerenciamento de tempo, iniciação de tarefas e comportamento orientado a objetivos são insuficientemente desenvolvidos. Portanto, o TDAH é uma contraindicação relativa para o mergulho com cilindro2. Agende um workshop de “mergulho” de flutuação através do [email protected]
Sugestões de leitura:
Vasconcellos, MB. Macedo FC. Drowning prevention using content: Attitudinal, procedural and conceptual. Vol. 3 No. 6 (2021) Latin American Journal of Development, Curitiba, v. 3, n. 6, p. 3741-3754, nov./dec. 2021.
Buwalda M, Querido AL, van Hulst RA. Children and diving, a guideline. Diving Hyperb Med. 2020 Dec 20;50(4):399-404.