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Natação e vivências de surf com segurança

Colunista: Marcelo Barros de Vasconcellos

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O surf brasileiro tem bons representantes no cenário mundial há décadas, conquistou títulos internacionais e recentemente a medalha de ouro nas olimpíadas de Tóquio 2020/21. Há um crescimento desta modalidade esportiva impulsionada pelos bons resultados e reflexo do melhor aproveitamento dos mais de 7 mil km de praias que o litoral do país possui.

Segundo matéria publicada no jornal o Globo, estão entre os maiores surfistas da história do Brasil, Adriano de Souza, Carlos Burle, Fabio Gouveia, Filipe Toledo, Flávio Padaratz, Gabriel Medina, Italo Ferreira, Pepê Lopes, Picuruta Salazar e Rico de Souza. Já entre as mulheres, Andrea Lopes, Andrea Moller, Brigitte Mayer, Chloé Calmon, Fernanda Guerra, Jacqueline Silva, Margot Rittcscher, Maya Gabeira, Silvana Lima e Tita Tavares. Como eles surfaram em épocas diferentes optou-se em colocá-los em ordem alfabética para que não tivessem comparações de quem é/foi o melhor surfista, sobretudo, porque a proposta é mostrar o quanto eles ainda contribuem para difundir um esporte que por décadas foi “marginalizado”.

Durante muito tempo, surfar estava restrito a pessoas que tinham acesso à praia, seja pela facilidade de morar perto da orla ou quando no período de férias na casa de praia. Outra limitação é em relação ao equipamento (prancha) que, além de ter um custo, requer logística de transporte no carro, ônibus ou bicicleta.  

Em relação a depender da praia para surfar, hoje existem praias artificiais, parques aquáticos com piscinas de onda, navios de cruzeiro também oferecem simuladores de ondas para vivenciar a prática do surf e até mesmo academias de natação que oferecem vivencias iniciais do esporte.

Já em relação ao equipamento, existe a possibilidade de alugar a prancha para vivenciar na praia, parque aquático, cruzeiro e assim se familiarizar com as marolas, situação caracterizada quando o mar está com ondas de até 1 metro de altura e fáceis de surfar.

Academias de natação não têm piscina de onda, mas são outra grande oportunidade de ofertar o surf para vivencias desta modalidade. Diversas academias oferecem oficinas de habilidades de surf mesmo quando elas não estejam localizadas próximas a praia.

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Já ministrei aulas de vivências de surf em academia que estava há 40km da praia. Os objetivos desta vivência eram: apresentar o esporte surf para pessoas que nunca o tinham vivenciado, oportunizar uma modalidade nova para o aluno, mudar a rotina de aulas de natação exclusiva ao ensino de nados, aumentar o repertório motor do aluno, trazer para dentro da academia de natação mais uma modalidade aquática e sobretudo, passar informações preventivas de como usar a praia ou piscina de onda de forma segura, sem risco de afogamento e outros acidentes.

A ideia de vivência de surf não é criar nas academias uma escolinha de surf e sim, oportunizar uma modalidade nova, além de “preparar” o aluno para que ele saiba como se comportar quando ele for vivenciar um dia no mar ou piscina de onda.

Relatos de experiências

A professora de natação Haylla Ferreira conta que sua primeira experiência com o surf foi aos 13 anos durante uma aula experimental, em uma escolinha no Recreio dos Bandeirantes. Lá o professor falou que ela levava jeito e ela percebeu que realmente queria surfar, pois havia adorado a experiência, no entanto, por falta de dinheiro ela não pode continuar. Além disso, ela diz que os anos foram passando e um amigo surfista ia com ela para praia e começou a ensiná-la de vez em quando, porém ela foi crescendo e paralelamente a responsabilidade de trabalhar, somada à falta de tempo, fizeram ela novamente não dar continuidade ao surf. Hoje, aos 27 anos, retornou para o surf como uma iniciante super empolgada separando um tempo para ela, priorizando aquilo que sempre quis fazer.

Surf é vida e traz inúmeros benefícios.

Haylla já tem uma afinidade com água no trabalho ao dar aula de natação e seu objetivo é poder dar continuidade nesse esporte aquático, que para ela é relaxante, calmante para mente e corpo, tanto no mar, quanto na piscina.

Segundo o surfista João Marcos Fernandes, muita gente, quando começa a pegar onda, com prancha, fica remando e não consegue entrar na onda no momento adequado. A dica dele é, para quem está começando a surfar, primeiro “pegar jacaré”, usar o próprio corpo para pegar onda para assimilar o tempo da onda.

Para o professor de surf Leandro Almeida é de fundamental importância para o aprendizado do aluno que ele use pranchas específicas para o seu tamanho, peso e que ele saiba nadar (tenha sua aquacidade desenvolvida) para que ele não se afogue e gere um trauma, especialmente, se for criança. Leandro reforça que o surf é benéfico para os componentes do condicionamento físico (flexibilidade, força muscular, resistência muscular, condicionamento aeróbico e composição corpórea) além de ser lúdico, prazeroso, possibilitar o contato com a natureza e cada vez que a pessoa surfa quer surfar mais. O professor finaliza dizendo que “a ascensão do surf brasileiro não é fruto só do talento dos atletas, mas existe a contribuição dos profissionais de Educação Física, que passaram a ser treinadores de atletas de surf”.

O professor Antonio Santos realiza em sua academia uma oficina de surf para apresentar a modalidade aos alunos e, além disso, apresenta noções de comportamento seguro na praia que engloba orientações sobre as correntes de retorno, características da praia, bandeiras de sinalização, conscientização dos pais e ensino para respeitar os limites. Ele reforça também a importância de quando for à praia sempre pedir a orientação dos guarda vidas, pois nadar na piscina é diferente de nadar no mar.

O surf é uma atividade prazerosa, mas tem seus riscos. Pesquisadores australianos1 destacam a prevalência de lesões na pele de surfistas relacionadas à prancha na região da: cabeça, rosto, pescoço e membros inferiores. Nesse sentido, é importante começar a atividade fora d’água com noções de segurança aquática especificas do surf.

Possibilidades de atividades fora d’água

  • Apresentar um pouco da história do esporte;
  • Mostrar as partes da prancha;
  • Explicar a importância de respeitar os banhistas;
  • Orientar sobre o respeito as pessoas que estão descendo na onda;
  • Aprender a conferir a prancha e a corda que prende na perna (Lech)
  • Orientar sobre a roupa adequada para surfar;
  • Mostrar onde passar a parafina para não escorregar;
  • Vivenciar diferentes posições dos braços para maior equilíbrio;
  • Explicar sobre condições de vento e ondas;
  • Mostrar o posicionamento de pés;
  • Vivenciar as formas de agachar lentamente em cima de um tapetão EVA;
  • Orientar sobre o local de entrar e sair no mar;
  • Explicar o que é uma corrente de retorno (vala) e o seu perigo

Vivenciar aulas com oficinas de outra modalidade pode ajudar o aluno a conhecer melhor o corpo no meio líquido2. A ideia é mostrar os fundamentos básicos, por exemplo, o quanto as pernas flexionadas podem dar mais base e equilíbrio quando estiver em cima da prancha.

Ao realizar a atividade dentro d’água os professores têm que ter um cuidado com as bordas, manter o aluno sempre acompanhado e na área central da piscina para evitar que o aluno caia e se machuque na borda. Além disso, a vivência de surf deve ser direcionada, apenas, para crianças que já tenham boa aquacidade, ou seja, já passaram da fase de adaptação3.

Ademais, para essa vivência, o ideal é a utilização de pranchões de material soft para evitar acidentes ou que eles se machuquem. As pranchas Softboard são pranchas “macias” (soft) fabricadas em bloco de poliestireno de alta densidade revestidas com espuma de polietileno de célula fechada (material semelhante ao que são revestidos os Bodyboards) que dificulta a infiltração de água além de ser macio para prevenção de acidentes.

Como muitos professores na academia não sabem ensinar o surf, é importante ter a parceria com escolas de surf ou com um professor externo (profissional que entende deste esporte) que possa fazer uma oficina de surf. Este profissional vai alertar sobre os riscos da prática da modalidade.

Possibilidades de vivências de atividades dentro d’água:

  • Remar na prancha;
  • Subir e descer na prancha;
  • Sentar-se na prancha;
  • Mudar de direção;
  • Furar a onda;
  • Realizar apneia para esperar a onda passar por cima;
  • Proteger a cabeça e rosto quando cair (mostrar os cuidados com a quilha).

Pesquisadores da Austrália4 mencionam que as atividades específicas realizadas durante o surf são únicas, com uma variedade de atividades (ou seja, remo, descanso, surfar na onda, prender a respiração e recuperação da prancha no surf). Além disso, as condições ambientais e das ondas também parecem influenciar as demandas físicas do surf de competição. É devido a essas demandas que os surfistas devem ter uma alta aptidão cardiorrespiratória, alta resistência muscular e considerável força e potência anaeróbia, principalmente na parte superior do tronco. Nesse sentido, o professor de Educação Física tem um papel fundamental para melhoria de cada componente do condicionamento físico.

O professor de Educação Física e surfista Luiz Martins “Luly”43, da academia Mobi Dick em Curitiba, conta que há anos trabalha com preparação física específica para surfistas, acompanhando atletas em competições nacionais e internacionais.

No passado, o surfista entendia que o condicionamento físico era adquirido somente na praia surfando, mas com o passar do tempo, com as manobras inovadoras ficando mais aéreas e mais fortes, foram necessários trabalhos fora da praia.

Assim, Luly começou a criar uma metodologia para trabalhar na Piscina, no Studio e no skate simulador (@surf_treino) a fim de manter os músculos do surf sempre ativos em seus alunos e atletas.

Independentemente do nível de condição física ou técnica em que o praticante se encontra, conseguimos fazer com que a cada aula ele consiga avançar na sua evolução.

Luiz ainda complementa que as aulas de surf na academia servem também para liberar o estresse, para o emagrecimento, correção postural, condicionamento cardiopulmonar, entre outros benefícios que o esporte proporciona. Luly finaliza dizendo que leva alunos para surfar em viagens internacionais (Peru, Costa Rica e El Salvador etc.) para ampliar o campo de visão e vivenciar a parte cultural do surf que engloba culinária local, arquitetura, idioma, clima, política, economia, amizade etc.

As pessoas percebem que o surf não é só ficar em pé na prancha, o surf está muito além disso.

Por fim, vale ressaltar o papel da Sobrasa, que vem investindo em cursos e palestras gratuitas para difundir técnicas de prevenção de afogamento e segurança no mar específicas para surfistas e professores que trabalham na área aquática. Nesse contexto, o site da Sobrasa pode ser um local de auxílio para pessoas terem mais informações sobre como agir de forma a ter o surf + seguro6.

  • Se você é aluno de natação, solicite ao seu professor para ele te ensinar alguns movimentos básicos do surf.
  • Se você é professor de natação, coloque no seu planejamento anual uma oficina de surf e ofereça aos seus alunos uma vivência desta modalidade aquática.
  • Se você é o gestor da academia, traga um professor de surf para realizar uma oficina e oportunizar os alunos uma vivência na sua academia. Verifique se existe demanda sazonal para essa modalidade.

Referências

  1. McArthur K, Jorgensen D, Climstein M, Furness J. Epidemiology of Acute Injuries in Surfing: Type, Location, Mechanism, Severity, and Incidence: A Systematic Review. Sports (Basel). 2020 Feb 20;8(2):25.
  2. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação e vivências do nado artístico. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 104, agosto de 2021. Disponível em: https://empresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/natacao-e-vivencias-do-nado-artistico/.
  3. Vasconcellos, Marcelo Barros. Natação + segura. Revista Empresário Fitness & Health. Edição 87, março de 2020 . Disponível em https://empresariofitness.com.br/atividades-aquaticas/natacao-segura/ 
  4. Farley OR, Abbiss CR, Sheppard JM. Performance Analysis of Surfing: A Review. Journal of Strength and Conditioning Research: January 2017 – Volume 31 – Issue 1 – p 260-271.
  5. Luiz Martins, “Luly” 43
  6. SOBRASA

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